Ligado à Santa Casa da Misericórdia de Seia desde 2001, primeiro, como secretário, depois, como provedor, Fernando Béco é hoje presidente da Assembleia Geral e voluntário na instituição onde criou um coro gregoriano.

Professor de música, fez o seu primeiro concerto, em Angola, no início da década de 70. Um concerto de Natal, com crianças. Da sua passagem pela Guiné-Bissau recorda “uma experiência muito interessante porque, pela primeira vez, na Guiné, se formou um coro, com a designação que conhecemos e fizemos vários concertos”. Já perdeu a conta aos concertos que deu na vida. Em Portugal “mais de mil por todo o país, mas também em Itália, na República Checa, em França e em Espanha”.

A música é o elo de ligação da sua história de vida que também foi feita de entrega à causa da Misericórdia de Seia, onde foi provedor durante nove anos e sobre os quais recorda o valioso e grande legado que deixou à instituição. Numa altura em que foi necessário realizar obras em vários edifícios, a sua passagem pela Misericórdia de Seia ficou marcada pelo crescimento, a vários níveis.

“A creche foi aumentada em quatro salas, hoje temos ali 200 crianças, na creche e jardim. O lar foi também aumentado em mais três salas, onde se fazem conferências e onde idosos e funcionários passam os momentos de lazer e a fazer trabalhos manuais, e depois a menina dos olhos, que é a unidade de cuidados continuados, que foi muito difícil, mas conseguimos idealizar, projetar, executar e pôr a funcionar, com 44 camas.”

Um crescimento que foi acompanhado pelo aumento do número de funcionários que passou, em menos de uma década, de 49 para 140. Mas há ainda um legado que quer deixar à Misericórdia, um coro gregoriano, que criou há quatro anos e que lhe ocupa o tempo: “É a minha maneira de colaborar com a Misericórdia.

Ocupa-me muito tempo, porque um concerto tem de ser preparado com uma orientação precisa daquilo que se vai fazer, as coisas têm de ser pensadas e trabalhadas antes e isso leva tempo.” Um trabalho que está a valer a pena, conforme refere Fernando Béco: “Estou convencido que vamos atingir um grau razoável do canto gregoriano”.

Existe também um outro projeto, ligado à música, que lhe ocupa, pelo menos, três horas diárias: o piano.

“Em 2017 comecei com um novo projeto, pessoal, para colmatar uma lacuna que eu sempre tive, que é o piano. Comecei a tocar quatro horas diárias no piano, depois, as tendinites vieram ter comigo e tive de diminuir para três horas que mantenho, diariamente.”

Já fez algumas apresentações, na Misericórdia, e do seu repertório fazem parte peças eruditas, música tradicional, popular portuguesa, êxitos estrangeiros e peças sacras. Para além da gravação de um trabalho, tem um sonho, que quer concretizar quando completar 80 anos: “fazer um concerto de piano com pianistas de renome nacional”.

Objetivos e sonhos para concretizar, até para lá dos 80, não faltam a Fernando Béco, que até já marcou a data de início do novo projeto, publicar um livro. “Tenho muita informação que queria passar a limpo, narrativa de muitas histórias vividas, mas esse projeto só vai começar em 2029.”

Se fosse o livro da sua vida seria escrito na pauta, já que a música é o elo de união das vivências multifacetadas que teve. “Passei por muito lado, estive em muitos ambientes, vivi em diversas circunstâncias”. Hoje, apesar dos projetos que tem em mãos, a que se junta o gosto pela agricultura, considera ter uma “vida mais calma”, onde há cada vez mais envolvência com a música, porque é saudável”.

Se há uma lição a tirar da vida, que o está a marcar neste momento e que partilha do alto dos seus 78 anos, é a capacidade que vai descobrindo à medida que os anos passam. “É nós sermos persistentes, termos a capacidade de resiliência, num determinado trabalho e ver que é possível evoluir, independentemente da idade”, conclui Fernando Béco.

Voz das Misericórdias, Paula Brito