Adelina da Costa, 22 anos, chegou à primeira divisão francesa em 2023, depois de um longo percurso formativo na Escolinha de Rugby da Galiza, projeto da Misericórdia de Cascais que acompanha cerca de 200 crianças e jovens, entre os quatro e 18 anos de idade. Em setembro de 2023 a jovem do Bairro Fim do Mundo, em São Pedro do Estoril, partiu para a capital francesa para representar o Stade Français e ser uma das ‘pink rockets’ (foguetes rosa, como são conhecidas).

Nascida na Guiné-Bissau, Adelina mudou-se para Portugal aos sete anos, com a mãe e irmãos, juntando-se ao pai no bairro Fim do Mundo (hoje bairro da Galiza). A ligação ao ATL da Galiza começou então e, de forma inesperada, acabou por ditar todo o seu percurso. “Ajudou na aprendizagem da língua e fiz muitos amigos que me acompanham até hoje. Passávamos a semana juntos, de segunda a domingo, na escola, ATL, treinos de rugby e ao fim de semana, nas atividades organizadas pela Maria [Gaivão, responsável pelo projeto]. Éramos uma grande família. O que eu sou hoje deve-se ao que recebi lá, nas bases”, recorda com carinho.

Muito reservada, de início, o desporto deu-lhe a confiança necessária para se afirmar, mais tarde, como atleta profissional e participar em competições de peso, a nível internacional, “porque, sendo um trabalho em equipa, tens de comunicar e saber integrar-te em diferentes ambientes”, justifica.

A disciplina incutida pelo rigor dos treinos e conciliação da vida escolar e desportiva foi outra das lições adquiridas com esta experiência. Antes de rumar a Paris, o despertador tocava às seis da manhã para assistir às aulas na faculdade, em Lisboa, seguindo direta para os treinos, até às nove da noite, e novamente para casa, após 1h30 em transportes públicos. “Essa rotina foi muito importante, habituei-me a ir das aulas para os estudos no ATL e treinos. E ainda hoje faço isso porque continuo a ser estudante [Engenharia Civil], numa universidade em Portugal”, explica, adiantando que a continuação dos estudos, à distância, foi assegurada com o apoio de professores e colegas, deslocando-se a Lisboa nos períodos de avaliação curricular.

Hoje, essa rotina transmite-lhe segurança numa cidade desconhecida, onde um “café custa quatro euros e os transportes estão sempre cheios”. Vive num estúdio, alugado no centro de Paris, e os dias repartem-se entre os estudos, as aulas de francês e os treinos.

Por se tratar de um plantel semiprofissional, as restantes colegas estudam ou trabalham em simultâneo e reúnem-se de segunda a quinta-feira ao final da tarde para treinar, com uma pausa à sexta e jogos aos fins de semana. “A intensidade de treinos é maior que em Portugal e o campeonato tem muito mais equipas. De início sentia-me muito cansada”, admite.

Ainda não se sente em casa, mas reconhece que a companhia da compatriota Isabel Osório facilita a integração no clube e vida na capital parisiense. O apoio da família e da equipa da Galiza foi igualmente decisivo na tomada de decisão. “Uma das primeiras coisas que fiz foi falar com a Maria e o Rómulo [treinador], que acreditaram em mim e disseram que era uma boa oportunidade”.

Até então, o rugby era um hobbie que levava a sério, mas sem grandes perspetivas profissionais. Depois de um convite recusado para jogar em Espanha, decidiu “dar uma hipótese e ver até onde dá”. “Um dos meus grandes objetivos é chegar à Premiership Rugby [primeira liga inglesa], mas é difícil porque o nosso ranking em Portugal é baixo. Por isso, jogar aqui em França vai ajudar-me a chegar a esse nível”.

Sem esquecer as raízes, na Galiza, Adelina assume o desafio internacional com determinação e coragem, discreta, mas sem vacilar. No médio prazo, os planos são “dar uma oportunidade a Paris” e começar a participar ativamente nos encontros das jogadoras, de sete nacionalidades diferentes: portuguesa, australiana, canadense, argentina, espanhola, uruguaia e belga. Allez Pink Rockets!

 

Da Galiza
ao Stade
Français

Adelina da Costa, 22 anos, chegou à primeira divisão francesa em 2023 para representar o Stade Français. Os primeiros passos no rugby foram dados na Escolinha de Rugby da Galiza, seguindo-se um projeto com o Cascais Rugby (Panteras), o Sporting Clube de Portugal e a seleção nacional, somando várias participações em competições internacionais. A ligação ao ATL da Galiza ditou todo o seu percurso. “O que eu sou hoje deve-se ao que recebi lá, nas bases”, reconhece.

 

Deixar que
façam o seu
caminho

Adelina da Costa faz parte de uma “geração de ouro nascida e formada na Escolinha de Rugby da Galiza desde 2006”, como refere a direção do ATL da Galiza, encabeçada por Maria Gaivão. Segundo a responsável, a intervenção na Galiza remonta a 1983, através de um percurso de autonomia das crianças, jovens e famílias, com a preocupação de lhes “abrir as portas, deixar que façam o seu caminho e nunca desistir deles”.

 

Fotografia: Luís Cabelo

Voz das Misericórdias, Ana Cargaleiro de Freitas