A sociedade civil uniu esforços para ajudar as Misericórdias na aquisição de equipamentos de proteção individual, entre outros

Quando as Misericórdias precisam a sociedade civil mobiliza-se. Tem sido assim ao longo de mais de 500 anos de história destas instituições e é assim agora, numa altura em que é tempo de estarmos longe uns dos outros, mas mais unidos que nunca. Nas últimas semanas, a sociedade civil uniu esforços para que nada falte às Santas Casas e para que em segurança continuem a levar a cabo a sua missão de ajudar os que mais precisam.

Ninguém estava preparado para a pandemia causada pelo novo coronavírus. As Misericórdias não tinham em stock equipamentos de proteção individual (EPI) e com o avançar da doença, “este vírus tão poderoso, tão letal, tão rápido na disseminação”, como lhe chamou o presidente da União das Misericórdias Portuguesas (UMP), as Santas Casas viram-se a braços com a urgência de comprar equipamentos de proteção. A forte procura e escassez destes produtos levaram a que os preços no mercado disparassem o que tornou a sua aquisição insustentável para as Misericórdias. Foi por essa altura que entidades privadas, movimentos sociais e as comunidades locais se começaram a unir e a fazer chegar a sua ajuda às Santas Casas.

A Misericórdia de Macau foi a primeira a disponibilizar ajuda, uma semana após a doença ter sido declarada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como pandemia. Seguiu-lhe os passos o Sporting Clube de Portugal que, através da sua fundação, doou à UMP 120 mil máscaras cirúrgicas e 80 mil pares de luvas (material ainda por entregar) e da Suíça, em meados de abril, chegou a doação de 250 mil francos suíços da relojoeira Rolex, com vista à aquisição de EPI para as Santas Casas.

Em todo o território nacional a sociedade civil foi chamada a ajudar através do movimento SOS.Covid19.Portugal que lançou, através das redes sociais, uma campanha de angariação de fundos para aquisição de EPI para os lares e unidades de cuidados continuados das Misericórdias. Pequenas e grandes empresas, particulares e pessoas no estrangeiro aderiram em massa ao movimento, criado por oito amigas, que já permitiu, em articulação com a UMP, entregar milhares de luvas, máscaras, fatos de proteção individual e outros EPI em dezenas de Misericórdias.

Também a tauromaquia se juntou a esta onda de solidariedade com sete associações (Associação de Toureiros Portugueses, a Associação Portuguesa de Empresários Tauromáquicos, a Associação Portuguesa de Criadores de Toiros de Lide, a Associação Nacional de Grupos de Forcados, a Associação de Tertúlias Tauromáquicas de Portugal, a ProToiro e a marca Touradas) a criarem uma campanha solidária de angariação de fundos a favor da UMP para apoiar a compra de material de desinfeção e EPI para as Santas Casas.

Mas nem só de angariação de fundos e de EPI vive a generosidade que tem chegado às Santas Casas. A Fundação Galp (FG) e as empresas do Grupo Galp disponibilizaram-se para suportar um mês de consumo de eletricidade e gás natural das instituições suas clientes. Em nota informativa, a FG refere que a iniciativa deve à “grande responsabilidade” que as instituições do setor social têm “junto das comunidades, especialmente em tempos tão desafiantes como o que enfrentamos”.

Outro donativo veio da Fundação Luso, ligada à Sociedade da Água de Luso, que ofereceu um milhão de garrafas de 0,33 litros de água às instituições sociais, entre elas, a UMP e as Misericórdias.

De norte a sul do país há ainda start-ups, institutos politécnicos, universidades e particulares a mobilizarem-se para apoiar as Misericórdias. Viseiras, máscaras, luvas, capas protetoras, desinfetantes, numerário e, em muitos casos, bolos e outros “miminhos doces” para as equipas que estão diretamente a cuidar dos idosos.

Tantas dádivas, segundo o presidente da UMP, Manuel de Lemos, devem-se às relações de afeto que as comunidades têm com as Misericórdias. “As pessoas que estão nos lares, trabalhadores e utentes, são conhecidas de todos. São pais, avós, tios, amigos etc. O lar é mais uma casa na comunidade e os portugueses são muito generosos. A todos o nosso agradecimento é total porque estão a ajudar-nos a ajudar”.

Contudo, mesmo num quadro de muitos donativos, é aconselhável uma utilização racional dos equipamentos de proteção individual (EPI) de modo a evitar desperdícios. Quem alerta é Humberto Carneiro, vogal do Secretariado Nacional da UMP que está a coordenar a distribuição dos EPI junto das Misericórdias.

Segundo o responsável, as instituições terão de utilizar EPI ainda durante bastante tempo e não é possível prever o comportamento do mercado. “Neste momento, apesar da procura, os valores praticados continuam acima da média”, refere.

Para apoiar as Misericórdias, além da distribuição dos EPI doados (através de critérios como número de trabalhadores, no caso do material vindo de Macau, e dificuldades financeiras, para o movimento SOS Covid 19), a UMP está, através da Central de Negociações, a identificar os fornecedores que aceitem duas condições: “preço justo e sem pré-pagamento”.

Na fotografia: Moncarapacho. Há cerca de duas semanas começaram a chegar às Santas Casas portuguesas as máscaras doadas pela Misericórdia de Macau. A Misericórdia de Moncarapacho, que recebeu 30 caixas de máscaras, foi uma das Santas Casas que fez questão de agradecer publicamente, através das redes sociais, a “generosa doação da Misericórdia de Macau”. Ao VM, Inês Dimas, diretora técnica do apoio domiciliário, disse que “as máscaras são fundamentais” para o trabalho diário na instituição, “tanto para nossa segurança, como para segurança dos nossos utentes” e são, por isso “uma preciosa ajuda no apoio que diariamente prestamos”.

Voz das Misericórdias, Sara Pires Alves