Ao concluir o curso de Estudos Superiores Especializados em Jornalismo Internacional em 1995, no Porto, e ainda sem um objetivo profissional definido, escolheria a via de investigação científica. Era um homem cheio de questões, mas queria alguma independência económica e social que “um emprego sempre permite”.
Com mais alguma bagagem cultural, desenvolveria um trabalho de campo no “Diário de Coimbra”, enquanto órgão de um movimento regionalista das Beiras. Seguidamente, aceitou o convite para um estágio neste jornal de referência da região Centro, fundado em 1930. Após três anos de experiência de um jornalismo de proximidade e de contacto direto com as pessoas e a vida das comunidades locais, Raúl Mendes quis, entre 2005 e 2006, frequentar o curso de pós-graduação em Ordenamento do Território e Gestão do Turismo Sustentável, no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa.
Com uma “vontade enorme de aprender e de conhecer coisas novas”, acabou por ficar na capital portuguesa, onde trabalhou numa editora na área da informática e das tecnologias de informação e comunicação (TIC). Pouco tempo depois, foi convidado para trabalhar, como redator (durante 11 anos), na revista “Comunicações”, da Associação Portuguesa para o Desenvolvimento das Comunicações, organização com fins científicos e culturais que visa contribuir para a análise das comunicações e das tecnologias de informação e média, num cenário de acelerada revolução digital.
O regresso a Coimbra deveu-se a razões do foro familiar e também porque Raúl Mendes queria um trabalho em que pudesse “lidar diretamente com as pessoas, todos os dias”, capaz de “mudar vidas, como sucede com o exercício do jornalismo local”. Em 2013, terminou o mestrado em História de Arte, Património e Turismo Cultural.
“A história da arte virou-me a vida e colocou-me, felizmente, onde estou”, declara ao VM, contando que, antes, tinha feito voluntariado no Museu Nacional de Machado de Castro, onde ainda colabora com o projeto “EU no museu”, desenvolvido desde 2011. Vocacionada para doentes de Alzheimer, esta iniciativa visa a inclusão social das pessoas com demência, com base no modelo de estimulação cognitiva do Museu de Arte Moderna de Nova Iorque, envolvendo também os cuidadores para a fruição de obras de arte.
“Foi nesse projeto que eu percebi que os museus são uma ferramenta de transformação das pessoas”, afirma o atual coordenador do Museu da Misericórdia de Coimbra, o qual procura explicar aos visitantes que os museus não são espaços apenas reservados para os conhecedores de história da arte.
Quando as pessoas entram pela primeira vez no museu, Raúl Mendes procura que derrubem os tabus e as ideias preconcebidas de que são espaços exclusivos para as elites culturais, dando-lhes “ferramentas para que elas próprias, a partir dessa visita, tenham vontade de ir a outros museus e consigam ler a obra de arte”.
“A maior parte das pessoas não tem informação, mas tem interesse. A arte é acessível a todos, mas também é preciso que entendam que, no caso das Misericórdias, estamos ligados à prestação de cuidados sociais e de saúde”, conclui o responsável pelo espaço museológico da Misericórdia de Coimbra.
Voz das Misericórdias, Vitalino José Santos