O desenvolvimento da Maia e das suas gentes sempre foi uma preocupação da Misericórdia da Maia. Como explica Susana Tiago, responsável pela empresa, foi em 2004, através de um conceito que tinha por base “o território, o seu património edificado, material, imaterial e as suas gentes”. Daí surge a ideia de criar uma empresa de coesão social e territorial ao invés de uma empresa que tivesse “como finalidade o lucro”.
A partir de então foram tidas várias ideias para que nada que fosse criado fosse “igual aos demais” e fosse capaz de ir ao encontro da sustentabilidade ambiental. Finalmente, em 2015, a Fábrica de Chá Gorreana manifesta a sua intenção em acrescentar aos seus chás preto e verde plantas aromáticas e medicinais.
“Nós gostámos da ideia, era aquilo que queríamos”, afirma Susana Tiago. Assim, concorreram ao mercado social de emprego da Direção Regional de Emprego e Qualificação Profissional em 2015. A candidatura foi aprovada e em julho de 2016 receberam um financiamento de 47 mil euros, quantia usada para contratar dois funcionários e pagar-lhes durante dois anos.
Estes dois funcionários trabalham na “parte agrícola da empresa” e, de acordo com a responsável pelo projeto, “são pessoas que não teriam emprego no mercado dito ‘normal’. Para além disso, [a empresa] tem-me a mim, que sou antropóloga. Também tem a minha colega que é monitora de inserção social e a ajuda de um engenheiro da Cresaçor, que é uma cooperativa de economia solidária”, que colabora com a Três Pontas através da preparação dos funcionários que trabalham na terra. “Costuma cá vir praticamente todas as semanas e vai dando formação aos senhores que trabalham aqui”.
O sucesso que esta empresa de inserção social tem tido deve-se não só a todos os colaboradores, mas também à Misericórdia da Maia, que tem apostado cada vez mais neste negócio cujo objetivo é crescer. Ainda há muito terreno por cultivar e a previsão é “aumentar ainda mais a produção” que, por agora, é composta por várias plantas e hortícolas, sendo a plantação mais emblemática a menta-chocolate, vendida à Fábrica de Chá Gorreana. No entanto, já existe uma pequena produção de ervas como cidreira e poejo. No futuro, Susana Tiago crê que conseguirão crescer cada vez mais, expondo a possibilidade de utilizar estas plantas em outras coisas: “licores, sabonetes e saquinhos de cheiro”.
Tudo isto “faria com que pudéssemos desenvolver esta zona”, criando mais postos de trabalho. Mas, afirma a antropóloga, é necessário percorrer este caminho com calma, já que o objetivo é perdurar a vida da Três Pontas e os investimentos feitos nos últimos tempos não permitem aumentar para já a produção.
Os produtos hortícolas produzidos nas estufas começam também a ganhar clientes. Alface, tomate, feijão, courgette ou pepino são alimentos vendidos a nível local, procurados por serem biológicos, sendo esta a característica principal de toda a produção, que já se encontra no processo de transição para obter a certificação biológica pela SGS (Société Générale de Surveillance).
Também os dois funcionários, João Pacheco e José Medeiros, testemunham o sucesso que a agricultura biológica tem nos seus produtos. Nos seus quintais passaram a não usar químicos e a aproveitar os produtos naturais para adubo e compostagem, tal qual aprenderam com a Cresaçor.
Nos próximos tempos a quantidade de funcionários e produção é para se manter, mas o sonho de Susana Tiago e da Santa Casa da Misericórdia do Divino Espírito Santo da Maia é aumentar estes números. “Queremos que isto dê certo”, por isso têm investido “no desidratador e no embalamento” dos produtos. Todo este trabalho é tido para que “a Maia possa ter retorno no futuro”.
Voz das Misericórdias, Linda Luz