Trata-se de uma peregrinação “ancestral”, criada pelos grandes proprietários da região e do Algarve, que tem atravessado gerações de ouriquenses. Todos eles, sem exceção, guardam uma memória destas celebrações, onde o sagrado se junta ao profano.
“A romaria confunde-se com a história de todos nós em várias gerações, é um local de reencontro, de fé e de magia que nos enche a alma”, refere o provedor da Misericórdia de Ourique, José Raul dos Santos. “Quando estamos a caminhar para o santuário percebemos que não nos encaminhamos apenas para um lugar geográfico: caminhamos para um lugar espiritual e de paz interior”, diz.
Segundo este responsável, esta romaria “evidencia-se pela sua rusticidade e pelo convívio entre o sagrado e o profano, facto que tem mantido intacto o encanto e a sedução desta tradição”, numa celebração que “está no coração das pessoas e faz parte da sua identidade há várias gerações”.
O provedor acrescenta que a romaria acaba por ser um momento que vai além das atividades “formalmente religiosas”, sendo antes “uma festa da identidade cultural”, que “junta várias gerações”.
“Muitos dos costumes e tradições do passado foram alterados com o decorrer dos tempos, mantém-se, contudo, uma forte devoção à Senhora da Cola em toda a região. Esta devoção tem resistido ao longo dos tempos porque os romeiros e os devotos aceitam a romaria como um espaço de reinvenção, ou seja, um espaço de interação entre a tradição e a modernidade, onde a festa pode ser (re)construída. Por essa razão, a romaria perdura no tempo, adaptando-se aos diferentes contextos”, argumenta.
Proprietária do santuário, cuja edificação será anterior ao século XVI, cabe à Misericórdia de Ourique organizar a romaria em honra de Nossa Senhora da Cola. Nesse plano, o provedor José Raul dos Santos destaca “a participação e boa vontade dos funcionários” da instituição na preparação e durante os festejos.
“Não há adjetivos para o seu empenho, esforço e dedicação […]. São muitas horas sem descanso, um corre para lá e para cá, para que tudo esteja perfeito. Esta é também a celebração dos funcionários e de todos os que a apoiam”, afirma.
Voz das Misericórdias, Carlos Pinto