Ali, no mesmo lugar onde há 500 era o Terreiro da Sé, à beira do rio Coura, que, no século XVIII (1727), se deu início à construção do “Hospital Novo”, exatamente onde hoje está o Teatro Ribeiro Conceição.
Dados e curiosidades históricas que o provedor, António Marques Luís, não quis deixar cair no esquecimento perante todos os que se juntaram para prestigiar a instituição, desde o presidente da União das Misericórdias de Portuguesas, Manuel de Lemos, ao assessor do presidente da República para a área da saúde, Mário Pinto, às entidades mais locais e distritais como a diretora do Centro Distrital de Viseu do Instituto de Segurança Social, Márcia Martins, o presidente da Câmara de Lamego, Ângelo Moura, e o bispo da diocese de Lamego, D. António Couto, que abriu a cerimónia com uma Oração de Sapiência.
Aos restantes convidados não faltaram agradecimentos pelo trabalho e colaboração feita até aqui, palavras de incentivo para continuar, reconhecimento pelo bem prestado à sociedade, mas também não ficaram por fazer alguns pedidos, na voz do provedor de Lamego, para que a Misericórdia “continue a prestar cuidados de qualidade, acompanhada de sustentabilidade económico financeira”.
“Temos um projeto em desenvolvimento, que consiste na requalificação da estrutura residencial para idosos de Arneirós e, se há 3 anos dissemos que queríamos iniciar esta obra, hoje afirmamos que a queremos ainda terminar este ano, de modo a dotar esta valência de condições físicas de excelência, nomeadamente no acompanhamento dos nossos utentes com problemas de demência, um problema de saúde pública grave, porque de grande prevalência e de grande repercussão no utente e na sua família”, defendeu o provedor.
António Marques Luís considerou que “não é mais aceitável que não se continue a dar uma muito particular atenção a este tipo de utentes e por isso esta valência ir-se-á diferenciar, numa parte da sua estrutura física, e no conjunto de profissionais e de atividades, para o acompanhamento adequado desses utentes”.
A obra de reestruturação tem, segundo o provedor, um investimento de cerca de 1,5 milhão de euros, “o esforço maior alguma vez feito por esta instituição e até ao momento só apoiado pelo Fundo Rainha D. Leonor, em cerca de 300 mil euros”.
Neste sentido, o provedor aproveitou as diversas entidades para apelar ao contributo, já que a obra a levar a cabo é realizada “em nome de uma política de revalorização das valências” da instituição lamecense, “de modo a adaptá-las às exigências de uma prestação de cuidados com modernidade, qualidade e humanização”.
Ao presidente da Câmara de Lamego, o provedor da Santa Casa sentiu “obrigação de solicitar ao executivo” lamecense que “continue a definir claramente as estratégias necessárias ao desenvolvimento de uma política interventiva, participada e integrada de ação social no concelho, incentivando que essa discussão se faça no sentido de se encontrar uma articulação e complementaridade entre as várias IPSS e não se permitindo que a competição entre IPSS sirva, não para uma mais qualificada e mais diversificada atividade assistencial, mas sim para uma luta desenfreada na procura de utentes com a consequente repercussão na qualidade dos cuidados prestados”.
Ao longo da sua intervenção, António Marques Luís foi vincando as necessidades dos lamecenses mais desprotegidos que acabam por ser as pessoas a quem a Misericórdia presta os seus cuidados e, também por isso, o provedor aproveitou para citar o ministro do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social no encontro em que esteve da União das Misericórdias.
“Como o senhor ministro afirmou, a relação entre o Estado e as Misericórdias é própria, original e distinta de outras parcerias e trata-se de uma relação de cooperação, com mobilização combinada de recursos, e não é subcontratação nem concessão, é prestação de serviços com financiamento aos utentes a quem ele é prestado”, lembrou.
Neste sentido, o provedor defendeu que “é fundamental, repensar modelos de financiamento e conciliar num triangulo virtuoso: financiamento público, responsabilidade das famílias e sustentabilidade, avaliando os custos reais de cada resposta social, diferenciando os apoios de acordo com a natureza das respostas”.
“É urgente, avaliar os custos reais de cada resposta social e financiá-las de acordo com esses custos, tratando de forma distinta o que não é igual. É imperioso fazê-lo e com urgência. Amanhã pode ser tarde, para muitas instituições”, apelou.
“Temos todos que nos empenhar em que a relação entre o Estado e as Misericórdias seja económica, financeira, social e politicamente estável”, concluiu António Marques Luís durante a sessão que inaugurou a comemoração dos 500 anos da Misericórdia de Lamego.
Voz das Misericórdias, Isabel Marques Nogueira