A Misericórdia de Monforte deu início às comemorações dos seus 500 anos de existência com uma homenagem aos antigos provedores.

Há momentos na história de uma instituição que, pela sua importância e simbologia, merecem ser devidamente assinalados e celebrados, sobretudo quando se trata de uma, já longa, história com cinco séculos de vida.

Se celebrar os 500 anos de existência é, por si só, motivo de comemoração, a Santa Casa da Misericórdia de Monforte quis ir mais longe. Para o efeito, aproveitou este momento para honrar o seu passado e homenagear todos aqueles que fizeram parte da sua história, que é sobretudo uma história de muita perseverança, dedicação e solidariedade, sempre com o propósito de apoiar quem mais precisa.

Para dar início às comemorações dos seus 500 anos, a Misericórdia de Monforte quis agradecer e homenagear todos aqueles que lideraram os destinos da instituição através da atribuição do título de Irmão Honorário a todos os antigos provedores, desde 1936, uma vez que não foi possível identificar com precisão aqueles que antes serviram a Santa Casa.

A sessão solene teve início com a exibição de um vídeo sobre a atualidade da Santa Casa da Misericórdia, um registo importante em termos de memória futura, e à qual se seguiram as comunicações do atual provedor, David Rodrigues, do presidente da Assembleia Geral, Joaquim Mourato, e dos convidados de honra, nomeadamente, Fernando Cardoso Ferreira, em representação da União das Misericórdias Portuguesas, padre Joannes, pároco de Monforte, João Carlos Laranjo, diretor da Segurança Social do Centro Distrital de Portalegre, e Gonçalo Lagem, presidente da Câmara de Monforte.

O provedor David Rodrigues começou por salientar que a Misericórdia de Monforte chega a esta idade graças à “capacidade e perseverança de muitos dirigentes e colaboradores em sobreviver a todas as adversidades e complicações, que tiveram que enfrentar ao longo destes anos, sempre com o objetivo de atenuar o sofrimento da população mais frágil e carenciada, e dar conforto aos mais desprotegidos”.

Consciente das grandes dificuldades que “esta, e todas as outras Misericórdias, sentiram” durante a sua longa existência, David Rodrigues quis por isso deixar uma palavra de reconhecimento pelo papel desempenhado “por todos os provedores e demais irmãos” que por esta Misericórdia passaram, “empenhados na mesma missão de ajudar o próximo e contribuir para a continuação do compromisso e das 14 obras de misericórdia”.

Para o atual provedor, esta homenagem justifica-se para que “os seus nomes não fiquem esquecidos nas páginas dos livros que religiosamente guardamos, correndo o risco de um dia caírem no esquecimento como pessoas de bem, alguns deles verdadeiros heróis na área social”. Por isso, continuou, a Santa Casa de Monforte decidiu recuperar parte da história a que conseguiu ter acesso até à presente data e “dar a conhecer os rostos de todos aqueles que nos foi possível encontrar”.

“Fazemo-lo não por pretensão, mas para realçar as suas virtudes e fazer deles um exemplo a seguir, para que os seus feitos se tornem num motivo de orgulho para os seus sucessores e despertem naqueles que agora têm a oportunidade de os conhecer a vontade de seguir estes exemplos e abraçar as mais nobres causas humanistas e solidárias”, desejou David Rodrigues.

Aproveitando a ocasião para referir o desenvolvimento ocorrido na Santa Casa nestes últimos anos, a começar pela melhoria das instalações e dos equipamentos, o provedor reconheceu que o futuro traz novos desafios para os quais, mais uma vez, a Misericórdia de Monforte terá que se renovar para conseguir dar resposta e continuar a percorrer este caminho da solidariedade social que iniciou há 500 anos.

E porque a longevidade das Santas Casas é um marco de grande importância, o vogal do Secretariado Nacional da União das Misericórdias, Cardoso Ferreira, recordou que ao longo destes séculos “as Misericórdias têm tido uma enorme capacidade de resistência no cumprimento da sua missão, porque as vicissitudes têm sido muitas, mas têm sabido ultrapassar porque a missão que desempenham é realmente muito nobre”.

“Hoje as Misericórdias são um pilar essencial do apoio às comunidades nas suas mais diversas necessidades”, constatou o responsável, deixando ainda a mensagem de que “estamos num momento de viragem e temos que começar a preparar-nos para isso, mas sobretudo precisamos de ter a capacidade e a imaginação de encontrar respostas eficazes para as novas necessidades das pessoas”.

Numa cerimónia em que os discursos proferidos foram bem representativos da forma como esta instituição tem marcado a diferença no concelho de Monforte no que diz respeito ao apoio social, económico e até mesmo cultural desta comunidade.

Esta comemoração é, nas palavras do presidente da Assembleia Geral, uma forma de também “realçar os serviços prestados e lembrar todos aqueles que participaram e participam, direta ou indiretamente, nesta grandiosa obra. É reconhecer publicamente o apoio inequívoco dado a tantas famílias, seja no acolhimento dos seus entes queridos mais frágeis, seja no apoio prestado em termos materiais a situações de maior carência económica”. Joaquim Mourato sublinhou ainda que é também tempo reflexão, de “fazermos uma paragem, olhar para o caminho percorrido e valorizarmos o que foi feito”.

A sessão terminou com a conferência “Centelhas de um fogo cinco vezes seculares”, proferida por José Cunha, conferencista e investigador monfortense, que apresentou um pouco do que é o trabalho da sua autoria sobre a história das Misericórdias, destacando-se a de Monforte.

 

Voz das Misericórdias, Patrícia Leitão