À hora marcada, 11h30, Marcelo Rebelo de Sousa chega com o habitual sorriso rasgado e andar descontraído. Em poucos minutos, está sentado à conversa com alguns beneficiários do serviço da cantina social da Misericórdia sanjoanense. Fica a conhecer vidas marcadas pelo álcool, pela droga e outras dependências. Ao mesmo tempo, ouve com atenção as mudanças operadas com o apoio da Misericórdia e da autarquia local que, trabalhando em cooperação, permitem que estas vidas tenham um futuro mais promissor.
Da reabilitação aos apartamentos de autonomização, a intervenção social junto destas pessoas merece sinceros elogios de Marcelo Rebelo de Sousa. “Gostei muito de vos conhecer. Estão com um bom ar, com saúde, e assim devem continuar”, manifesta o Presidente da República, para instantes depois ceder ao pedido para algumas ‘selfies’.
O Senta.Com funciona diariamente ao almoço e ao jantar e permite que as refeições aconteçam ali mesmo, numa sala convertida em refeitório, ou em regime de takeaway. As refeições são cuidadosamente preparadas pelas cozinheiras da Misericórdia. Todos os pormenores são pensados em prol do bem-estar dos beneficiários do serviço. Por exemplo, em vez de uma maçã crua, na sobremesa poderá encontrar-se maçã cozida ou assada, atendendo a possíveis problemas de dentição. A viagem segue para a sede da Misericórdia de São João da Madeira, onde decorre a sessão solene, a inauguração do Monumento do Centenário e o descerramento do busto do antigo provedor, Manuel Pais Vieira Júnior.
‘Vencer a guerra da sustentabilidade’
Os desafios do setor social, em concreto as dificuldades financeiras que têm marcado a atualidade nacional e mundial, dão o tom aos discursos dos intervenientes na sessão solene. Manuel de Lemos, presidente da União das Misericórdias Portuguesas (UMP), enaltece a presença de Marcelo Rebelo de Sousa, “sempre interessado e com vontade de ajudar o setor social, com disponibilidade permanente e contínua para com os mais desprotegidos” e destaca que, depois da pandemia, “é preciso vencer a guerra da sustentabilidade”. “Temos de ter consciência de que vamos viver tempos difíceis e o apoio do Presidente da República vai ser determinante para que os nossos sonhos não fiquem interrompidos, para que possamos continuar a ajudar quem mais precisa”, refere Manuel de Lemos.
O provedor José António Pais Vieira reforça a vontade de continuar a melhorar e a servir cada vez mais e melhor. “O futuro começa agora. Deixem-nos continuar a sonhar”, conclui, após sublinhar os investimentos previstos para o futuro. “Em ano de centenário e apesar das dificuldades, temos novos investimentos com valor superior a um milhão de euros”. Entre os objetivos, pretende-se aumentar o número de vagas em algumas das valências da Misericórdia sanjoanense.
Quase a encerrar a passagem por São João da Madeira, Marcelo Rebelo de Sousa elogia a capacidade desta e de tantas outras Santas Casas, que “chegam onde o Estado não consegue chegar”. “Ninguém se realiza sozinho. Nós não somos ilhas. Vivemos em comunidade e realizamo-nos em comunidade. Uma Misericórdia forte faz uma comunidade mais fortalecida”.
O Presidente da República reconhece o papel de instituições como a Misericórdia, assumindo que são “fundamentais para a subsistência do tecido social”, mas deixa um apelo para que sejam criadas “regras plurianuais que permitam alguma certeza” para as instituições, cujo trabalho não poderia ser levado a cabo pelo Estado, sendo ainda “impossível e indesejável esperar que espontaneamente” os problemas sociais se resolvam pelo “funcionamento do mercado”. “É difícil que o Estado intervenha a não ser definindo quadros, colaborando, criando condições para que seja possível a atuação no terreno”, conclui.
A terminar, Marcelo Rebelo de Sousa homenageou o antigo provedor, Manuel Pais Vieira Júnior, agraciando-o, a título póstumo, com o grau de Comendador da Ordem do Mérito. A comenda foi entregue à família durante a sessão. No mesmo dia, a Misericórdia inaugurou, ainda, um busto em homenagem ao benemérito e ex-provedor, assim como um monumento que assinala o centenário da instituição.
Voz das Misericórdias, Vera Campos