A Irmandade da Misericórdia e de São Roque de Lisboa é uma instituição religiosa, com sede em Lisboa, na Igreja de São Roque, cuja origem remonta a 1506, tendo vindo a cumprir a sua missão de servir o próximo, através da aplicação das obras de misericórdia, designadamente das espirituais.

Este artigo de opinião do irmão-provedor da Irmandade da Misericórdia e de São Roque de Lisboa, Mário Pinto Coelho, integra a edição de novembro do Voz das Misericórdias. Leia aqui os artigos de opinião de Carrazeda de Ansiães e da São João da Madeira.

Cumpre o Compromisso de comunidade cristã, levando a todos, a Boa Nova, procurando desenvolver um trabalho de interajuda, disponibilidade e serviço para com o próximo, tenha este o rosto e a religião que tiver. Referem-se três dos projetos atualmente desenvolvidos:

• Acompanhamento espiritual e religioso de utentes seniores de 41 equipamentos sociais, (residências e centros de dia) e de três unidades de saúde da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML);

• Autos de Natal, totalmente originais (representação, música e dança), representados desde há 22 anos consecutivos por crianças, jovens e adultos utentes da SCML e apresentados a centenas de espectadores e familiares dos participantes.

• Acompanhamento, até à sua última morada, de todos os homens, mulheres e crianças, que morrem na cidade, cujo corpo não é reclamado por ninguém. Sobre esta atividade vamos refletir um pouco mais.

Vem de longe o acompanhamento, pela Irmandade, dos funerais daqueles nossos irmãos em Cristo que terminam a sua peregrinação terrena sem familiares, amigos ou conhecidos, e que estariam destinados a baixar à terra sem terem ninguém com uma prece, um olhar, uma flor.

A Irmandade acompanhou, ao longo dos últimos 21 anos (desde maio de 2004), 2941 enterros de pessoas que, “sem família, sem abrigo, sem amor”, morreram em Lisboa, não sendo o seu corpo reclamado por ninguém, 171 dos quais no último ano.

Um grupo de irmãos e voluntários iniciou e abraçou este projeto, sendo diversas as motivações que os movem: saudade de familiares e amigos falecidos, o puro apelo da compaixão, motivações muito específicas e pessoais ou um forte apelo espiritual ou religioso.

Há normalmente um aprofundamento reflexivo do puro ato de acompanhamento para uma maior vivência da realidade social que cria estas situações, bem mais frequentes do que poderíamos supor, porque vai longe o ambiente familiar das nossas aldeias e vilas ou dos nossos bairros na cidade, em que seria impensável alguém falecer ignorado pela sua comunidade.

No dia 17 de outubro de cada ano, Dia Internacional da Erradicação da Pobreza e dos Sem Abrigo, a Irmandade organiza, na Igreja de São Roque, uma missa de sufrágio por todos aqueles que ao longo do ano, acompanhou até à sua última morada, recordando e evocando cada um, quando da Oração dos Fiéis.

A presença e participação de qualquer pessoa, independentemente da sua religião ou raça, constitui um ato de solidariedade e homenagem a quem viveu na nossa cidade sem o reconhecimento e dignidade que é devido a qualquer homem ou mulher.

Que bom seria que irmandades de Misericórdias ou de outras entidades, nas cidades de maior população, iniciassem este projeto de dignificação destes irmãos falecidos.

Mário Pinto Coelho, irmão-provedor da Irmandade da Misericórdia e de São Roque de Lisboa