A Santa Casa da Misericórdia de Oliveira do Bairro lançou um livro para contar a história dos que ‘ajudaram a construir esta casa’

São 350 páginas que retratam um século de história. Apresentado publicamente no Quartel das Artes, no passado dia 05 de junho, o livro “Misercórdia de Oliveira do Bairro 1920 – 2020”, da autoria do escritor Armor Pires Mota, assinala os 100 anos da instituição oliveirense.

Esta obra pretende “relembrar o passado e registá-lo para memória futura”, refere a provedora Leontina Novo ao VM, mostrando-se orgulhosa por ver fielmente contada a história e o trabalho de todos aqueles que “ajudaram a construir e a fazer crescer esta casa: colaboradores, funcionários, beneméritos, mesas administrativas, anónimos e provedores”, destaca.

Foram precisos dois anos para escrever o livro, conta ao VM o autor da obra, Armor Pires Lima. “Um trabalho de muita pesquisa, de muitas viagens, consulta de documentos e a procura de muita informação, para que nada de relevante fosse esquecido”.

Armor Pires Mota já tinha editado um outro livro, aquando dos 80 anos da Santa Casa da Misericórdia de Oliveira do Bairro, esclarecendo que “não se trata de refazer a obra, mas acrescentar valor com outras valências criadas nos últimos 20 anos. A história não podia ficar espartilhada, sob pena de esconder muito da sua grandeza nas vertentes cristã, da assistência e da caridade”, explica o autor.

Um dos primeiros capítulos aborda a saúde no concelho, antes da Misericórdia ser constituída. A construção do hospital, que viria a transformar por completo a assistência médica, particularmente dos mais pobres, é um dos capítulos mais importantes desta narrativa pela transformação e viragem que originou. “Viviam-se tempos difíceis no pós-guerra, mas a mobilização de 30 homens bons e todo o seu empenho, viria a dar frutos”, lembra a provedora Leontina Novo. “Este desejo foi agarrado com muito bairrismo pela população”, reforça Pires Mota. A inauguração e o sonho tornado realidade, viria, a 04 de junho de 1940, a ser assinalado com pompa e circunstância. 

Os cortejos e festas de caridade assumem também enfoque particular por parte do autor, assegurando que a Misericórdia oliveirense “foi pioneira na região e no país”, nesta nobre forma de solidariedade. “Formavam-se ranchos representantes de cada freguesia, carregavam os carros com lenha, palha, batatas, vinho e outros produtos que a terra dava. Habitualmente, partiam da igreja ou da avenida Dr. Abílio Pereira Pinto. O bispo D. João Evangelista Vidal também se apresentava e mesmo representantes do Estado. Todos, à exceção do bispo, deixavam esmolas avantajadas”, garante Pires Mota.

Mais tarde, em 1994, o provedor António Cardoso viria a recuperar os cortejos por considerar estes eventos verdadeiras manifestações de solidariedade e etnografia.

Na galeria dos provedores, o escritor dá a conhecer cada uma das personalidades que dirigiu a Misericórdia. Entre as diversas figuras, Pires Mota elege Maria Rosa Barata, “uma mulher de fibra, que sempre soube mobilizar a população, dotando a instituição com várias valências que ainda hoje existem”, realça.

A ligação da Misericórdia à comunidade é também muito salientada. A dinâmica dos eventos sempre assentou na participação ativa das crianças, jovens e idosos.

A provedora acredita que este livro servirá para reforçar os laços existentes com a comunidade. “Lendo a obra, as pessoas ficam a saber, detalhadamente, onde o dinheiro é aplicado, mostrando-se, certamente, mais seguros e disponíveis para nos ajudar a fazer crescer esta casa”, sustenta Leontina Novo.

“A alma da Misericórdia com a vida de todos os dias” como é descrita ao VM pelo escritor oliveirense, mostra-nos também a dinâmica atual e vanguardista da instituição, onde as respostas essenciais no apoio aos mais desfavorecidos são asseguradas.

“Estar onde é preciso com amor”, continuará a sustentar a missão da Misericórdia, garante Leontina Novo.

Voz das Misericórdias, Vera Campos