“Dediquei este livro ao meu pai, Manuel Pais Vieira Júnior, pelo exemplo de incomensurável amor e dedicação à Santa Casa da Misericórdia de São João da Madeira e que fez criar em mim uma admiração semelhante”. É desta forma que Pais Vieira, atual provedor, começa por referir-se ao livro da sua autoria, apresentado no passado dia 13 de novembro com o título “Subsídios para a História da Santa Casa da Misericórdia de São João da Madeira”. A edição foi apresentada ao público no âmbito das comemorações do primeiro centenário da Santa Casa.

Este livro resulta de um trabalho exigente, que durou mais de três anos, com a leitura de milhares de páginas das atas da mesa administrativa e da assembleia geral da Misericórdia, assim como a leitura de doze anos dos semanários locais. “Muitos outros documentos e jornais foram igualmente objeto de consulta”, revela Pais Vieira, acrescentando que “compilar num livro todo o resultado das pesquisas, dar-lhe uma forma singela, de fácil leitura para manter o leitor atento, também exigiu muito trabalho para compensar alguma falta de inspiração”, sublinha.

Entre 1998 e 2010 (período retratado no livro), já o atual provedor, aqui na pele de “escritor”, fazia parte da mesa, podendo, por isso, descrever com exatidão os acontecimentos narrados. Neste período existiu um momento mais complexo. “Houve um provedor que não cumpriu com as regras da instituição, gastava dinheiro em coisas não essenciais e teve a vontade de ganhar dinheiro com a Misericórdia. Os mesários tiveram de lhe fazer frente e ele acabou por pedir a demissão, deixando a Santa Casa numa situação muito difícil”, recordou Pais Vieira que resolveu incluir este episódio no livro, apesar de ter recebido recomendações para não o fazer. “Não podia sonegar a história da instituição que é feita por homens e por mulheres que, de um modo geral e esmagador, pensam, lutam e trabalham para a engrandecer”, sustentou.

O livro contém histórias felizes que engrandeceram a instituição ao longo dos anos. Entre as muitas personalidades destacadas, há um homem que merece rasgados elogios de Pais Vieira: “Álvaro Pacheco foi um provedor que não o queria ser, que as terríveis circunstâncias a isso o obrigaram e que soube com sabedoria, paciência e muita dedicação congregar todos à sua volta e recolocar a Misericórdia no lugar que os Irmãos desejavam”, elogiou.

O livro tem o objetivo de elucidar os irmãos e os sanjoanenses das dificuldades da instituição e da sua riquíssima história, dando igualmente a conhecer o trabalho e a dedicação de provedores, mesários, outros elementos dos órgãos sociais, do diretor de serviços e colaboradores da Misericórdia de São João da Madeira.

A apresentação do livro “Subsídios para a História da Santa Casa da Misericórdia de São João da Madeira” foi a segunda manifestação pública do programa comemorativo do primeiro centenário da instituição. O programa comemorativo arrancou no passado dia 20 de outubro com a celebração de uma eucaristia presidida pelo Bispo do Porto, D. Manuel Linda, e culminou, a 8 de novembro, com uma sessão solene onde foi descerrado um busto do provedor Manuel Pais Vieira Júnior, que esteve 36 anos à frente da Misericórdia, e um almoço-convívio entre convidados e funcionários.

Para o provedor Pais Vieira, “a Misericórdia representa dar vida a um sonho dos sanjoanenses do principio do século passado com a construção de um hospital. Fazer um hospital naquela altura era quase utópico”. O responsável lembra ainda que São João da Madeira era então “freguesia com poucos habitantes pertencente ao concelho de Oliveira de Azeméis”. Foi necessário criar uma instituição que administrasse e governasse o hospital, nascendo a Santa Casa da Misercórdia.

Com mais de 300 funcionários e atendimentos diários que prestam apoio diário a mais de um milhar de pessoas através de um leque muito variado de respostas, o provedor destaca “o trabalho essencial” desenvolvido na saúde através da unidade de cuidados continuados, na terceira idade, na infância e na deficiência.

Voz das Misericórdias, Paulo Sérgio Gonçalves