A 13 de maio de 1936, numa pequena aldeia do concelho de Vinhais, nasceu Alfredo Castanheira Pinto. Este é o nome de um homem por detrás de uma das maiores Misericórdias do distrito de Bragança e do provedor mais antigo em funções no país, há 50 anos ligado à causa social, não só em nome da Santa Casa da Misericórdia de Macedo de Cavaleiros, mas de toda a cidade transmontana.

“Inspirador. Humano. Amigo. Dedicado. Trabalhador”. Foram alguns dos infindáveis adjetivos que abriram a cerimónia do aniversário dos 50 anos de Alfredo Castanheira Pinto, ao serviço da Misericórdia de Macedo de Cavaleiros.

Com um auditório repleto de amigos, familiares, funcionários da Santa Casa da Misericórdia, provedores de toda a região, políticos e representantes de outras Misericórdias e instituições de solidariedade social (IPSS), o dia 17 de dezembro ficou marcado com uma homenagem sentida ao trabalho de um homem que “abdicou de si em prol de Macedo de Cavaleiros”.

“Castanheira Pinto percebeu melhor do que ninguém que há outros serviços que trabalham em prol dos mais carenciados, que não apenas as Misericórdias, e conseguiu sempre fazer uma ponte entre a Santa Casa e outras IPSS. Isso é de louvar e Macedo de Cavaleiros não pode esquecer a obra social deste homem”, disse o padre Lino Maia, presidente da Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade (CNIS), aquando do seu discurso de homenagem ao provedor macedense.

Com mais de oito décadas de vida, o decano dos provedores tem vindo a somar louvores, medalhas e menções honrosas. Um visionário da causa social, foi até agraciado com o grau de Comendador da Ordem de Mérito, em 2015, pelo então Presidente da República, Cavaco Silva. Além disso, a União das Misericórdias Portuguesas (UMP) atribuiu-lhe, em 2007, a Medalha de Mérito e Dedicação.

Dentro das inúmeras causas que abraçou e representou, foi o fundador e primeiro presidente da União das IPSS do distrito de Bragança (UIPSSDB). No que à Misericórdia de Macedo de Cavaleiros diz respeito, quando tomou posse, em 1972, a única valência que a Misericórdia tinha era o hospital e, sob a sua égide, o hospital foi nacionalizado.

Fez ainda nascer um lar na cidade macedense e outro na aldeia do Lombo, reconhecendo a necessidade de apoiar a terceira idade, num concelho onde o envelhecimento da população não tem tendência a baixar.

“Estamos a falar de uma pessoa que começou a dedicar-se à causa pública em Macedo de Cavaleiros ainda antes do 25 de Abril. É uma figura nacional”, sublinhou Benjamim Rodrigues, presidente da Câmara Municipal de Macedo de Cavaleiros.

O autarca macedense enalteceu, ainda, as inúmeras qualidades pessoais e sociais de Castanheira Pinto, nomeadamente os princípios de “proteger os desfavorecidos e o confortar os utentes”.

Perante um currículo social infindável, que após meio século chegou agora ao fim, Manuel de Lemos, presidente da UMP, fala “com o coração”, quando o assunto é o “decano dos provedores”.

“A presença e a prontidão do provedor Castanheira Pinto é notável quando falamos em solidariedade. Sempre foi um homem que nos transmitiu segurança e estabilidade, só de sabermos que ele estava presente. Ele tem a capacidade de tornar muito melhor tudo o que o rodeia e, em parte, temos de agradecer à retaguarda familiar que teve e tem”, disse o responsável.

No final do discurso de homenagem, Manuel de Lemos ofereceu a Castanheira Pinto, em nome da UMP, uma reprodução única de Nossa Senhora das Misericórdias.

Naquela manhã inteiramente dedicada à homenagem ao rosto da Santa Casa da Misericórdia de Macedo de Cavaleiros, os elogios à família multiplicaram-se.

Apesar de a dedicação à comunidade lhe ter subtraído tempo à vida privada, Castanheira Pinto nunca escondeu a admiração pela esposa, admiração essa herdada agora pelos filhos.

“O percurso do nosso pai, que tanto nos orgulha, só é possível graças à nossa mãe. Ele sempre soube que estava garantida a salvaguarda e a melhor educação para os filhos”, disse Fernando Castanheira Pinto, o filho primogénito.

Maria de Belém Roseira, ex-ministra que também desempenhou as funções de presidente da Mesa da Assembleia Geral da UMP, e José Maria Peixoto, presidente da Mesa da Assembleia Geral da Misericórdia de Macedo, também marcaram presença na homenagem, juntando-se assim ao coro de elogios dedicados a Castanheira Pinto.

No final, Castanheira Pinto, com a voz trémula e cansada, fruto da idade e de uma longa vida de trabalho, sentiu-se “chocado” perante tantas manifestações de carinho.

“Estou chocado. Eu trabalhei sempre para as pessoas e desinteressadamente, não trabalhei para homenagens. Trabalhei no sentido de fazer tudo aquilo que devia fazer, não me pesa a consciência de ter prejudicado nem de ter feito mal a ninguém”, disse emotivamente.

Agora “é tempo de descansar”, depois de meio século à frente de uma instituição, de uma missão e do bem-estar dos outros.

Na manhã daquele dia 17 de dezembro foram também inauguradas as obras financiadas pelo Fundo Rainha Dona Leonor, na Misericórdia de Macedo de Cavaleiros, que contemplaram obras de restauro em algumas das principais salas da instituição.

 

Voz das Misericórdias, Daniela Parente