É ao som da música "O melhor de mim", da fadista Mariza, que começa mais uma sessão do ‘Ora Bolas Prá Idade’, um projeto da Misericórdia do Louriçal, no concelho de Pombal, que junta a percussão e o fitness, com o objetivo de estimular o sistema cardiorrespiratório, mas também conciliar o ritmo, a coordenação e a mobilidade em ambiente divertido.

E as palavras cantadas por Mariza não podiam ser mais acertadas para o que se passará ao longo da sessão, em que cada um dará o melhor de si, trabalhando "ao ritmo que o corpo permite", como dirá, no final, Rosa Venâncio, uma das quatro beneficiárias do serviço de apoio domiciliário (SAD) que, no passado dia 22, se juntaram aos utentes da ERPI e do centro de dia, para mais atividade de 'cardio drumming' (bateria cardio).

"É também uma oportunidade de reencontros", realça Rita Leitão, animadora social, momentos antes do início da sessão, que decorre na sala de atividades da instituição. Sentados em frente a bolas de pilates e munidos de baquetas ou de pequenos canos, os utentes prepararam-se para o aquecimento. Do lado de fora, Félix, o gato da instituição, também já tomou o seu lugar, aproveitando a porta aberta da carrinha do SAD, para se instalar no banco de trás, de onde assistirá ao espetáculo, do princípio ao fim.

Embalados pela música de Mariza, os utentes começam o aquecimento, sob orientação da fisioterapeuta Eva Marques. "Ombros para trás, ombros para a frente. Agora, encham o peito de ar. Inspirar e expirar. Não se esqueçam de fazer a respiração", indica a técnica, exemplificando cada um dos exercícios.

Já com o aquecimento feito, é a voz de Amália Rodrigues que entra na sala, cantando ‘Oiça lá ó senhor vinho’. Os utentes acompanham o ritmo, batendo com as baquetas nas bolas de pilates, ao mesmo tempo que mexem os pés, de forma alternada. "Qualquer dia, fazem isto de pé", desafia Eva Marques. "Só se trouxer uma bulldozer para nos levantar", atira, prontamente, Conceição Carraco, de 84 anos, provocando o riso na sala.

O exercício seguinte segue também ao som de Amália, agora ao ritmo do fado ‘Valentim’. "Um, dois, três, quatro", exemplifica Rita Leitão, batendo com as baquetas uma na outra. Os utentes entram no ritmo e procuram acertar na coordenação, mesmo aqueles que estão em cadeira de rodas, como é o caso de Augusta Monteiro, de 88 anos, que, apesar das limitações e das "dores", faz questão de participar. "Faço o que posso. Vou atrás dos outros. Sempre me mexo um pouco e gosto muito do convívio. Ajuda a espairecer", diz a utente, que também aprecia a música. "Quando são cantigas do meu tempo, como a Amália, canto."

"Vem aí uma mais mexida, a mais rápida de todas. Respirem que vai doer", avisa Rita Leitão, que seleciona na playlist preparada para a sessão a música ‘Fon-fon-fon’, dos Deolinda. Mas os participantes não se intimidam e acompanham, de forma coordenada, o ritmo da música. "Já temos o almoço quase ganho", brinca Conceição Carraco, já com a sessão a chegar ao fim. Faltam apenas os alongamentos finais e os exercícios de respiração. "Relaxem. Queremos que os batimentos vão desacelerando", especifica a fisioterapeuta.

A sessão termina tal como começou ao som de Mariza, agora com a canção ‘Rosa Branca’, com o exercício final a replicar o último verso da música - "ponha a rosa ao peito" -, com os utentes a entrelaçar os braços sobre o peito. Afinal, ainda não terminou, diz Rita Leitão, a quem os utentes pediram uns momentos para apresentarem "uma surpresa" que prepararam para o VM.

É José Augusto, antigo guarda-rios e agora utente do centro de dia, que comanda as hostes, abrindo um espaço a meio da sala. À sua volta, juntam-se as 'cantadeiras' do grupo que o acompanham, cantando um conjunto de quadras que fizeram para a última festa de Natal da instituição - como "agradecimento a todos os colaboradores", sem esquecer os mesários e os irmãos -, mas que "são sempre atuais".  "A nossa casa é este lar que existe no Louriçal/ Não será o melhor do mundo, mas de certo o melhor de Pombal", diz uma das estrofes. "Aqui, somos a tal família alargada, com tantos irmãos nossos", reforça José Augusto, depois de terminada a música.

Ao lado, Conceição Carraco, utente do centro de dia há 15 anos, acena com a cabeça, em sinal de aprovação do que acaba de ouvir. "Os meus piores dias são o sábado e domingo, porque não venho aqui", diz, confessando que, no início, não queria integrar a valência, mas que agora a Misericórdia passou a ser também parte da família. "De dia, estou aqui. Ao final da tarde, volto a casa, onde tenho a minha horta e a companhia do meu filho e da minha nora."

"Para a semana há mais", promete Rita Leitão, que, já com a sala vazia, conta ao VM que o projeto surgiu há dois anos, com o objetivo de trabalhar coordenação motora, ritmo, concentração, capacidade repetitiva, audição, sentido acústico e, não menos importante, socialização. "Também procuramos estimular o espírito crítico, desafiando os utentes a proporem músicas ou temas", acrescenta a animadora, assegurando que há melhorias físicas e também psicológicas, com a redução do risco de depressão.

 

Voz das Misericórdias, Maria Anabela Silva