Se pensarmos no que queremos para o nosso futuro enquanto mais velhos, todos temos como prioridade vivermos nas nossas casas e só isto seria suficiente para eleger o apoio domiciliário como solução prioritária.

Esta é a peça principal do destaque da edição de outubro do Voz das Misericórdias sobre o serviço de apoio domiciliário. Leia os outros artigos sobre o serviço de apoio domiciliário em BorbaBoticas e Mesão Frio. Leia ainda os artigos de opinião dos provedores das Misericórdias da Amadora, Mogadouro e Mora.

A evolução demográfica, aliada ao aumento da esperança de vida, assegura-nos mais anos de vida, mas para a maioria das pessoas esta fase final da vida ainda é um período de fragilidade e dependência. Por outro lado, constatamos que o aumento de custos e necessidades representa uma crescente dificuldade para quem gere soluções institucionais de apoio às famílias e, ao mesmo tempo, enormes dificuldades de acesso a essas mesmas soluções por uma parte significativa da população.

Ou seja, o SAD parece ser a solução desejada individualmente, mas também pode ser uma das estratégias para a sustentabilidade do sistema social e de saúde, assegurando cuidados aos mais velhos, num contexto de crescentes necessidades e limitados recursos.

Paradoxalmente, o SAD tem perda de procura e de utilização. Claramente as novas necessidades e enquadramentos exigem novas respostas.

Fatores como as alterações profundas da família e das comunidades, o isolamento, a maior fragilidade e a demência, a estrutura das casas e dos espaços, a par de pessoas mais velhas que querem estar em casa, apesar de perdas que anteriormente significariam institucionalização, implicam soluções diferentes: maior cobertura horária, capacidade de adaptação de espaços, apoios muito para além do tradicional.

Futuros lógicos incluem robotização, utilização inovadora e adaptável localmente de recursos sociocomunitários, ganhos de eficiência e qualidade nos serviços tradicionais como alimentação e higiene. Utilização de tecnologias a nível de software de gestão de atividades, plataformas de cuidadores, teleassistência e teleconsulta com agilização e facilitação de cuidados médicos, terapia ocupacional e cognitiva. Planos individuais de cuidados que asseguram a continuidade e a adaptabilidade da assistência aos idosos e, claro, profissionais competentes e com formação adequada.

Tudo isto permitirá uma maior competência, eficiência de recursos e adequação das respostas, com o apoio domiciliário a desempenhar um papel de base dos cuidados sociais e de saúde. Assim, para uma parte importante das pessoas significará poder ficar em casa mesmo com perdas de autonomia. Certamente será também uma das soluções para a inadiável sustentabilidade do sistema, mas para isso temos de o organizar com novas respostas para necessidades em evidente transformação.

Manuel Caldas de Almeida, provedor da Misericórdia de Mora