Nascido em 1934 em Pico de Regalados, Vila Verde, estudou em Braga e licenciou-se em geologia na Universidade de Coimbra. Na academia já dava mostras da sua vertente de liderança, ainda na associação académica durante a segunda metade dos anos 50, ajudando a organizar os primeiros campeonatos universitários desportivos. Tornou-se num dos primeiros hidrogeólogos portugueses no Ministério das Obras Públicas em Lisboa, sendo destacado para diversas partes do país, especialmente por toda a zona do Douro. Durante a década de 60 ingressa na Companhia de Diamantes de Angola, onde chega a administrador e permanece até finais de 77, quando a companhia foi nacionalizada pelo já independente Estado angolano. Seguem-se anos em que ganhou o mundo em diversas localidades, como Brasil, América do Norte, África ou Venezuela, ao serviço da Instituto de Participações do Estado, onde permanece até 1996, dividindo-se entre Braga e Lisboa.
Irmão ativo da Misericórdia de Braga desde 1974, assumiu, em paralelo com a vida profissional, diversas funções. Fez parte do conselho fiscal da Santa Casa e em 1999 passou a integrar a mesa administrativa e assume funções de vice-provedor. Em finais de 2003, quando poderia pensar dedicar-se em pleno à reforma, abraça aquele que terá sido o desafio maior da sua vida, assumindo o leme da Misericórdia à qual pertencera nos últimos 30 anos.
Outras responsabilidades juntaram-se à liderança da Santa Casa de Braga, como o Secretariado Nacional da União das Misericórdias Portuguesas (UMP), onde foi responsável pelas áreas do património e do turismo, fazendo questão de frisar ter sido uma honra ter trabalhado com Manuel de Lemos e Mariano Cabaço. A lista não termina por aqui: integrou o conselho fiscal da Cooperativa Agrícola de Barcelos, a comissão diocesana para os bens patrimoniais da diocese de Braga, tendo sido ainda presidente dos conselhos fiscais do centro de solidariedade de Braga (Projeto Homem), da Associação de Apoio aos Deficientes Visuais de Braga e vice-presidente da assembleia geral da APPACDM de Braga.
Obviamente que ao longo destes anos à frente da Misericórdia de Braga, Bernardo Reis teve grandes realizações, tendo também enfrentado situações difíceis. Na conversa com o VM, conta que a recuperação das igrejas da Misericórdia e do antigo Hospital de São Marcos mereceram-lhe muito afinco e entusiasmo.
O maior desafio igualmente aflora com facilidade nas suas memórias: a devolução, em 2011, do antigo Hospital de São Marcos, que até então integrava o Serviço Nacional de Saúde. Nacionalizado no pós-25 de abril, constitui-se por seis edifícios com quase 50 mil metros quadrados, cuja conservação poderia ter posto em xeque o equilíbrio financeiro da Misericórdia, ficando a ruína das edificações à espreita.
Através de um trabalho em grupo com apoios da UMP e um espírito de abertura e criatividade, conseguiu-se recuperar gradativamente este complexo. Em três destes edifícios instalou-se o Hotel Vila Galé de Braga. O edifício do Palácio do Raio, com apoios de fundos comunitários, foi reformado e ali instalou-se o Centro Interpretativo das Memórias da Misericórdia de Braga, convertendo-se num dos locais de referência no turismo, cultura e investigação académica da cidade. O edifício do bloco operatório passou a albergar o Hospital Lusíadas, restando somente o pavilhão sul, denominado António Maria Santos da Cunha, onde se instalarão no futuro diversas novas valências da Misericórdia, como cuidados continuados e residências assistidas.
Voz das Misericórdias, Alexandre Rocha