Nasceu na Misericórdia de Miranda do Douro a primeira de 100 comunidades de energia que a empresa Cleanwatts quer criar no país

O Planalto Mirandês é reconhecido por ser um território rico em património histórico, tradições e costumes. Mas, desta vez, esta região fértil de sabedoria entrou novamente para a história por ter sido a primeira a abraçar um dos principais avanços energéticos de Portugal.

Foi na Santa Casa da Misericórdia de Miranda do Douro que a empresa Cleanwatts pôs em prática aquele que promete ser um projeto de elevada importância para a criação e reestruturação das comunidades energéticas de autoconsumo.

São 30 projetos eletrosolares que vão fornecer energia a mais de 100 comunidades em Portugal, sendo que o primeiro foi apresentado em Miranda do Douro, numa parceria entre a Santa Casa da Misericórdia local e a Cleanwatts.

O projeto, inaugurado no passado dia 24 de agosto, vai permitir a produção, consumo e partilha de energia entre três edifícios da Misericórdia de Miranda do Douro (sede, lar de idosos e unidade de cuidados continuados), “num verdadeiro espírito de comunidade de energia”.

Desenvolvido especificamente para endereçar as necessidades dos vários participantes das comunidades de energia, o sistema operativo da Cleanwatts combina os benefícios da eficiência energética com a gestão de ativos de energia distribuída (solar, baterias, veículos elétricos, ou equipamentos de climatização) de modo a maximizar o valor da energia produzida, armazenada e consumida no âmbito de uma comunidade de energia, permitindo que os seus participantes beneficiem de energia limpa mais barata do que a energia de mercado.

O projeto da Santa Casa da Misericórdia de Miranda do Douro é o primeiro aprovado ao abrigo do novo regime jurídico que entrou em vigor em 2020. Integra capacidade solar fotovoltaica instalada em vários telhados, permitindo à Misericórdia reduzir os seus gastos energéticos em pelo menos 10% em comparação com o preço padrão de mercado da eletricidade.

Para a Santa Casa, “é um orgulho ser a primeira instituição em Portugal com uma comunidade de energia licenciada em operação”. Quem o diz é Arménio Gomes, vice-provedor, lamentando que “Miranda do Douro raras vezes está na liderança”, mas, desta vez, “graças à colaboração de ambas as partes”, a instituição é pioneira no avanço energético.

Esta parceria pretende, ainda, que a energia que é desperdiçada após o autoconsumo seja aproveitada por outras instituições sediadas em Miranda do Douro, nomeadamente a Câmara Municipal, Bombeiros ou, eventualmente, colaboradores da Misericórdia que possam usufruir de uma redução de preço da energia elétrica para consumo doméstico.

“Para além de ser uma vantagem para a Misericórdia, é também benéfico para todos os membros que a comunidade irá agregar, incluindo os colaboradores”, adiantou o responsável.

Na opinião do vice-provedor, “este é o primeiro passo para o progresso”, estando a preparar a instituição e a comunidade “para uma sociedade mais limpa e sustentável, incluindo a eletrificação da economia, que é mais visível com a eletrificação, por exemplo, do parque automóvel”.

“Este é um modo de reduzir custos e a pegada ecológica da nossa atividade, sem alocação de recursos para tal. Para isso, foi estabelecido passar os ativos para a nossa instituição, a custo zero”, explicou Arménio Gomes.

Tendo por base a evolução tecnológica do setor, as comunidades de energia estão a crescer exponencialmente em todo o mundo para responder ao desafio de energia limpa e atender às metas de neutralidade carbónica, garantindo preços de energia acessíveis e combatendo a pobreza energética.

Na Europa, segundo a empresa, espera-se que cerca de “37% das residências participem em comunidades de energia ate´ 2050”. Nos EUA, “os projetos solares comunitários já representam 11% do total de energia vendida e, apenas no ano passado, foram instalados 3,1 GW de energia fotovoltaica através de comunidades de energia”, precisou a Cleanwatts.

Voz das Misericórdias, Daniela Parente