O Voz das Misericórdias (VM) esteve em Mortágua, a 14 de outubro, véspera da data festiva. Para o efeito, foi concebida uma peça de teatro original ‘Memórias em cena: uma viagem de 117 anos’, pela companhia Caixa de Palco, que, de forma clara, concisa e original, apresentou uma viagem pela história da Santa Casa. Dos visionários e fundadores aos beneméritos e benfeitores, chegando aos profissionais que hoje vestem a “bata” diariamente e que perpetuam o legado desta instituição centenária. A mesma peça foi apresentada em Anadia, Penacova, Cantanhede, Pampilhosa e, naturalmente, na Mealhada.
“Aconteça o que acontecer, a Misericórdia continua”. As palavras são de Nuno Castela Canilho, vice-provedor, que explicou ao VM a decisão de descentralizar o aniversário. “Na prática, o que procurámos foi ir ao encontro das comunidades onde estão os nossos principais clientes, em especial do hospital”, afirmou, acrescentando que, “se durante todo o tempo estamos nós, na Mealhada, a acolher as pessoas, desta vez, somos nós que vamos à comunidade das pessoas que nos preferem, para agradecer”, rematou. O agradecimento fez-se com um apontamento cultural. “Escolhemos uma companhia de qualidade (Caixa de Palco), que produziu uma peça de teatro original que retrata um pouco dos 117 anos da instituição”, disse o vice-provedor.
Com mais de um século de vida, a instituição cresceu, adaptou-se, inovou e, acima de tudo, afirmou-se como uma referência na região. Para Nuno Castela Canilho, ao longo dos tempos a mudança foi acontecendo. “Como vimos na peça, a Santa Casa e, em concreto, o seu hospital, nasce por opção de um benemérito que se mostrou disponível para ser patrono da construção do hospital, desde que este fosse gerido por uma Misericórdia”, recordou.
Falamos de Maria José Barata e Silva, conimbricense que havia prometido ao médico e amigo, António Augusto da Costa Simões, o financiamento da obra. Assim nasce, a 15 de outubro de 1906, a então Irmandade da Santa Casa da Misericórdia, sob a invocação da Senhora Sant’Ana da vila e concelho da Mealhada.
Dois meses antes, a 12 de agosto de 1906, era inaugurado o Hospital de Santa Maria. O seu impulsionador, António Augusto da Costa Simões, que era reitor da Universidade de Coimbra, faleceu antes de ver a obra concretizada, em 1903.
Desenvolvendo um importante serviço à população, o hospital recebeu obras de ampliação, beneficiação e, mais tarde, haveria de ser construído um novo edifício. À semelhança do que aconteceu com outros equipamentos pelo país, o Estado português chamou a si a gestão do hospital da Mealhada. Deixou que o mesmo paralisasse, em definitivo, em 1980, e acabaria por o devolver em 1999, num estado lastimável. Cumpria-se, novamente, o desejo dos seus benfeitores e desde então que a gestão não mais deixou as mãos da Misericórdia que, em 2006, por ocasião do centenário, apresentou o edifício requalificado.
Para o futuro, a Misericórdia da Mealhada tem como objetivo a construção de um novo complexo social, que permitirá reunir as duas unidades de ERPI atualmente existentes. Depois desta fase e aproveitando o espaço que será libertado, pretende-se ampliar o hospital. “Não podemos avançar com uma obra sem que a primeira esteja concluída”, explicou o vice-provedor. Há ainda o “sonho” de fazer nascer junto ao hospital uma unidade de cuidados continuados vocacionada para demências. “Consideramos fundamental a existência de respostas com estímulos e estratégias adaptadas ao doente”, concluiu.
Voz das Misericórdias, Vera Campos