A história da sua trajetória começa nos difíceis anos do início da crise que se abateu na primeira década deste novo século, em 2008, quando Manuela inicia a sua licenciatura em história na Universidade do Minho. Ainda que a princípio lhe pudesse, como é comum à maior parte dos estudantes, subsistir dúvidas, confessa-nos em conversa que “o futuro teria de passar pela história, pela investigação, pela valorização do nosso património e da nossa memória”.
A continuação dos estudos no mestrado em história foi uma transição natural. Foi nesta altura que Marta Lobo, uma das suas professoras, a convidou para integrar o projeto de investigação que coordenava, conjuntamente com Viriato Capela, sobre os 500 anos da Misericórdia de Braga. Tendo um acesso privilegiado aos arquivos da Santa Casa, o seu trabalho de curso versou sobre uma instituição de reclusão feminina gerida pela Santa Casa, o Recolhimento de Santo António do Campo da Vinha. Este existiu entre 1607 e 1911, destinado a acolher mulheres pobres, numa altura em que só as Misericórdias assumiam o papel de apoio social à população mais carenciada.
O trabalho desenvolvido tanto no projeto de investigação quanto no mestrado despertou a atenção do provedor, Bernardo Reis, que em 2013 a convida para continuar a colaborar com a instituição no âmbito do programa de comemorações dos 500 anos da Misericórdia e especialmente dar apoio ao setor cultural e do património. A estas funções somam-se outras de cariz administrativo e de assessoria, que, no entanto, Manuela considera terem sido importantes, pois mais tarde serviriam para completar o portfolio de habilitações necessárias para gerir o CIMMB. No ano seguinte, supervisiona mesmo o projeto de requalificação do Palácio do Raio, cuja candidatura a fundos comunitários havia sido finalmente aprovada.
No ano seguinte, passa a coordenar a maior parte das atividades ali desenvolvidas, no âmbito cultural, administrativo, organizacional e de planeamento.
De forma linear, todas estas experiências cimentaram os alicerces do convite que lhe foi colocado em 2015: diretora do CIMMB. Mesmo assim, “foi um processo desafiante e intimidante ao mesmo tempo, pois eram funções completamente novas, sobretudo as de coordenar todo um acervo museológico e uma equipa com que iria trabalhar na dinamização do espaço, a somarem-se também a parte da coordenação logística, higiene e segurança, recursos humanos, etc.”, recorda Manuela, que completa: “Sou muito grata pela confiança depositada pelo Dr. Bernardo Reis, pelo constante incentivo que dá a quem com ele trabalha, sobretudo aos mais jovens”. Desde então novas responsabilidades acresceram-se às anteriores, mas o quotidiano de Manuela Machado continuou a orbitar pela coordenação do espaço museológico, a organização e o acompanhamento de atividades, exposições, congressos, colóquios, apresentações culturais, além da inventariação do espólio e património móvel e imóvel e pesquisa documental, pois, como sublinha, “temos uma parte do arquivo histórico sob a nossa alçada, recentemente requalificado, que se encontra disponível para consulta por parte de investigadores”, afirmou.
Esta “ponte” com a investigação tem sido uma tendência bastante presente desde os princípios da criação do centro, tendo-a influenciado, mas sendo também parte da marca pessoal da atual diretora, cujos talentos foram trazidos, numa harmonia perfeita, da academia para as Misericórdias, abrindo alas às novas gerações neste setor social.
Voz das Misericórdias, Alexandre Rocha