Com reconhecidas qualidades de organização e de liderança, dedicou a sua vida a iniciativas relacionadas com uma visão muito própria do movimento regionalista da Beira-Serra, baseado na solidariedade, procurando beneficiar a vida material e cultural das comunidades serranas e do interior do país. Seguiu o conselho do pai, pessoa “muito inteligente” que, enquanto ferroviário, foi promovido de bilheteiro a chefe da Estação da Pampilhosa e, depois, a chefe principal na Estação de Coimbra-B (a popular “Estação Velha”): “Vai para o interior!”

Após cumprir o serviço militar, assim fez, apesar da quase certa colocação como professor do ensino primário em Coimbra. Concorreu para Arganil, terra que não conhecia e onde chegou de camioneta a 1 de outubro de 1955, porque as aulas começavam no dia 7.

Passado algum tempo, o comendador Duarte Martins, muito influente na região, chamou-o a casa e disse-lhe: “Quero que venha para a Misericórdia de Arganil.” “Quem estava, nessa altura, na Santa Casa era o médico Fernando Valle, com o qual estabeleci uma grande amizade, apesar das divergências políticas”, esclarece José Dias Coimbra, referindo-se a este arganilense com enraizados ideais republicanos e socialistas. “Até chegou a convidar-me para ir com ele à Alemanha, para cofundar o Partido Socialista, em abril de 1973”, afirma, com alguma ironia. O “professor Coimbra” foi admitido como “irmão” da Misericórdia de Arganil em 4 de janeiro de 1959, concretizando, em 2023, 64 anos de dedicação a esta instituição. Em 11 de junho de 1959, aceitou o lugar de secretário da Mesa Administrativa, ocupando esse cargo até ao final de dezembro de 1968. Em janeiro de 1982, tomou posse como provedor, funções que desempenhou até janeiro de 2023, perfazendo 40 anos na liderança da Misericórdia de Arganil.

Refira-se que, no ano de 1968, foi nomeado presidente da Câmara Municipal de Arganil e, com os condicionalismos da época, procurou salvaguardar o património cultural e natural do concelho, nomeadamente a preservação da aldeia histórica do Piódão, encaixada na Serra do Açor, e a classificação da Mata da Margaraça, fiel guardiã de vestígios da floresta portuguesa antiga – sendo o botânico Jorge Paiva (grande amigo de José Dias Coimbra) um dos seus maiores estudiosos.

Entre as realizações importantes à frente da Santa Casa, José Dias Coimbra destaca o reabilitado Hospital de Beneficência Condessa das Canas, inaugurado, simbolicamente, a 17 de dezembro de 2022, mas, para que esta infraestrutura possa entrar em funcionamento, terá ainda de ser equipada na totalidade, não obstante “os mais de três milhões de euros gastos na sua remodelação”. Esta data também foi marcante pela abertura do Gabinete Miguel Torga, pseudónimo literário do médico Adolfo Correia da Rocha, a quem José Dias Coimbra lavrou o contrato para que, então, “pudesse assistir à população local às quintas-feiras”.

José Dias Coimbra recorda ao VM que esta não foi a única das grandes realizações sob a sua vigência na Santa Casa, onde diz ter sido uma pessoa ativa e mudado comportamentos, sobretudo alterando os velhos hábitos de penhora, quando a instituição emprestava dinheiro aos necessitados que não tinham como pagar. “O grande problema do mundo é, quase sempre, o dinheiro. Porque os homens vendem-se”, sublinha.

Outra grande vontade que o “professor Coimbra” viu materializada, enquanto provedor, foi a criação da Unidade de Cuidados Continuados Integrados – Hospital Dr. Fernando Valle, cuja inauguração, em 26 de novembro de 2006, contou com a presença do então Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva. A 10 de junho de 2008, foi condecorado com o título de Comendador da Ordem do Infante D. Henrique.

A 11 de dezembro de 2022, na reunião magna das Misericórdias, em Fátima, José Dias Coimbra anunciou que iria deixar o cargo de provedor da Misericórdia de Arganil. O sucessor é, desde 12 de janeiro, António Carvalhais da Costa, passando o ex-provedor a assumir a presidência da Mesa da Assembleia Geral.

Voz das Misericórdias, Vitalino José Santos