As Misericórdias portuguesas associaram-se à Jornada Mundial da Juventude (JMJ), disponibilizando alojamento, refeições e momentos de interação com os utentes e a cultura local. Na senda do lema da Visitação, que norteia a sua ação e que foi tema desta edição da JMJ, as Misericórdias participaram em diferentes momentos de preparação, nos últimos meses e na semana do encontro com o Papa Francisco, de 1 a 6 de agosto, em Lisboa.
Depois da peregrinação nacional dos símbolos, que mobilizou milhares de pessoas das instituições sociais e da comunidade, foram várias as Misericórdias que receberam grupos de jovens, integrados localmente nos Comités Organizadores Paroquiais (COP) ou vindos de outros pontos do país e do mundo, nos dias que antecederam a semana do encontro.
Amadora, Oeiras, Cascais, Sintra, Aldeia Galega da Merceana, Ericeira, Sobral de Monte Agraço, Vila Franca de Xira, Torres Vedras, Venda do Pinheiro, Almeirim e Pernes foram algumas das Santas Casas, na região de Lisboa e Vale do Tejo, que participaram neste acontecimento, seja através da oferta de alojamento, transportes e refeições, seja através da promoção de momentos de oração nas igrejas e de interação com os utentes nos lares.
Em Cascais, concelho com grande procura entre os peregrinos, a Santa Casa acolheu perto de mil jovens, em três equipamentos de infância, encerrados por motivo de férias escolares. “Quisemos associar-nos desde o início”, assumiu a provedora Isabel Miguens.
Na vizinha Oeiras, a Misericórdia disponibilizou-se para receber mais de 500 jovens nos centros de dia e infantários e para fornecer diariamente 300 almoços e 300 jantares, numa operação logística complexa que exigiu a adaptação dos espaços e reorganização das equipas.
A par das refeições – 100 almoços diários – a Santa Casa da Ericeira colaborou localmente nos transportes (Ericeira e Carvoeira) e em “celebrações diárias na igreja”, partilhou com o VM o provedor João Gil, que a título particular se inscreveu como família de acolhimento.
O tempo de preparação espiritual para a Jornada Mundial da Juventude começou meses antes da chegada do Papa Francisco a Portugal e gerou frenesim e entusiasmo entre os jovens, adultos e idosos envolvidos, mesmo nos territórios mais despovoados. “Em dioceses grandes ou dioceses pequenas, quer em territórios com muita gente ou pouca gente, a capacidade de resposta foi muito similar, muito positiva, muito barulhenta, muito empenhada, mesmo em ambientes que nós, porventura, podíamos julgar que não”, relatou o bispo Américo Aguiar, presidente da Fundação JMJ Lisboa 2023, a dois meses do encontro.
Por todo o país, multiplicaram-se os relatos de “profunda partilha intergeracional”, conforme referiu a Santa Casa de Venda do Pinheiro em nota enviada, e de renovação da fé e afetos, que transformaram vilas envelhecidas e cidades solitárias em lugares cheios de vida.
“As atividades que trazem a juventude para dentro dos lares são sempre bem-vindas e temos um grande número de utentes católicos, para quem isto faz muito sentido e que ficou motivado por participar num acontecimento com esta visibilidade”, admitiu Sónia Daniel, diretora técnica do Lar Nossa Senhora da Misericórdia, em Torres Vedras, comentando a atividade ‘Gesto missionário’, que trouxe música, orações e conversas animadas para dentro dos lares.
“Estamos a dar o nosso tempo para que estas pessoas, que não podem ir até Lisboa, possam experienciar a jornada da melhor forma”, referiu Tiago Moura, chefe de equipa de voluntários paroquiais de Paço de Arcos, durante a visita ao centro de dia de São Vicente de Paulo, da Misericórdia de Oeiras, que o VM acompanhou a 28 de julho.
O momento simbólico de inscrever numa pulseira o nome das pessoas visitadas transformou-se numa experiência rica em emoções e partilha de memórias para todos os que percorreram o “caminho da proximidade e do encontro”, lembrado pelo Papa Francisco, na sua mensagem para a JMJ Lisboa. “Sabe, nós somos todos jovens, de uma forma ou de outra. Somos sempre jovens, dentro das nossas limitações”, confidenciou-nos Ana Rosa Fernandes, utente de 84 anos, deixando outra lição de vida, na forma de um ditado: “Aprendemos até morrer”.
Sob o pretexto de trocar pulseiras e levar a mensagem da JMJ aos mais vulneráveis, a experiência uniu pessoas de todas as idades numa lição com diferentes leituras. Para o voluntário Fernando Pimentel, “estes encontros são mais significativos que missas com 20 mil pessoas. É um refrescamento das raízes, do que é mais verdadeiro em nós e, por essa razão, pode ser transformador”, refletiu.
No final da manhã de oração, música e convívio, a mudança de postura e disposição dos utentes evidenciava o poder transformador deste tipo de gestos, que chegaram também a Vila Franca de Xira, Salvaterra de Magos, Sobral de Monte Agraço e Almeirim, com “momentos únicos e muitos especiais”, conforme nota informativa desta última.
O que vai ficar
depois da JMJ?
Após o turbilhão de emoções vivido, as Santas Casas defenderam a continuidade das ações no terreno e a concretização efetiva do diálogo e proximidade entre gerações, preconizados por Francisco, para a construção de uma nova humanidade. A provedora Carla Pereira, da Misericórdia de Aldeia Galega da Merceana, fez o apelo ao voluntariado de longo prazo, após receber um grupo de jovens em três equipamentos de infância e terceira idade.
Em Pernes, uma das voluntárias do Comité Organizador Paroquial e estagiária (área de desporto, saúde e bem-estar) nos lares da Misericórdia, partilhou com o VM a sua vontade em dar continuidade à “ligação entre as pessoas e os grupos criados, no âmbito da JMJ”. Para Maria Inês Leal, os cinco minutos que dedica a cada um dos utentes, a ler uma oração ou a conversar, “fazem a diferença na vida deles” e, por essa razão, acredita que este “tempo de preparação não acaba aqui e vai continuar este caminho com mais força, mais oração e mais atividades com a comunidade e os idosos do lar”. A par dos encontros nos três lares, no âmbito do ‘Gesto Missionário’, a Santa Casa apoiou cerca de 400 peregrinos, da iniciativa ‘Anda com Maria’, que rumavam a Lisboa, na manhã de 28 de julho.
Momentos únicos de fraternidade e emoções fortes, que marcaram os ‘Dias nas Dioceses’ em todo o país e ampliaram horizontes, num mosaico de cor e alegria sem precedentes. Lisboa foi a primeira cidade portuguesa a acolher uma edição internacional da JMJ, que reuniu centenas de milhares de jovens de todo o mundo, durante cerca de uma semana.