Gosta de flores e recita poemas. Manuel Carraco dos Reis é oriundo de uma família de pequenos agricultores. O seu pai casou, aos 42 anos (após o falecimento da primeira mulher), com uma rapariga de 17 ou de 18 anos que viria a ser a sua mãe. Ele é o quinto dos rapazes, sucederam-lhe duas raparigas. A mais nova tem, agora, 75 anos. Dos sete irmãos, Manuel ficou “um pouco mais diminuído” na estatura, o que o leva a gracejar: “Sou do restolho! A primeira semente é mais bem constituída”. Refere-se, neste caso, ao irmão mais velho (José Carraco dos Reis), que seria ordenado padre. Este seu irmão foi professor e fundador do Externato Fernão Mendes Pinto (onde Manuel igualmente deu aulas), tendo presidido à comissão administrativa da Misericórdia que ajudou a reerguer, depois de uma situação difícil da instituição a que Manuel Carraco também dedicou quatro décadas da sua vida, com diferentes responsabilidades nos corpos sociais.
“O meu pai era um estudioso, embora autodidata. Ele não tinha concluído qualquer classe do ensino primário, mas sabia ler, escrever e contar”, recorda Manuel Carraco dos Reis, reconhecendo que deve muito do que é “ao peso da hereditariedade e da educação familiar”. “O meu pai era muito exigente, mas era justo e sempre teve a preocupação de que os filhos seguissem caminhos relativamente seguros”, sublinha.
O percurso de vida de Manuel Carraco dos Reis foi múltiplo, embora sempre bem alicerçado. “A minha infância foi dura, mas bonita. A nossa professora vinha a pé do Sobral, onde morava, passava na Atouguia e íamos dali – rapazes e raparigas, em grupo com ela – até à escola primária (mista) em Porto Godinho, que abrangia as crianças daqueles três lugares”, recorda com saudade, sobretudo da professora. “Ela dizia aos meus pais que eu cumpria, completamente, o que era preciso em cada ano”, refere, esclarecendo que, entre os 10 e os 14 anos de idade, frequentou o seminário, mas concluiu o então Curso Geral dos Liceus, na Figueira da Foz. Pouco depois, terminava o Curso do Magistério Primário, em Coimbra, cidade onde iniciou a sua atividade de professor, simultânea com a frequência da Faculdade de Direito, na qualidade de voluntário, tendo interrompido a licenciatura com a chamada para a tropa.
“Entrei na Escola Prática de Infantaria, em Mafra, e fiz o Curso de Oficiais Milicianos. Eu não tinha altura para estar na tropa! Exigiam um metro e 62 centímetros e eu tinha um metro e 56 centímetros, mas fui repescado porque era preciso carne para canhão. Fui para um batalhão de cavalaria, na Guiné, no princípio de 1967. Nunca assisti nem participei em combates, mas vivi a tensão da guerra”, esclarece Manuel Carraco.
Em 1987, também já licenciado em História, foi deputado na V Legislatura da Assembleia da República, tendo integrado o grupo parlamentar socialdemocrata. O gosto pela participação política estimula-o para o poder local. Presidiu à Assembleia Municipal e à Câmara Municipal de Montemoro-Velho, de 1989 a 1993, sucedendo ao socialista João Pinto Correia. Aos 52 anos, vê-se na situação de reformado. Assim, decide cursar a licenciatura de Solicitadoria e voltar, com mais disponibilidade, à Misericórdia onde tinha sido presidente da Assembleia Geral. Foi provedor da instituição durante 22 anos e garante que, sempre que julguem necessária a sua participação, estará “disponível para ajudar”. “As Misericórdias passam momentos difíceis, mas têm futuro”, conclui.
Voz das Misericórdias, Vitalino José Santos