Reuniões pela manhã para o planeamento das rotinas de trabalho e papeladas para registos de informação e controle são coisas do passado na Misericórdia da Póvoa de Lanhoso. A instituição vem adotando gradualmente nas suas diversas valências uma aplicação informática que facilita a vida de colaboradores tão distintos como enfermeiros, auxiliares ou profissionais de limpeza. Mas o mais importante de tudo é o ganho de tempo que o sistema vem proporcionando, que se reverte em mais atenção e cuidado aos seus utentes. É a GTA, plataforma de gestão de tarefas e atividades, que já foi inclusivamente galardoada em 2019 com o prémio “Saúde Sustentável”, na vertente de cuidados continuados, iniciativa da Cofina/Sanofi.
O VM foi ver de perto esta pequena revolução no quotidiano da organização, e, também, fora dela. À nossa espera está Martine Ferreira, responsável pelo serviço de apoio domiciliário. Vamos ver como funciona o sistema na casa de um utente. Na carrinha connosco seguem duas assistentes para a sua rotina diária, mas ao contrário do que seria normal esperar, não há pastas com informações do serviço a realizar. Na consola central do automóvel está unicamente um telemóvel.
Percorridos alguns quilómetros, chegamos a casa de Maria da Conceição, cuja tia idosa é tratada pelos profissionais da Misericórdia. De telemóvel na mão, e depois de anunciarmos a nossa presença, entramos sem mais demoras. Somos cumprimentados e a ação começa na porta do quarto da utente, onde possivelmente não se notaria um pequeno e discreto adesivo metálico em forma de círculo. A funcionária aproxima primeiro o seu cartão identificador do telemóvel e, de seguida, faz o mesmo com o objeto na porta. Trata-se de um tag, um dispositivo identificador único para cada utente que, ao interagir com a aplicação iniciada no telemóvel através de tecnologia RFID (Identificação por radiofrequência), irá indicar quais são as tarefas a serem realizadas naquele momento, que, no caso em questão, foi a realização do banho e higiene à utente.
“É possível definir, a nível central, as mais diferentes tarefas para cada utente, em diferentes horários do dia”, explica Martine que é a “arquiteta” responsável pela definição das funções a desempenhar por esta equipa externa. “Definidas as tarefas, seja trazer a refeição, higienizar o utente ou levar medicação, posso, a nível central [num módulo à parte do sistema, dedicado ao coordenador, noutro computador ou telemóvel], acompanhar a realização das tarefas em tempo real, visualizando-as em conjunto num mapa”.
Enquanto conversamos, as auxiliares voltam a abrir a porta do quarto, estando já completa a higiene, e aproximam novamente o telemóvel do identificador. Já estamos despachados para sair. “Já”? Sim, e não há nada a tomar nota? “Poderia haver”, sublinha Martine: “imaginemos que o funcionário nota um ferimento num utente. A comunicação é bidirecional e o que ele irá fazer é tirar uma fotografia, que segue pelo sistema para o coordenador e que pode vir a despoletar uma ação como a marcação de uma consulta médica, por exemplo”. Nada de papéis.
Antes de continuar a sua ronda, voltamos à Unidade de Atendimento de Longa Duração, onde nos recebe Fernando Oliveira, responsável de comunicação da Misericórdia, que nos conta como surgiu a GTA. “Somos o projeto piloto de uma empresa parceira que desenvolveu à medida das nossas necessidades, proporcionando a melhor organização e gestão de toda a informação envolvida nos processos”.
Junta-se à nossa conversa o responsável informático Vítor Costa e a enfermeira-diretora Sara Machado, já que outro “ponto forte” da aplicação é a área da saúde. “O GTA dá-nos uma orientação do trabalho diário e garante um cumprimento mais rigoroso dos protocolos, sendo possível parametrizar não só as atividades, mas também a sua frequência. Muito especialmente, reforça a segurança do utente, como por exemplo, a administração terapêutica, que só pode ser realizada depois da validação das tags, que, nos doentes nesta unidade são pulseiras”.
E como foi possível mobilizar profissionais com perfis tão distintos e, possivelmente, não tão familiarizados com os gadgets tecnológicos? Para Vítor Costa, a adesão dá-se principalmente quando se nota o ganho de tempo nos processos.
A Misericórdia da Póvoa de Lanhoso já tem números preliminares acerca da utilização deste software. Tendo em consideração apenas algumas tarefas diárias mais comuns, como a avaliação de sinais vitais, estima-se poder vir a encurtar o seu tempo médio de realização de dois minutos e meio para trinta segundos, que, se consideradas as múltiplas medições realizadas nos muitos utentes da unidade ao longo de todo o mês, representa um ganho de tempo considerável”, superior a duzentas horas de trabalho, estima Fernando Oliveira.
“Esta poupança de tempo é muito importante porque é tudo canalizado para podermos estar mais presentes junto dos pacientes e da família, proporcionando maior conforto e bem-estar”, conclui Sara Machado, destacando aquele que é o objetivo mais importante de uma solução como o GTA: humanizar os cuidados de saúde e assistência aos utentes.
Voz das Misericórdias, Alexandre Rocha