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- Opinião Maria Amélia Ferreira | Resiliência e esperança: condimentos para (re)imaginar o mundo na simbiose social/saúde
"Nada mais oportuno, num tempo assinalado pela “Emergência de um Novo Vírus Humano à Disseminação Global de uma Nova Doença” (ISPUP - Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto), do turbilhão de factos, de emoções, de incertezas, de procura de soluções e da necessidade – como diz a peça “Confiança e Verdade para Superar a Crise”.
A pandemia que bruscamente alterou o quotidiano de cada um de nós, está a produzir uma onda de novas interpretações da realidade. Aproveitemos a oportunidade que nos é dada pela Covid-19, confrontando-nos, numa disrupção do mundo, com a necessidade de resolver problemas desconhecidos de todos.
Em Portugal, a UMP tem dado todo o contributo possível, sempre ao lado dos mais frágeis, reinventando-se para enfrentar a pandemia. Isto é: esteve/está presente. Cuidar do próximo, dos que mais precisam, mesmo colocando em risco a saúde dos colaboradores, de todos os que são Misericórdia, na defesa da vida e da dignidade. É evidente que só na parceria solidária entre a sociedade civil, entidades públicas e sociais, será possível manter este desiderato, numa visão construtiva da sociedade.
Emerge agora de modo muito realista, claro e assertivo – com base na resiliência e esperança que tem pautado este tempo de pandemia – a necessidade inquestionável de promover o que será uma das maiores conquistas nacionais no cumprimento ético da defesa dos mais frágeis – o estabelecimento de uma articulação eficaz e efetiva entre o Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social e o Ministério da Saúde.
Nada que não me seja familiar, em diferente contexto. Durante mais de 40 anos de atividade docente no Ensino Superior assisti à dissociação dos Ministérios da Ciência Tecnologia e Ensino Superior e Ministério da Saúde. Com todo o prejuízo e dificuldades óbvias que condicionam a formação dos médicos. E que pode explicar muitos dos défices identificados nesta situação de crise, onde seria essencial articular saberes, quereres e poderes.
É momento de ver a floresta em detrimento da árvore, ou do arbusto! Seremos penalizados pelas gerações futuras se não encetarmos este caminho de tornar cada vez mais visível, inquestionável e inultrapassável, a associação entre a área social e a saúde. Estando pessoal e institucionalmente envolvida nas duas, e tendo a visão de um Modelo Integrado de Saúde Social (designadamente no envelhecimento), tenho uma perspetiva muito realista de que só assim será possível desenvolver uma intervenção inteligente e humanizada dos problemas integrados social/saúde na vida dos Portugueses.
Esta pandemia está a demonstrar as prioridades, de onde emerge – de modo doloroso - a realidade da desigualdade. Também nos mostrou o sentido de comunidade, de como somos globalmente uma família. Todos, no mundo global, estamos adaptando a nossa vida a uma nova “normalidade”, de modo resiliente e com esperança. As Misericórdias, e demais setor social, têm sido parte deste construir, partilhando desafios e dificuldades, mantendo corajosamente uma unidade comunitária que é um conceito relacional de espaço, ultrapassando o próprio conceito físico (Lingsom Susan, 2002). Assim, um rationale que suporta o que de mais necessário emerge nesta crise – criar relações de otimização funcional nas áreas social e de saúde - para dar resposta não só a esta pandemia, mas a tudo o que dela decorre na economia, na política, na saúde e na vida dos Portugueses.
As Senhoras Ministras do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social e da Saúde têm oportunidade única de tornar o difícil – fácil, o impossível – possível, criando uma liderança inovadora, num contexto de materializar o poder do “cuidar”, como só as mulheres o sabem fazer. É a oportunidade de formalizar o que é indissociável: a integração das áreas social e saúde no ato do cuidar integral.
Senhoras Ministras, assumam o desafio e ficarão na história da vida de todos nós!"