A Misericórdia de São Tomé e Príncipe inaugurou recentemente um lar de idosos na Região Autónoma do Príncipe, financiado por uma campanha conduzida pelo Frei Fernando Ventura. O equipamento acolhe duas respostas sociais, Lar São Francisco de Assis e Centro de Dia Santo António do Príncipe, distribui mais de 60 refeições diárias no domicílio dos idosos e assegura cuidados de saúde aos utentes e comunidade em geral. Para apoiar esta intervenção na ilha, a Santa Casa beneficia de uma parceria com o grupo hoteleiro HBD Príncipe, de donativos de particulares e empresas e do financiamento da cooperação portuguesa.

Mas toda a “ajuda adicional é bem-vinda” para melhorar a assistência prestada à população, numa ilha onde falta quase tudo, conforme lembraram ao VM o provedor Acácio Elba Bonfim e um dos benfeitores da instituição, Frei Fernando Ventura. A contribuição pode ser feita em bens alimentares, medicamentos, voluntariado ou dinheiro, conforme detalham na página web (www.scmstp.com/donativos), mostrando-se igualmente disponíveis para parcerias com as Santas Casas portuguesas, a União das Misericórdias Portuguesas e outras entidades.

“Estamos abertos ao diálogo e partilha de ideias, inclusive em termos de formação e envio de voluntários para apoiar em diversas áreas. Os voluntários que nos chegam de fora são essencialmente portugueses”, comentou o provedor, numa videochamada intercontinental, onde detalhou a ampla intervenção comunitária em mais de 35 localidades e 19 projetos, mais de 3500 refeições diárias e 3000 pessoas apoiadas, desde a infância à terceira idade.

Na área da infância e juventude, a Santa Casa dispõe de estruturas ensino pré-escolar e desenvolve atividades de apoio ao estudo (explicações e aulas de informática) para crianças do ensino primário e público juvenil, garantindo ainda duas refeições diárias às crianças que frequentam os jardins de infância. Nalgumas localidades, como Ribeira Afonso, onde a Santa Casa acolhe 120 crianças, entre os três e cinco anos, no Centro Social de Apoio à Infância, o apoio alimentar é essencial porque as carências nutricionais são evidentes. “Algumas crianças chegam à escola a desfalecer e precisam muito deste apoio”, adiantou o provedor.

O apoio à população idosa, nas duas ilhas, é concretizado no terreno por seis equipamentos (centros de dia e lares), em três distritos de São Tomé (Água Grande, Mé-Zóchi e Cantagalo) e ilha do Príncipe, que levam ainda refeições, água e medicamentos a centenas de pessoas no domicílio. Em muitos casos, o provedor refere que é necessário fazer a distribuição dos bens em roças (comunidades agrícolas) mais remotas, sem saneamento e acesso a água potável.

Em todos estes projetos, o apoio social é complementado por cuidados de saúde (médicos, de enfermagem e acesso a medicamentos) aos utentes que beneficiam diretamente das respostas desenvolvidas, mas também à população das localidades envolventes. O objetivo é colmatar as lacunas existentes na rede de assistência sanitária no país. “Há comunidades onde não há sequer um centro de saúde e as distâncias são muito grandes”, referiu o responsável, destacando, como exemplo, a “rede de saúde, nas roças, para atender a pessoas próximas da comunidade e outras mais longínquas sem acesso a saúde básica, como São Nicolau e Platô”.

O financiamento destes projetos é assegurado a 80% pela cooperação portuguesa e o valor remanescente, que deveria ser coberto pelo Estado santomense, é reunido a muito custo a partir de donativos de particulares e empresas e ainda com o apoio de organizações parceiras como a Associação Amparo da Criança, que envia regularmente bens alimentares (leite em pó, farinhas lácteas), brinquedos, medicamentos e vestuário, destinados sobretudo às crianças (informações relativas a donativos disponíveis em www.bancodeleite.pt/).

Segundo o Frei Fernando Ventura, responsável pela criação do projeto, em 2010, o objetivo desta entidade, mais conhecida por “Banco de Leite”, é colmatar as carências alimentares das crianças no país. “Numa fase inicial, a maior emergência foi conseguir leite em pó, mas enviamos outros bens, apostando sempre nas duas faixas da população mais necessitadas: as crianças e idosos. Nos últimos dois anos e meio pusemos lá 22 contentores”.

Para suprir as dificuldades de tesouraria, que de acordo com o provedor são “sempre muitas”, a Santa Casa desenvolve ainda outros projetos de turismo social, comércio justo e produção agropecuária (aguarda reativação) que “são uma ajuda, mas representam um grão de areia [no orçamento] de tão exíguos que são”.

Destaca, como exemplo, a loja social Ossobô onde comercializam produtos de artesãos locais e o serviço de catering, a funcionar no Lar Dona Simoa Godinho, que permitem angariar “receitas extraordinárias”.

A par destes projetos, a Santa Casa é responsável pela gestão de uma central de processamento de resíduos, que produz bancadas de cozinha, lavatórios e jazigos, a partir de areia de vidro, dando um “pequeno contributo” para a sustentabilidade ambiental num país onde são deficitárias as infraestruturas de recolha e tratamento de lixo.

Inovação e tradição estão de mãos dadas na mais antiga Misericórdia fora do continente europeu, que emprega mais de 130 pessoas, garante alimento, afetos, cuidados de saúde e educação “geradora de conhecimento e transformadora da sociedade”, como se lê no Jardim Paulo Rosário das Neves, a centenas de pessoas a residir nas ilhas de São Tomé e Príncipe. Apesar das dificuldades sentidas, a equipa liderada por Acácio Elba Bonfim multiplica recursos e fica “feliz quando sente que a intervenção da Misericórdia melhora a vida das pessoas”.

Voz das Misericórdias, Ana Cargaleiro de Freitas