Um incêndio no Lar Bom Samaritano, da Misericórdia de Mirandela, no dia 16 de agosto, provocou a morte a seis utentes. O fogo deflagrou por volta das cinco da manhã, num dos quartos do lar, e terá sido provocado por um curto-circuito num colchão anti-escaras. Os três idosos que estavam nessa divisão acabaram por morrer carbonizados e outros quatro morreram por inalação de fumo.

Ficaram ainda feridas 25 pessoas, cinco com gravidade, devido a fumo que inalaram. Foram transportadas para os hospitais de Bragança, Macedo de Cavaleiros e Mirandela. Logo no dia seguinte, 20 tiveram alta. Entre os que ainda estavam internados, dois receberam alta e uma idosa, que esteve nos cuidados intensivos em Bragança, acabou por falecer no dia 21 de agosto. À data de fecho desta edição, restavam dois internados na unidade hospitalar da cidade onde tudo aconteceu.

O alerta para o incêndio foi dado pelas três funcionárias que estavam ao serviço. Segundo o provedor Adérito Gomes, as câmaras de videovigilância mostraram que as colaboradoras fizeram a ronda “dez minutos antes” do incêndio. Também foi possível ver na gravação o fumo a sair do quarto, por baixo da porta, e em “20 segundos” o corredor ficou totalmente coberto de fumo, adiantou o responsável. No entanto, o alarme de fumo não disparou.

O Lar Bom Samaritano acolhia 89 idosos. Aqueles que não foram afetados pelo fogo foram instalados nos outros lares da Misericórdia de Mirandela.

Quanto à infraestrutura, o provedor Adérito Gomes adiantou que no piso inferior, onde o incêndio aconteceu, será preciso “uma intervenção profunda”. No que toca ao piso superior, será preciso fazer a “substituição de vidros” e a “limpeza” do espaço. O responsável disse que gostaria de abrir este piso “num curto espaço de tempo”, mas está dependente de “uma avaliação técnica”.

Tendo em conta a “gravidade” e a “dimensão” da situação, a Câmara de Mirandela manifestou um “profundo pesar pelos trágicos acontecimentos” e decretou “três dias de luto municipal”, cancelando os eventos organizados pela autarquia.

O caso está a ser investigado pela Polícia Judiciária e a Segurança Social (SS) também abriu um processo de averiguação. À Lusa, a SS adiantou que, “pelo que foi possível apurar até ao momento, o estabelecimento cumpria o plano de segurança de acordo com as disposições legais e dez minutos antes tinha sido efetuada uma visita aos quartos”.

As manifestações de solidariedade não tardaram a surgir. Misericórdias de todo o país manifestaram o seu apoio junto da congénere de Mirandela. O presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, contactou o provedor Adérito Gomes, a quem apresentou, segundo nota do Palácio de Belém, “as mais sentidas condolências”. Também o primeiro-ministro, Luís Montenegro, expressou, nas redes sociais, as suas condolências.

A UMP, que tem acompanhado o caso desde a primeira hora, também emitiu uma nota de pesar, onde manifestou a sua “profunda consternação”. Além disso, está em marcha um conjunto de reuniões - que deverão ter lugar nas regiões norte, sul e centro, em data a definir - para sensibilização e esclarecimento das Misericórdias sobre medidas de autoproteção, segurança e manutenção de edifícios.

O objetivo, destacou o vogal do Secretariado Nacional responsável por esta ação, é sensibilizar dirigentes e, ao mesmo tempo, reforçar uma cultura de prevenção e manutenção nas instituições, que deve ser encarada “como um investimento na segurança de utentes e trabalhadores e não como mero encargo”.

Através de esclarecimentos que serão prestados por pessoas ligadas à área da proteção civil, as sessões incidirão também sobre aspetos práticos, “como a realização de simulacros, a atualização atempada das medidas de autoproteção e o bom relacionamento com os bombeiros, cuja atuação é determinante para evitar tragédias, como aconteceu em Mirandela”, referiu Maia Frazão.

Além disso, continuou o responsável, a UMP está a negociar junto do Instituto de Segurança Social a possibilidade de haver, em sede de PRR, um aviso de candidatura para implementação das medidas de autoproteção, manutenção e adaptação do edificado, assim como aquisição de equipamentos.

Voz das Misericórdias, Ângela Pais