“A nossa atividade está muito restrita e limitada, mas mantém-se a troca de correspondência, através de um apartado, criado há mais de 10 anos, que nos permite acompanhar as pessoas que queiram recorrer a nós para conversar ou para algum pedido. Continuamos disponíveis”, adianta a coordenadora do grupo de visitadores, Helena Mendes.
As visitas foram suspensas em março de 2020, devido ao estado de saúde frágil dos reclusos-doentes, mas nem por isso foi interrompida a ligação afetiva. Nas cartas que chegam do Hospital Prisional de Caxias surgem relatos de “isolamento e dificuldade de contactar a família, no fundo aquilo que sentimos cá fora, mas de forma extrema porque estas pessoas não estão confinadas como nós. E isto é muito agressivo para a saúde mental de qualquer sem humano”. Recomenda, por isso, apoio psicológico para estes reclusos em situação de dupla exclusão.
Apesar de alteradas, as novas rotinas não impedem os voluntários de transmitir afetos e manter as suas tradições anuais no Hospital Prisional de Caxias. Em dezembro, impossibilitados de cumprir a sua tradição de Natal (lanche partilhado e oferta de prendas), os visitadores uniram esforços e fizeram chegar perto de 140 cabazes aos reclusos, com agasalhos de inverno, um conto de Miguel Torga, um postal para escreverem à família e uma mensagem de um voluntário. De volta, receberam mensagens de gratidão como a que transcrevemos: “o mundo é bom quando há pessoas que pensam no bem-estar dos outros”.
Nos restantes meses do ano, o grupo constituído por 60 voluntários (idades entre os 20 e 70 anos) faz-lhes chegar roupa e material de escrita, em função dos pedidos do serviço educativo. O objetivo, garantem, é transmitir esperança, promover a reabilitação e reinserção social e combater a exclusão a que estão votados.
Voz das Misericórdias, Ana Cargaleiro de Freitas