Nenhum é natural de Monchique, mas foi ali, na serra algarvia, que encontraram o amor. O senhor Adalberto Romão tem 67 anos. A dona Custódia Romão, 68. Conheceram-se, por mero acaso, no lar da Santa Casa da Misericórdia, onde foram acolhidos. Apaixonaram-se, passaram a morar juntos e agora casaram-se, mostrando que a ideia feita talvez seja mesmo verdadeira: o amor não escolhe idades.

Como manda a tradição, são 14h10 e ainda não há qualquer sinal da noiva. Custódia está atrasada, enquanto Adalberto já a espera em frente ao altar. O casamento a que se assistirá dentro de minutos na Igreja Matriz de Monchique será especial: não é todos os dias que se vê o matrimónio de dois sexagenários, utentes de um lar.

A vila mobilizou-se: as funcionárias da Santa Casa da Misericórdia andam num corrupio, a receber os convidados à entrada da igreja. As carrinhas do lar, sempre cheias de utentes, vão chegando.

Sente-se aquela azáfama típica de qualquer casamento. Em frente à igreja, há também muita gente à espera. Uma senhora vem mesmo meter conversa com o repórter da Voz das Misericórdias: “Só vim ver a noiva”.

E ela chega já perto das 14h30, num carro vermelho, decorado para a ocasião especial. Tem um vestido azul e dezenas de pessoas à sua espera, de telemóvel em riste para registar a entrada na igreja, acompanhada pela tradicional marcha nupcial.

Quem celebra o casamento é D. Manuel Quintas, bispo do Algarve. Nas palavras que dirige aos noivos, já depois dos ritos de matrimónio, fala da “lição” que Custódia e Adalberto estão a dar. “O amor não escolhe idades nem para se manifestar nem para ser vivido. O amor não envelhece porque nunca acaba e vocês estão a dar-nos essa lição”, diz.

Custódia e Adalberto conheceram-se há sete anos. Com um passado difícil, a vida levou-os a Monchique, onde foram acolhidos pela Santa Casa da Misericórdia local. São namorados há cinco anos e a história de como começou o relacionamento é contada por Custódia.

“Eu fui muito marota porque ele andava a varrer o quintal e eu ia para lá piscar-lhe o olho”, diz entre risos. E quem é que deu o primeiro passo? “Eu piquei-o e ele depois fez o resto”, acrescenta a dona Custódia, com o marido ao lado.

O casal já mora junto há cinco anos, num anexo que é propriedade da Misericórdia de Monchique. Casarem-se foi o passo natural.

“Quem fez o pedido fui eu, claro. Já tinha falado com o senhor provedor e depois falei com ela”, conta o senhor Adalberto que, ao contrário da dona Custódia, já foi casado, mas só pelo civil.

Na cerimónia não esteve nenhum familiar: só amigos do lar, populares, membros de outras Misericórdias e os padrinhos (Margarida Flores, diretora do Centro Distrital de Segurança Social de Faro, e Rui André, vice-provedor da Misericórdia e ex-presidente da Câmara de Monchique).

Um dos presentes foi também Armindo Vicente, presidente do Secretariado Regional de Faro da União das Misericórdias Portuguesas, que explica que o objetivo sempre foi organizar uma celebração “com tudo a que tem direito”.

“Eles merecem este nosso carinho”, diz, durante a sessão de fotografias que decorre já depois do casamento celebrado.

Os recém-casados assumem que tudo o que idealizaram, para este momento especial, está, de facto, a ser cumprido. “Está a ser um dia mesmo muito feliz”, dizem, sem hesitações.

Depois do casamento e da sessão de fotografias, no Parque Urbano da vila, a festa seguiu no salão da Santa Casa da Misericórdia de Monchique. À sua espera, estavam muitos amigos do casal, colegas do lar e um banquete, como manda a tradição em qualquer casamento. Houve bolo, champanhe e um único desejo para o futuro, deixado por Custódia e Adalberto. “Que tudo continue a correr bem, como até agora. As zangas nunca dão bom resultado”.

 

Voz das Misericórdias, Pedro Lemos