“Senti-me profundamente honrado pela circunstância de me ter pedido para prefaciar este livro muito interessante sobre a importância das Misericórdias na construção do Estado social. É importante prosseguir este caminho e este percurso de divulgação daquilo que as Misericórdias fazem em Portugal”, referiu, na abertura da sessão, o presidente da UMP. No prefácio que assina, acrescentou ainda que “é pela via deste tipo de trabalho - de leitura obrigatória para os que se interessam pelo Estado social e pelas Misericórdias - que o movimento das Misericórdias reafirma a sua marca, a sua voz, a sua atualidade”.
Na apresentação da obra, João Soares louvou o “rigor absolutamente notável” deste trabalho de investigação, destacando os conflitos sentidos na gestão dessas organizações e “os desafios que as mudanças sociais e tecnológicas representam para as Misericórdias”. Outro aspeto merecedor de nota, segundo o socialista, é a “demonstração de que a economia de mercado e a segurança social não são incompatíveis, muito pelo contrário. E isso também pode ajudar a desfazer mitos de quem está mais à esquerda da minha área política”.
Referindo-se a este preconceito ideológico, o cardeal D. Américo Aguiar lamentou que “perante a experiência e a capacidade instalada das Misericórdias se continue a ter a tentação de falar em respostas públicas ou não, quando todos ganhamos em trabalhar com a consciência do bem comum, ou seja se o Estado interagir com quem está no território, sejam Misericórdias, mutualidades ou IPSS”.
Depois de agradecer a todos os envolvidos na edição, o autor explicou como nasceu este livro, com base numa reflexão feita com o vice-presidente da UMP, José Rabaça, “que teve oportunidade de me disponibilizar uma base de dados para trabalhar com a Rita Proença”. Partindo de uma amostra de 294 Misericórdias (78%), foi possível evidenciar o seu papel na construção do Estado social e analisar os desafios que enfrentam ao nível da transformação digital (investimento, capacitação e mudança organizacional) e gestão estratégica.
Em relação a este segundo ponto, António Tavares referiu, ao longo da obra, que as Misericórdias integram lógicas distintas que criam “um conjunto de tensões internas e de posicionamento nos mercados onde atuam”. No contexto das Misericórdias, este jogo de forças, designado de ambidexteridade, envolve uma “dicotomia entre inovação e eficiência”, mas também “o conflito resultante da gestão da estratégia social e da estratégia comercial”.
Segundo o provedor, este “duplo paradoxo” diz respeito à “necessidade de inovar e, ao mesmo tempo, garantir a eficiência das suas operações, mas também de atuar na missão social enquanto que asseguram sustentabilidade financeira”. Por isso, continuou, é “necessário pensar em modelos organizacionais mistos”.
Em jeito de conclusão, António Tavares assumiu como objetivo da obra a compilação de “informação que não estava esquematizada” evidenciando o contributo das Misericórdias na construção do Estado social, em “áreas como a saúde, o envelhecimento ou deficiência, onde as verbas da União Europeia são praticamente esgotadas pelas Misericórdias”.
Após Lisboa, seguiram-se duas sessões de apresentação no Porto, a 16 de julho, e em Braga, a 25 de julho. A obra pode ser encontrada na loja online da Editora d'Ideias.
Voz das Misericórdias, Ana Cargaleiro de Freitas