As vozes de 140 jovens, padres e irmãos missionários da Consolata, que estiveram em Portugal para participar na Jornada Mundial da Juventude (JMJ), ouvem-se a quilómetros de distância durante a visita ao bairro do Zambujal, na Amadora. Trouxeram uma mensagem de esperança e solicitude e a vontade de mudar o mundo. São as vozes de 20 países, espalhados por três continentes, e foram acolhidos na Escola Luís Madureira, da Misericórdia da Amadora, durante uma semana.
“Somos missionários da Consolata e temos esta parceria do coração com a Misericórdia há muitos anos. No Zambujal, temos esta comunidade [missionários residentes e Centro Consolação e Vida], que é a nossa presença em Portugal com os pobres”, explicou o padre Simão Pedro, enquadrando a ligação às instituições e população local. Nestes dias, estava responsável por coordenar os grupos vindos dos Estados Unidos da América, Brasil, Venezuela, Colômbia, Argentina, Congo, Quénia, Moçambique e outros países, que traduziram em ações concretas a mensagem de inclusão do Papa Francisco, proferida no decorrer da JMJ: "Na Igreja há espaço para todos, todos, todos”.
Na manhã de 2 de agosto, Ana, Adriana, Beatriz, Valentina, Janusa, Adolphe, Anaisa, Emma e Pasquita partiram ao encontro dos habitantes do bairro do Zambujal, com a alegria e a juventude na voz. E todos ouviram e responderam com acenos das janelas.
Delfina Costa, cabo-verdiana a residir em Portugal há 25 anos e no bairro há oito, veio saudar-nos de perto e juntou-se à multidão que espalhava cor e alegria nas ruas cinzentas. “Eu sou católica e já estive na Amadora a carregar a cruz [peregrina], gostei da visita”, conta efusiva enquanto faz ondular a bandeira do país de origem.
Uma das mais entusiastas entre o mar de gente é Valentina Ochoa, de 23 anos, carrega o mastro da bandeira amarela, azul e vermelha. “Somos da Colômbia”, apresenta-se a jovem, numa pausa entre hinos e canções. “Nós, jovens, temos uma grande responsabilidade sobre a fé e podemos mostrar às nações que a perderam como é bonito vir aqui partilhá-la com todo o mundo”. Ao lado, segue o compatriota Carlos Ballagera, 28 anos, com um ukulele (instrumento musical de cordas) na mão, que que faz da música a sua forma de rezar.
“Eles são 140, mas equivalem a 300. Os mais divertidos são os colombianos e argentinos”, brinca Manuel Girão, diretor geral da Misericórdia da Amadora, que se confessa deslumbrado com a “alegria que isto trouxe a um país envelhecido e muito cinzento”.
Por estes dias, o quartel general das operações, a funcionar na Escola Luís Madureira, assegura 1200 refeições diárias a peregrinos alojados no concelho. “Somos 20 no total, tudo pessoal da casa, da logística, cozinha, escola, comunicação e o próprio diretor geral, que é o primeiro a dar a cara”, explica Paulo Calvino, responsável pela comunicação e imagem da Santa Casa.
A preparação deste encontro mundial começou em 2021, quando estava previsto realizar a JMJ em 2022. “Em 2021, pediram-nos para fazer a ponte entre as instituições sociais e a restauração. Depois foi adiado para 2023. Mas, mais intensamente, foi desde outubro de 2022, quando tivemos a reunião da rede de alimentação, na sede da JMJ”, detalhou Manuel Girão.
As camaratas foram montadas no ginásio e no edifício de 2º e 3º ciclos. “As raparigas têm quatro quartos e os rapazes dormem no ginásio, todos em sacos cama e colchões”, contou Adriana Ramalho, 18 anos, que veio de Braga, com vontade de conhecer novas pessoas e culturas. A expetativa em relação aos dias que se seguem é partilhada com Ana Sá, conterrânea de 21 anos, que considera “arrepiante ver como a fé, que não se vê nem toca, une tantas línguas e países diferentes. Podemos nunca mais nos ver, mas trocamos bandeiras e todos nos entendemos. É lindo”.
O mundo está em Lisboa, por estes dias, e cabe dentro de uma escola como a Luís Madureira. Aqui as crianças e os idosos convivem no dia a dia e sabem que as portas estão abertas a uma diferença que começa na idade, mas vai além disso.
O lema do acolhimento, que deu nome à campanha de comunicação nas redes sociais durante esta semana (O Mundo numa Escola), ganha novo ênfase com as crianças do ATL, jovens e idosos do lar juntos, no recreio da escola, a partilhar canções em diferentes idiomas. Os que não cantam, acompanham com palmas, sorrisos e olhares atentos.
Para muitos era uma estreia a vários níveis. “Somos missionárias da Consolata, esta é a nossa primeira Jornada Mundial da Juventude”, revelaram Emma e Pasquita, irmãs da congregação, vindas da Argentina e Brasil (Amazónia), sob o sol abrasador de agosto.
Numa escala local, estes jovens movidos pela fé, ânsia de conhecer outras culturas e viver uma experiência única colocaram em diálogo diferentes formas de viver a fé e pensar o mundo. Independentemente das convicções de cada um, é impossível ficar indiferentes à sua passagem. “Todos vão ouvir a nossa voz/Levantemos os braços, há pressa no ar/Jesus vive e não nos deixa sós/Não mais deixaremos de amar”, cantam em uníssono.
Voz das Misericórdias, Ana Cargaleiro de Freitas
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