Custou cerca de um milhão e duzentos mil euros (incluindo equipamentos) a requalificação de um edifício que fazia parte do património da Misericórdia da Mêda e que estava desabitado há vários anos. Construído nos anos oitenta do século XX, o edifício que já funcionou como lar de idosos foi agora recuperado e para o efeito contou com o apoio de 300 mil euros do Fundo Rainha Dona Leonor.
O novo lar de idosos, situado no centro da cidade da Mêda, tem capacidade para 40 utentes. Serão os idosos mais autónomos os que se irão mudar para a nova casa, uma mudança que ainda não está agendada, mas, ao que nos foi dito, poderá acontecer antes do final do verão.
A obra foi inaugurada no passado dia 15 de julho, numa cerimónia que contou com a presença de Inês Dentinho, do Fundo Rainha Dona Leonor (FRDL), e de Paulo Gravato, vogal do Secretariado Nacional da União das Misericórdias Portuguesas e provedor da Misericórdia de Vagos.
Na ocasião, o provedor da Misericórdia da Mêda, Anselmo Sousa, recordou a história do edifício, fazendo referência a algumas das importantes figuras da vida da instituição e agradecendo o apoio recebido pelo Fundo Rainha Dona Leonor. Além disso, o responsável enumerou outros investimentos da Misericórdia que contaram com “a preciosa ajuda” de muitos beneméritos que também têm contribuído para o crescimento do apoio social prestado pela instituição que emprega diretamente cerca de uma centena de pessoas.
Nas palavras de Anselmo Sousa, “a Santa Casa sempre teve um papel de vital importância no que diz respeito ao apoio prestado à população no concelho da Mêda. Sempre quisemos que a Misericórdia fizesse a diferença no contexto difícil e complexo que exige, além de respostas eficazes, respostas inovadoras, adequadas à nossa realidade. Por isso, tivemos sempre a preocupação de construir novas valências. As Misericórdias têm um papel de referência que é indispensável para o bem-estar da população idosa e daqueles que mais necessitam”.
A representante do Fundo Rainha Dona Leonor deu os parabéns aos elementos da Santa Casa da Mêda, dizendo que a candidatura para o novo lar correspondeu ao espírito do Fundo. Inês Dentinho demonstrou ainda agrado pela aposta nos espaços exteriores do novo lar, destacando a importância dos mesmos na promoção do envelhecimento ativo.
Mas os espaços exteriores têm outras vantagens. Inês Dentinho deu exemplos. “Queremos muito que os espaços exteriores facilitem as visitas das famílias, tentamos ao máximo que se valorizem os espaços exteriores com áreas de sombras, com circuitos para as pessoas fazerem a sua volta matinal”.
Paulo Gravato aproveitou para reforçar na Mêda o importante papel das parcerias da UMP com a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa. Para o vogal da UMP, a comparticipação do Fundo Rainha Dona Leonor representa uma grande ajuda e na maioria dos casos faz toda a diferença para muitos projetos sociais ambicionados pelas Misericórdias.
A propósito da interioridade e de medidas para a valorização do interior de Portugal, Paulo Gravato aproveitou para deixar na cidade da Mêda algumas reflexões, afirmando que a UMP tem feito chegar aos responsáveis políticos a preocupação no sentido de se fazer mais pelos lugares despovoados e envelhecidos do país. “Uma grande parte das Misericórdias do interior tem a média das mensalidades dos utentes muito mais baixa e isso requer uma gestão muito mais ponderada para que não existam problemas nessas instituições”, concluiu.
No mesmo dia, a Misericórdia da Mêda homenageou uma das suas colaboradoras que trabalha junto dos idosos desde 1980 e cujo percurso foi marcado por enorme dedicação aos mais velhos.
Sensibilidade apurada e vocação
A trabalhar na Misericórdia da Mêda desde 1980, Maria Fernanda Ferreira desempenhou funções de encarregada geral na instituição. Agora que vai entrar na reforma, foi homenageada por uma vida de total dedicação em especial à área da terceira idade.
Foi junto dos mais idosos que sempre se sentiu feliz, numa espécie de missão como fez questão de sublinhar numa pequena conversa com o VM. É com doçura na voz que Fernanda Ferreira se refere à terceira idade: “Para me sentir bem tenho de estar junto da terceira idade”.
Ao trabalho que realizava com os idosos no lar da Misericórdia da Mêda, Fernanda Ferreira juntou um apoio a título particular. Voluntariado que sempre fez e ainda faz junto dos mais velhos que vivem sozinhos. “Vou ver como é que essas pessoas estão sozinhas e ajudar naquilo que posso” e para Fernanda esta disponibilidade e carinho que deve servir de exemplo a quem trabalha com a terceira idade.
Mais do que conhecimentos técnicos, Fernanda Ferreira considera que sensibilidade apurada e vocação são determinantes para a qualidade deste trabalho. Por isso, deveria “haver uma formação mais humana” porque “hoje o que precisamos nas instituições é de gente com fundo bom, com muito amor e com capacidade para se dedicarem de alma e coração aos utentes”.
Da experiência que tem e da realidade que conhece, Fernanda Ferreira aproveitou para falar da relação das famílias com os idosos que estão nas instituições. Muito mudou e, na sua opinião, não foi para melhor. “As famílias estão diferentes, não têm o mínimo de compreensão, entregam os idosos, a maior parte deles não são visitados durante um ano, 70% dos idosos não têm uma chamada telefónica por semana”.
Depois de uma vida de dedicação à terceira idade, na Misericórdia da Mêda, Fernanda Ferreira foi homenageada no dia em que a instituição deu por concluída a obra de requalificação do edifício do novo lar de idosos.
Voz das Misericórdias, Teresa Gonçalves