Os “Caminhos de Santiago” têm novas rotas estruturadas no Alentejo e Ribatejo, desde setembro, na sequência de uma parceria estabelecida entre a Entidade Regional de Turismo (ERT) do Alentejo e Ribatejo, União das Misericórdias Portuguesas (UMP), associações de peregrinos, dioceses, agentes turísticos e de desenvolvimento local, entre outros parceiros. O projeto conta com três rotas (Caminho Central, Caminho Nascente e Caminho da Raia), articuladas com as regiões do Algarve, centro e norte, num total de 1400 quilómetros que se estendem ao longo de 30 municípios da região. Os peregrinos podem aceder às rotas num site e mapa bilingues, numa brochura e guia traduzido em cinco idiomas.
Concebido como um produto turístico, o projeto visa proporcionar uma experiência completa ao viajante, que conjuga a descoberta de paisagens e tradições, mas também a vivência do património cultural e religioso, para devoção e valorização da arte e arquitetura dos edifícios.
O envolvimento das Misericórdias permite o regresso a uma das obras de misericórdia – dar abrigo aos peregrinos -, e pode ser concretizado em diversos tipos de apoio, adequados à capacidade da instituição e perfil do viajante: visita ao património histórico, acesso a locais de culto e apoio espiritual, experiência de voluntariado, ou alojamento e alimentação.
Num levantamento feito pelo Gabinete de Património Cultural (GPC) da UMP junto das Misericórdias da região, cerca de 75% das instituições revelou interesse e disponibilidade em colaborar ao nível da alimentação, banhos e dormidas, apoio espiritual (eucaristia, confissão, visita à capela/igreja), visita ao património da instituição ou património local e voluntariado com utentes. A língua estrangeira foi apontada como obstáculo por algumas instituições, que na sua maioria revelam domínio em pelo menos um idioma (inglês, francês ou espanhol).
Segundo o responsável pelo GPC, Mariano Cabaço, que tem acompanhado a parceria com a Entidade Regional de Turismo, “a UMP, como representante das Misericórdias, está totalmente empenhada neste projeto que está no ADN das Misericórdias e ganha aqui uma dimensão patrimonial. A ideia é colmatar lacunas que existem no terreno, não deixando de promover toda a oferta que as Misericórdias poderão dar, que são experiências desde o apoio espiritual ao voluntariado social e divulgação do património”.
Depois da definição das rotas, identificação de pontos de interesse e estruturas de apoio aos peregrinos, está em curso a sensibilização das populações e entidades locais, como as Misericórdias, para a importância do projeto ao nível da revitalização dos territórios de baixa densidade. Para o técnico do ERT responsável pelo projeto, Pedro Beato, a participação das Misericórdias é “fundamental para desenvolver um apoio diferenciado, acolhimento ou apoio espiritual, constituindo ainda uma excelente oportunidade para mostrar o seu património”.
Por ser considerado um produto com potencial, a nível nacional e internacional, a Entidade Regional de Turismo está igualmente empenhada na internacionalização das rotas, através de parcerias com o Governo da Galiza e Federação Espanhola de Caminhos de Santiago, visitas com jornalistas e operadores turísticos internacionais e apresentações em feiras de turismo. “Este é um produto em que a esmagadora maioria dos viajantes são estrangeiros, mais de 90%. Em 2021 [Ano Jubilar Compostelano], são esperados em Santiago de Compostela um milhão de peregrinos e 10 milhões de turistas”, revela Pedro Beato. Para Mariano Cabaço, o contacto com este público estrangeiro representa “um desafio e esforço de divulgação acrescido para as Misericórdias, de modo a criar dinamismo e pedagogia em torno do projeto”.
Até à primavera do próximo ano, a ERT prevê alargar a rede de parceiros a 14 municípios, estendendo ainda o convite às Misericórdias e outras entidades locais que ainda não tenham aderido. Em apenas dois meses, o entusiasmo gerado em torno do projeto já se traduziu na abertura de um albergue numa aldeia com apenas 14 habitantes, no concelho de Mértola, e na requalificação de habitações. As restantes novidades poderão ser acompanhadas na página oficial do projeto em https://www.caminhosdesantiagoalentejoribatejo.pt/.
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Voz das Misericórdias, Ana Cargaleiro de Freitas