Nascido na vila de Nisa, em 1905, Augusto Pinheiro era comerciante de profissão e começou a pintar apenas aos 66 anos. Mas a sua arte depressa conquistou a admiração e a “pureza” e “singularidade” do seu trabalho tornaram-no conhecido como dos “maiores pintores internacionais do movimento naif, tendo participado em 40 exposições coletivas em Portugal e no estrangeiro e realizado 17 individuais.
Ao longo da sua vida, Augusto Pinheiro foi sempre um amigo da Misericórdia de Nisa, tendo ajudado por diversas vezes a instituição, inclusive em “tempos difíceis”. Foi nesta “casa” que acabou por passar os últimos anos de vida e onde faleceu em 1994.
A criação de uma casa-museu na qual pudessem ser expostas de forma permanente as mais de 71 obras doadas à instituição, bem como algum do espólio da sua casa, foi um desejo expresso pelo artista alguns anos antes da sua morte, tendo o provedor na época, Manuel Barreto, assumido esse compromisso, mas que só foi possível de concretizar agora, sob a forma de um polo museológico, que foi instalado num antigo palheiro propriedade da instituição, totalmente remodelado para o efeito.
O momento da inauguração contou com a presença de dezenas de pessoas, tendo o provedor, António Caldeira Valente, feito as honras da abertura com uma referência ao antigo provedor da instituição, ao quem “se deve muito a presença de todos nesta inauguração, pois foi ele que deu corpo e alma às palavras de Lima Carvalho, quando o desafiou a dar início a um processo de criação de um museu de arte naif Augusto Pinheiro em Nisa, na Santa Casa da Misericórdia”.
Com vários familiares do pintor nisense presentes, coube ao sobrinho, António Maria Pinheiro, dirigir algumas palavras sobre Augusto Pinheiro e o seu percurso artístico, às quais se seguiu a intervenção do professor José Carmona Ribeiro, que partilhou com os presentes um pouco da história e vida do pintor, em particular sobre a sua vertente artística, à qual se dedicou já numa idade tardia e sem aprendizagens, tendo realizado a sua primeira exposição em 1974, na Galeria de Arte do Diário de Notícias.
Em declarações ao VM, o provedor António Valente mostrou-se orgulhoso por poder, finalmente, “cumprir a promessa feita em nome da Misericórdia”, pois “era um dever que entendo que nós tínhamos para com a memória deste grande artista nisense, que tanto deu à nossa instituição e que fez questão de ainda nos doar um espólio significativo do seu trabalho, que merece ser partilhado com toda a população, mas também com quem nos visita”, constata.
Assumindo que não foi um processo fácil, sobretudo no que diz respeito à obra de reabilitação do espaço, porque “as nossas instituições vivem com orçamentos muito controlados e direcionados para o apoio social”, António Valente acredita que é importante que a Misericórdia tenha “um papel ativo na promoção da cultura e da arte”.
Nesse sentido, “este espaço museológico cumpre essa missão de honrar a memória de um grande artista nisense, que foi um benfeitor da nossa instituição, permitindo perpetuar as suas obras nas suas origens, dando-as conhecer a futuras gerações, mas também a muitos nisenses que podem não conhecer o seu trabalho, quem foi Augusto Pinheiro e o que fez pela Misericórdia, mas também pela arte naif”, sublinha o provedor.
O Polo Museológico Augusto Pinheiro tem ainda a particularidade de ser espaço de exposições para outros pintores e artistas que podem dar a conhecer os seus trabalhos.
Voz das Misericórdias, Patrícia Leitão