Marta Poppe nasceu em Bruxelas, em dezembro de 1975, viveu três anos no Brasil e cresceu em Portugal, entre Cascais e Lisboa. Hesitou entre a profissão de médica e fotógrafa, mas, no fundo, “sempre soube que quando fosse grande ia ser fotógrafa”. Lembra-se de ter o quarto povoado de fotografias, feitas por si e outros, e da paixão da mãe pela fotografia, que chegou a montar uma câmara escura em casa. A fotografia ficou, contudo, para segundo plano, na hora de definir o percurso profissional. “A minha mãe quis que eu tirasse uma licenciatura”. A escolha foi comunicação empresarial e o primeiro emprego numa produtora televisiva. “Gostei imenso, mas percebi que não queria fazer aquilo para o resto da vida”, recordou.
Resgatou a paixão e talento pela fotografia, que sempre a acompanharam, e integrou a redação do Jornal de Negócios, com a orientação do editor Miguel Baltazar. “Foi a melhor escola [de fotojornalismo] que tive, o Miguel é um grande fotógrafo e foi o meu mentor”.
O nascimento da filha ditou outro rumo para a sua vida e, em 2010, decidiu ir viver para Óbidos com a família, tornando-se fotógrafa freelancer. “Fazia alguns trabalhos na área do jornalismo, eventos de empresas e particulares e fotografia de arquitetura e interiores”.
A Misericórdia de Almada cruzou-se com o seu percurso em 2015, por intermédio de Sofia Valério, diretora coordenadora técnica, e desde então “ficou com vontade de ajudar mais”, através de projetos de sensibilização da comunidade para a missão e atividade da instituição.
O primeiro desafio foi fotografar utentes com demência e a sua interação com as famílias, no âmbito do projeto “Conviver com as demências”, para um calendário e exposição que visaram “sensibilizar para o tema e mostrar um lado mais positivo e alegre destas pessoas, sem explorar a miséria e a tristeza”.
Esta primeira colaboração com a Santa Casa marcou-a de tal modo que o regresso foi inevitável, envolvendo outros serviços e áreas de atuação, como o projeto de educação para a cidadania e diversidade cultural “Somos de todo o mundo”, no Centro Social da Trafaria, em 2018, e, mais recentemente, a homenagem aos trabalhadores “Olhar com o coração”.
A ideia surgiu em 2022 depois de testemunhar a entrega e dedicação à causa social no apoio a crianças, jovens, idosos e famílias em contexto de vulnerabilidade. Nos diferentes contactos com a instituição, Marta sensibilizou-se com a dedicação das equipas, em funções exigentes e com pouca visibilidade, e decidiu homenagear as pessoas que “merecem isto e muito mais”.
A primeira imagem foi divulgada em novembro de 2022, nas redes sociais da Santa Casa, e desde então as quartas-feiras são marcadas pela publicação de uma fotografia com o comentário de um convidado.
Para esta fotorreportagem, Marta Poppe tem acompanhado a intervenção junto das famílias, apoiadas pelo Centro Comunitário Pia II, em visitas de proximidade que exigem “imenso cuidado, sensibilidade, mas acima de tudo, respeito pelas pessoas”.
São imagens que interpelam o olhar, que confrontam realidades, que retratam percursos de autonomia, histórias de solidão, entreajuda, coragem e desalento. A par da filha, que é o “seu maior e melhor projeto de vida”, as imagens que falam ao coração são o legado de Marta num tempo de desigualdades. “Não podendo contribuir de outra forma, ajudo com a fotografia”.
Voz das Misericórdias, Ana Cargaleiro de Freitas