Infância Pamplona, provedora da Santa Casa da Misericórdia de Santar e administradora delegada do Centro Santo Estevão, em Viseu, foi a primeira mulher a integrar o Secretariado Nacional da União das Misericórdias Portuguesas (UMP), no primeiro mandato de Manuel de Lemos (2007 a 2009), quebrando barreiras numa instituição historicamente dominada por homens.

A sua nomeação para o órgão responsável pela coordenação e representação das Misericórdias de Portugal foi uma decisão de grande relevância recebida com “surpresa e perplexidade”, pois “nunca tal me ocorrera”, revela a provedora.

Infância Pamplona recorda com particular satisfação “o dia da tomada de posse”, pois, “sem me aperceber, tinha todas as trabalhadoras da União das Misericórdias presentes e houve uma ovação enorme. Foi nesse momento que tive consciência de que esta nomeação era muito mais que um cargo, e da dimensão que tinha para todas as mulheres que trabalhavam nas Misericórdias, por ter uma mulher neste órgão”, refere.

Sublinha ainda que “à medida que fui tendo conhecimento da importância do lugar devo confessar que me fui assustando”, contudo, “reconheço que a visão do Dr. Manuel de Lemos, de valorizar o papel das mulheres, também nas Misericórdias, já era uma visão de futuro e principalmente de quebrar barreiras”. Na altura “senti-me lisonjeada, mas, à medida que o tempo decorria, maior era o sentido de responsabilidade”, diz.

Infância Pamplona refere ainda que “fui muito bem aceite neste órgão. Nunca senti qualquer tipo de pressão ou constrangimento e tive o apoio incondicional dos restantes membros do Secretariado Nacional. Da parte dos meus colegas houve sempre integração e apoio”.

A presença feminina no Secretariado Nacional da UMP, passados todos estes anos, ainda não é a desejada, o que para a provedora reflete “o que acontece nas estruturas a nível do país, quer nas governamentais, quer nas empresariais”.

A justificação que apresenta prende-se com o facto de as mulheres terem ainda um papel muito preponderante na vida familiar, "com mais responsabilidades e, eventualmente, não terem a mesma disponibilidade, logo menos oportunidades”, mas sublinha que “há mulheres com muito valor, que se afirmam pelo seu trabalho de excelência”.

Às mulheres que desejem ocupar cargos de liderança em instituições, Infância Pamplona aconselha que “temos que nos afirmar pelo que somos, pelas capacidades que temos, com sentido ético, de responsabilidade e, como em tudo na vida, temos de ter a humildade para percebermos que todos os dias aprendemos e que sozinhos não somos nada. O facto de podermos partilhar estes órgãos com homens e mulheres só enriquece o grupo, porque a riqueza está na diversidade”.

Certa que, hoje em dia, “as mulheres criaram competências e têm-se vindo a afirmar”, acredita que, futuramente, “a representação das mulheres, também nas Misericórdias, vai ser maior e esta diferença entre uma gestão feita por homens e por mulheres penso que se vai esbater. O fator principal será a competência, independentemente do género”, finaliza.

Infância Pamplona é provedora da Santa Casa da Misericórdia de Santar desde 2008, tendo sucedido uma mulher no cargo: Lucília Paiva, falecida na sequência de um acidente de automóvel.

Depois de sair do Secretariado Nacional da UMP, em 2012, assumiu o cargo de administradora delegada do Centro Santo Estevão, equipamento da UMP em Viseu dedicado a pessoas com deficiência. Desempenha ainda hoje essas funções e recentemente foi eleita presidente do Secretariado Regional da UMP do distrito de Viseu.

Voz das Misericórdias, Cármina Fonseca