Trabalha na Misericórdia de Galizes desde 2017. Em colaboração com outro enfermeiro, que ali exerce em regime de tempo parcial, Ana Cristina Álvaro presta cuidados de saúde e de vigilância do bem-estar dos utentes (incluindo a higiene, o conforto, a alimentação e a própria segurança), além de executar os tratamentos que lhes vão sendo prescritos.

A sua assinalável narrativa de vida prende-se com a época natalícia de 2020, quando “todos os utentes” e cinco colaboradores do Lar Residencial Casa S. João de Deus, da Misericórdia de Galizes, estiveram infetados com o novo coronavírus. Como foi noticiado, em menos de uma semana, o surto de Covid-19 naquela instituição de referência no apoio à deficiência, então com 39 utentes, circunscreveu-se à “casa mãe” da Misericórdia, não tendo sido verificadas quaisquer ocorrências na Casa Nossa Senhora da Visitação.

“Foi um bocado complicado. Era uma época muito especial para mim, porque o aniversário do meu filho, praticamente, coincide com o Natal. Nessa altura, em que fiquei [voluntariamente] confinada, ele ia fazer quatro anos”, confessa a enfermeira Ana Cristina Álvaro. “Embora não tenha sido forçada por ninguém”, colocou “em primeiro lugar as pessoas que precisavam mais” de si. “Essas foram as minhas prioridades”, declara ao VM, manifestando a sua vontade de, nesse período difícil, mitigar o avanço da pandemia na Misericórdia de Galizes. “São meninos especiais, apesar de serem utentes com deficiência e idades entre os 16 e os 80 anos. São homens e mulheres de várias faixas etárias, portadores de deficiência cognitiva e também com problemas motores, de diferentes tipos”, sublinha a nossa entrevistada, recordando que ficou confinada na instituição, entre 24 de dezembro e 3 de janeiro, acompanhando profissionalmente os utentes e partilhando com eles as vivências e os afetos nesse tempo de acentuada crise pandémica. Felizmente, esteve tudo calmo e sem sintomas graves, além de ligeiros episódios febris e de alguma tosse, perda de apetite, náuseas e diarreia.

“Quando estamos numa situação que não nos é habitual e com muito por conhecer, não há tempo para pensarmos em coisas tristes, nem para melancolias. Temos mesmo de agir sob stress e, com a adrenalina, procurarmos ajudar da melhor maneira”, afirma a enfermeira Ana Cristina Álvaro, a quem “não faltou o que fazer e com tanto por planear”, não obstante o “apoio das auxiliares – cinco delas igualmente confinadas – num trabalho de equipa”. “Embora aparentemente abatida, a nível físico sentia-me bem porque estava a fazer uma coisa de que gosto”, refere esta profissional de saúde, cuja dedicação e mérito a fizeram “esquecer” de que também estava infetada.

Quando a situação melhorou na Misericórdia da Galizes, a instituição homóloga de Tábua ficou sem profissionais de saúde disponíveis para atenderem ao surto de Covid-19 que aí grassava. Por isso, “ao terminar o isolamento” no Lar Residencial Casa S. João de Deus, a enfermeira Ana Cristina Álvaro respondeu, imediatamente, ao apelo do provedor Bruno Miranda que quis auxiliar Santa Casa de Tábua, dirigida por Sandra Mêna. 

“Acabei de enfrentar um surto de Covid-19 e entrei noutro que atingiu pessoas idosas. O trabalho foi mais difícil, porque estão ali 90 utentes, muitos deles com outras complicações e mais dependentes. Na Misericórdia de Tábua, durante uns dias, apenas procurei ajudar a organizar alguns aspetos e, perante os infetados, tentar perceber quem é que estava bem ou mal”, esclarece a enfermeira, que assume um verdadeiro “espírito de missão” na prestação de cuidados a quem necessita. 

“Quando temos família, é diferente: ou damos tempo à família ou damos tempo à profissão. Sou uma pessoa que gosta de estar no terreno. Agora tenho de partilhar e de conciliar as duas coisas, mas é muito gratificante poder contribuir para o bem-estar dos nossos utentes”, expressa a enfermeira Ana Cristina Álvaro.

Voz das Misericórdias, Vitalino José Santos