O desfile intergeracional ‘Pampi Fashion’, do projeto ‘Encurtar Distâncias’, realizado na tarde de 30 de junho, constitui um forte motivo agregador de gerações e recuperação de tradições de Pampilhosa da Serra, cujo município, na sub-região de Coimbra, enfrenta problemas de desertificação populacional e de isolamento social, sobretudo, das pessoas idosas.

O evento, organizado pela Misericórdia de Pampilhosa da Serra, coincide com o encerramento formal do projeto ‘Encurtar Distâncias’, coordenado por Flávia Brito e cofinanciado pelo programa Portugal 2020/POISE/Iniciativa Portugal Inovação Social, bem como pela Câmara Municipal local e pela Farmácia Coroa, enquanto investidores sociais. Esta Iniciativa de Inovação e Empreendedorismo Social (IIES) conta, igualmente, com a colaboração da marca Seaside e da Associação de Solidariedade Social de Dornelas do Zêzere.

O projeto, criado e desenvolvido pela Misericórdia de Pampilhosa da Serra, visa não só combater o isolamento dos cidadãos mais velhos, mas também abranger toda a comunidade local, reavivando a memória coletiva em torno dos hábitos e costumes da região, particularmente com a apresentação de trajes tradicionais (associados à pastorícia e à agricultura), inspirados na origem e nas recordações de cada uma das atuais oito freguesias do concelho.

Como declara o provedor da instituição ao VM, “esta ação inovadora e única no município pampilhosense envolveu mais de 150 pessoas”, com cerca de 80 participantes diretos, 50 intervenientes indiretos (entre crianças, adultos e seniores) e uma dezena de voluntários.

António Sérgio Martins salienta que os trajes foram confecionados, durante vários meses, por técnicos e pelos próprios beneficiários do projeto, os quais se assumiram como verdadeiros protagonistas, a par das crianças do pré-escolar da Casa da Criança da Misericórdia, no desfile ‘Pampi Fashion’, que decorreu no Mercado Municipal, durante a tarde da última sexta-feira de junho. “O projeto permitiu-nos refazer este tipo de trajes, importantes para memória futura e para que os saberes não se percam”, observa o provedor.

O desfile intergeracional representou o culminar de 36 meses de intervenção em itinerância pelas oito freguesias do município de Pampilhosa da Serra, em que a convivência e a partilha de experiências e de memórias reforçaram a estimulação cognitiva e encurtaram distâncias no relacionamento com as pessoas mais velhas, as quais muito contribuem para a identidade comunitária e para a valorização do património humano e cultural desta região bastante despovoada.

A própria edilidade pampilhosense – então representada pela vice-presidente do executivo municipal, Alexandra Tomé – sublinha que “o território precisa de respostas diferenciadoras que vão ao encontro das necessidades das pessoas”, considerando imprescindível “criar sinergias para novas candidaturas ou parcerias”, sensibilizando para “a continuidade deste tipo de projetos”.

Para o provedor da Misericórdia da Pampilhosa da Serra, combater o isolamento numa região bastante desertificada “não é uma utopia, mas uma teimosia”, admitindo que “as instituições do setor social ajudam a combater a interioridade e a desertificação”, até como entidades empregadoras.

A respeito do projeto ‘Encurtar Distâncias’, que contou com um financiamento global de cerca de 160 mil euros, e que “também constituiu uma importante ferramenta para ultrapassar a pandemia da covid-19 e as situações de confinamento”, António Sérgio diz que “os objetivos não só foram alcançados”, como tal constatação “dá força para o passo seguinte, que é a criação de uma unidade de produção artesanal de bonecas de pano – as Pampis – que serão colocadas à venda na rede de distribuição de uma marca nacional, cujo benefício reverterá para a Santa Casa e para as pessoas que, assim, ocupam o seu tempo, exercitam a memória e retomam a destreza manual”. “Vamos empregar todos os esforços para continuarmos a encurtar distâncias”, garante o dirigente desta instituição.

Voz das Misericórdias, Vitalino José Santos