Cinco mulheres são as embaixadoras da mudança através de uma marca cujo propósito é promover oportunidades e lutar contra a discriminação

Antónia, Cândida, Dolores, Susana e Vânia. Cinco mulheres. Cinco mães. Cinco ciganas. Unidas pela etnia e por laços familiares e juntas na luta por um futuro melhor. Melhor para os seus pares, mas não só. Estão a marcar a diferença pelas melhores razões. Estão a deixar uma marca na luta contra a discriminação. Agem pela igualdade, pela paz, por um mundo mais sustentável e equilibrado. As conquistas são geridas “a medo”, mas saboreadas “com orgulho”. O VM esteve no Centro Comunitário de Geão, da Misericórdia de Santo Tirso, onde a ‘Nova Sina’, marca registada destas cinco embaixadoras da mudança, nasceu e cresce diariamente.

O desafio chegou através da Rede Europeia Anti Pobreza: desenvolver um projeto de participação comunitária. “Aceitámos o desafio e escolhemos a comunidade cigana, nomeadamente, as mulheres ciganas”, começa por explicar Liliana Salgado, diretora de Serviços Sociais e Qualidade na Misericórdia de Santo Tirso.

Com financiamento da Fundação Aga Khan Portugal e da Fundação La Caixa, seguiu-se a fase de “desenhar o projeto”. “O objetivo era perguntar-lhes, a elas, quais as suas preocupações e motivações, quais os seus sonhos”, esclarece Liliana Salgado, acrescentando que, tendo por base uma metodologia comunitária e participativa, era fundamental “ouvir os beneficiários”. “Sentimos que os projetos, por vezes, não têm sucesso porque não têm a intervenção das próprias pessoas. Assim, quando se envolvem desde o primeiro momento, eles próprios também se sentem responsáveis pela continuidade. Ou seja, não é um projeto desenhado pela Misericórdia, mas desenhado em conjunto com elas”, acrescenta.

De um grupo inicial de cerca de duas dezenas de mulheres, hoje são cinco. Diagnosticaram problemas como falta de oportunidades de emprego e más condições de higiene e ambientais do bairro onde habitam. De partilha em partilha, as ideias foram sendo alinhadas e a ‘Nova Sina’ ganhou vida. Através de reutilização de lonas publicitárias, foram definidos três produtos a desenvolver: avental, tote bag e shop bag.

“O meu sonho é sair do bairro”. “Eu sonho com o dia em que tenho carta de condução e liberdade para ir onde quiser”. “Sonho com um salário fruto do meu trabalho e não do rendimento mínimo”. As palavras são ditas pelas próprias. Hoje, acreditam que os sonhos podem tornar-se realidade. Mesmo assim, é com cuidado que os dizem em voz alta. “Ainda há muita gente que nos olha de lado. Mesmo na nossa comunidade, quando saímos de manhã questionam para onde vamos e o que fazemos. Com este projeto queremos mostrar, a todos, que somos capazes e que merecemos as mesmas oportunidades”, defendem estas mulheres, agora mais empoderadas do que 12 meses atrás.

Diante das suas mesas de trabalho há tesouras, máquinas de costura, verniz, tinta, carimbos e tudo aquilo que envolve a produção dos três produtos da linha ‘Nova Sina’. Dedicadas e atentas, esforçam-se, afincadamente, para que o resultado final seja “surpreendente”.

Uma viagem de avião a Lisboa, uma noite na capital e um concerto do Nininho Vaz Maia são, até ao momento, alguns dos sonhos concretizados. Mas o céu é o limite. “Criar o nosso próprio negócio, a nossa empresa, e sempre juntas continuarmos a crescer e a defender a igualdade”, deseja Vânia. A família nuclear destas mulheres já foi conquistada e manifestam orgulho nas metas alcançadas. Segue- -se conquistar toda a comunidade e o tecido empresarial, mostrando que são capazes de fazer tudo aquilo a que se propuserem. “Basta que nos sejam dadas as mesmas oportunidades”, reclamam.

Voz das Misericórdias, Vera Campos