Pelo que, na hora de prosseguir estudos superiores, a escolha recaiu na licenciatura em História, que fez na Universidade do Minho. "Foi algo que surgiu naturalmente. A paixão pela História sempre me acompanhou", confessa. Inicialmente o plano não era seguir a área da investigação, mas acabou por acontecer e tem sido esse o foco de Ricardo Pessa de Oliveira, que conta já com cinco livros publicados, três dos quais dedicados ao estudo das Misericórdias de Pombal, Redinha e Abiul.
A ligação à história da assistência das irmandades começou em 2013, com um convite do provedor de Pombal que desafiou Ricardo a passar para o papel a história desta Santa Casa. A obra viu a luz do dia três anos depois, desvendando alguns pormenores até então desconhecidos da maioria dos pombalenses, como o facto de o ilustre Sebastião José de Carvalho e Melo (Marquês de Pombal) ter sido provedor entre os anos de 1772 e 1778 e de os destinos desta Misericórdia já terem estado nas mãos de uma mulher.
Durante a pesquisa para o trabalho referente à irmandade de Pombal, o historiador localizou alguns livros e documentos referentes à Santa Casa de Abiul, que tinha sido extinta no século XIX e incorporada na sua congénere da sede de concelho. Na cabeça de Ricardo nascia o projeto de trazer a público a história desta irmandade, sobre a qual "muito pouco" se sabia. A oportunidade aconteceu em 2018. "Tinha ficado sem bolsa de investigação. Apresentei a ideia à Fundação Lourenço Júnior, que é herdeira do papel da Misericórdia de Abiul", recorda o historiador. O projeto acabou por ser abraçado pela Associação Amigos de Abiul e pelo seu presidente Esmeraldo Cunha, com a publicação da obra a ter lugar em 2019, traduzindo para livro a vida da instituição, que funcionou entre os anos de 1592 e 1870. Era, nas palavras do historiador, "uma pequena Santa Casa, modesta, que possuía um património e rendimento muito reduzido.” Talvez por isso é que aquela que era “a Misericórdia mais pobre do distrito de Leiria” acabou extinta em 1870.
Já este ano, saiu do prelo mais um livro, agora sobre a história da Misericórdia da Redinha, também no concelho de Pombal. Foi, no entender do autor, o projeto "mais desafiante", a começar pelo facto de a irmandade não dispor de arquivo.
"Não havia nada. Apenas um livro de atas, bastante incompleto, só com alguns registos de orçamentos para determinados anos e que começava em 1938", conta o historiador que, para deslindar o passado desta irmandade, teve de mergulhar em "inúmeros" arquivos e bibliotecas, públicas e privadas, e de explorar fontes muito diversas. Nesse percurso contou com a experiência acumulada ao longo de anos de estudo do território de Pombal, com a recolha de informação e documentação que agora lhe foi útil.
Mas nem só do estudo de Misericórdias se faz o percurso profissional e académico deste investigador, mestre em História Moderna pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, com a dissertação intitulada "Uma vida no Santo Ofício: o inquisidor geral D. João Cosme da Cunha". É também doutorado em História Moderna por esta instituição, com a tese "Sob os auspícios do Concílio de Trento: Pombal entre a prevaricação e o disciplinamento (1564- 1822). Neste seu trabalho, contou com uma bolsa de doutoramento atribuída pela Fundação Calouste Gulbenkian.
Ricardo Pessa de Oliveira é, desde 2020, investigador auxiliar do Instituto Europeu de Ciências da Cultura Padre Manuel Antunes, instituição à qual já tinha estado ligado como bolseiro de investigação. Em mãos tem o estudo sobre a obra completa de Marquês de Pombal, que junta uma equipa multidisciplinar e que pretende proceder à identificação, levantamento, transcrição, anotação e edição criticamente anotada de toda a obra escrita de Sebastião José de Carvalho e Melo.
Voz das Misericórdias, Maria Anabela Silva