O coro gregoriano da Santa Casa da Misericórdia de Seia tem 11 coralistas, todas mulheres, e um maestro que, já depois de ter sido provedor, propôs a criação desta nova valência. “A ideia foi muito bem aceite pela Mesa Administrativa de então”, refere Fernando Béco, acrescentando que o objetivo era ser um coro diferente, daí ser gregoriano.
Ensaiam todas as semanas, às quintas-feiras, no final da tarde. Naquele dia, vestiram-se a rigor, com vestidos compridos de azul celeste e cintos dourados, a dar razão à expressão “ouro sobre azul”, e foram, num domingo, ensaiar para a reportagem da VM.
Elegantes no traje e na voz, as mulheres que fazem parte deste coro têm idades compreendidas entre os 55 e os 72 anos e todas têm experiência ligada ao canto. Além do gosto pela música, em comum, têm ainda o facto de nunca terem experimentado o canto gregoriano.
Manuela Oliveira admite que não é fácil: “É um género musical completamente diferente, temos de ler muitas vezes, é mais trabalhoso.”
Pertence ao coro desde o início e considera que é mais do que um hobbie, é “um prazer”. “Os ensaios são para ser frequentados, requer assiduidade, com bom tempo, mau tempo ou temperaturas negativas.”
Situada em plena Serra da Estrela, Seia pode chegar a ter temperaturas abaixo de zero, à noite, mas o coro, faça chuva, faça sol ou caia neve, ensaia todas as semanas e nem a pandemia alterou este calendário.
“Se parássemos isto iria esboroar e a solução foi continuar a ensaiar online”, refere Fernando Béco. “Não era a mesma coisa, mas não deixou o coro acabar. Além de não pararmos e do convívio continuar, aprendemos peças.”
Ainda hoje os “trabalhos de casa”, como lhes chama Fátima Pinto, são publicados online.
Para esta professora do primeiro ciclo, que decidiu integrar o coro depois de se aposentar, o coro representa uma ocupação importante.
“Ocupa-me o tempo de professora aposentada, que não gosta de estar em casa” e, além disso, “estamos a aprender e é muito bom, porque é um projeto de louvor a Nossa Senhora, muito bonito”.
A escolha do repertório é da responsabilidade do maestro e as peças são de temática mariana. “Se temos como padroeira a Nossa Senhora da Misericórdia, nós queremos também acentuar esta ideia. Todas as peças de repertório são dedicadas a Nossa Senhora, todas de temática mariana.”
Um repertório que é composto também por cânticos de devoção de santuários marianos, como é o caso da Senhora d´Aires, do Santuário do Desterro ou da Senhora do Almurtão. “O concerto é de música explicada, explicamos o que é o gregoriano, fazemos uma pequena história da peça e do santuário”, acrescenta Fernando Béco.
Paula Batista mora numa aldeia a 11 quilómetros de Seia, mas não desanima dos ensaios: “É um sacrifício que vale a pena. Não só pelo convívio, mas também faz bem à saúde e à mente.”
Aos 68 anos e ao fim de 30 a cantar em coros, Gorete Neves pensou em parar, mas a entrada para este coro alterou-lhe os planos e ainda bem. “Obriga-me a sair de casa, o que, às vezes, no inverno, não é fácil, mas depois, quando estamos todas juntas, já nada lembra.”
Além do canto, o convívio é também um dos motivos que leva Olga Garcia, que não reside na cidade, a deslocar-se para os ensaios. “Há um bom ambiente entre nós, além da música fazer bem ao nosso espírito, à nossa alma, como se diz, cantar é rezar duas vezes e também me sinto bem com as colegas que tenho, aprendo muito com elas.”
O maestro admite que o canto gregoriano não é fácil, mas o coro está no bom caminho. "Neste momento estamos em fase de poder sair, temos tudo pronto para ir a qualquer lado e fazer um concerto de 40 minutos.”
Para o provedor da Misericórdia de Seia, este coro é um projeto que se insere no caminho que a instituição está a trilhar no que toca à cultura e ao património religioso e “tem ajudado a elevar e a projetar o nome da instituição.”
Paulo Caetano recorda os concertos que já foi possível realizar para celebrar a padroeira da Misericórdia e interagir com a comunidade.
“Já fizemos dois, no ano passado fizemos em parceria com as escolas de música que há aqui em Seia.” O coro, conclui o provedor, “projeta-nos a nível nacional, na missão e na fé.”
Voz das Misericórdias, Paula Brito