O presidente da UMP esteve no distrito de Viseu para auscultar os provedores sobre as dificuldades criadas pela pandemia

A sabedoria popular diz que os amigos se veem nos momentos difíceis e foi precisamente no decorrer da pandemia de Covid-19 que as autarquias se revelaram parceiros indispensáveis de instituições como as Misericórdias. Neste sentido, a União das Misericórdias Portuguesas (UMP) pretende estabelecer uma parceria com a Associação Nacional de Municípios Portugueses (ANMP) que permita potenciar as sinergias entre as entidades.

“A União das Misericórdias está a trabalhar numa relação mais estreita. Vamos promover com a Associação Nacional de Municípios uma reunião para juntarmos forças e não estarmos a duplicar as respostas”, assumiu o presidente da UMP. Em declarações ao VM, Manuel de Lemos reconheceu que, em alguns casos, a ligação entre as autarquias e as Misericórdias “é quase umbilical, mas há outras em que é mais difícil”. Também por isso os acordos têm de ser trabalhados e oficializadas as parcerias.

O presidente da UMP falava ao Voz das Misericórdias no decorrer de uma visita de dois dias a várias Santas Casas do distrito de Viseu, mais concretamente Vouzela, Santa Comba Dão, Viseu, Castro Daire e Lamego, onde reuniu com os seus provedores e os de outras Misericórdias da região: São Pedro do Sul, Oliveira de Frades, Carregal do Sal, Mortágua, Santar, Penalva do Castelo, Cinfães, Armamar, Tarouca, Moimenta da Beira e Resende (na foto, onde o presidente da UMP esteve dias antes deste périplo).

“Faço estas visitas para ver as instalações, contactar os serviços, perceber quais são as suas dificuldades e também conviver com as pessoas nas suas terras, para não as forçar a ir a outros locais para falarmos”, reconheceu.

Nos diálogos mantidos, o assunto unânime que Manuel de Lemos ouviu foi a questão da sustentabilidade financeira que “já era um tema antes da pandemia”, mas se agravou por causa da crise sanitária.

A Covid-19 “trouxe gastos excessivos” e a estabilidade financeira, que “já era frágil em algumas instituições, obviamente ficou pior. “As instituições onde se registaram casos positivos também tiveram mais gastos” para fazer face à pandemia, o que “fizeram e têm estado a fazer de uma forma fantástica e superior”.

“Os provedores querem saber com o que contam e por quanto tempo vão contar, porque não podemos estar sempre a mudar de orientações. Isso não faz sentido, não há recursos para isso num país tão pobre como o nosso”, alertou Manuel de Lemos.

Em resposta às preocupações transmitidas pelos provedores do distrito de Viseu, o presidente da UMP deu “conta do interesse do governo e da forma aberta como tem ocorrido o diálogo” com o primeiro-ministro e a sua equipa de ministros.

“Temos encontrado bom acolhimento, num quadro que é muito difícil no país inteiro, basta ver os números e ver os ministros das Finanças falarem para percebermos que a situação não é fácil, mas a nossa razão de ser é ajudar as pessoas. Estamos cá há 520 anos, somos especialistas em resiliência e, por isso, cá estaremos a continuar a ajudar as pessoas o mais que pudermos”, garantiu.

Até porque, lembrou Manuel de Lemos, “há também uma grande preocupação com a qualidade”, que tem os seus custos, mas, “compensa muito em resultados”. “Há aqui um lucro social evidente, mas não há lucro financeiro. Se as instituições estivessem mais equilibradas seria mais fácil cumprir o desafio da qualidade. O tema tem sido alvo de debate e isto deve ser valorizado porque as pessoas não estão só interessadas em fazer, estão interessadas em fazer bem e isso faz toda a diferença”, elogiou.

Um desses casos é a Santa Casa da Misericórdia de Castro Daire, onde o VM falou com o presidente da UMP e também com o provedor local que contou que numa das suas valências, o lar residencial para pessoas com deficiência, o vírus afetou utentes e funcionários.

“Tivemos 45 casos na nossa Misericórdia e desde sexta-feira, dia 12, que temos zero, portanto, estamos todos recuperados”, começou por se congratular Rui Rodrigues, que alertou para a preocupação existente com a Covid-19 “e com o pós Covid-19”. No seu entender, “o pós Covid é muito mais perigoso do que o que neste momento está a acontecer”.

“Em concreto na Misericórdia de Castro Daire, em que já estávamos numa situação financeira com algum problema, a Covid veio acelerar as dificuldades e esta é a nossa preocupação”, admitiu o provedor. Rui Rodrigues também elogiou a deslocação do presidente da UMP e agradeceu as “palavras de apreço, porque são muito importantes”, mas também são importantes os “melhoramentos nos acordos, nomeadamente com o governo, e essa melhoria é fundamental em tudo isto”.

A Santa Casa da Misericórdia de Castro Daire tem duas estruturas residenciais para pessoas idosas, um lar residencial para deficientes, uma unidade de cuidados continuados, um centro de dia e também serviço de apoio domiciliário. Ou seja, segundo Rui Rodrigues, a Santa Casa “dá apoio a uma grande parte da população do concelho” de Castro Daire e também por isso não faltaram elogios à relação da instituição com a autarquia local.

Uma ligação, aliás, “determinante e fundamental” no apoio social, defendeu o provedor da Santa Casa da Misericórdia de Mangualde, que também é presidente do Secretariado Regional de Viseu da UMP, que acompanhou a visita do presidente da UMP ao distrito.

José Tomás disse não ter “dúvida nenhuma que as autarquias têm um papel determinante até, porque, com alguma centralização que está em curso nas competências, as autarquias passarão a ter um papel fundamental neste processo” de apoio aos cidadãos.

“As autarquias vão ter um papel importante naquilo que vão ser os problemas sociais dos territórios e esses vão ser os grandes desafios que vamos ter pela frente, porque o cenário de desemprego vai gerar grandes carências nas pessoas e, portanto, as preocupações têm de ser centradas nas questões sociais”, alertou.

Neste sentido, José Tomás defendeu que essas devem ser “as questões prioritárias da política, que serve exatamente para isso, para atender aquilo que são as necessidades das pessoas”.

“Fazer política só faz sentido se for assim, para ajudar as pessoas naquilo que são as suas necessidades básicas como a saúde, educação, alimentação e também o conforto e bem-estar”, apontou.

Este responsável considerou mesmo que, “em primeiro lugar, essas questões essenciais têm de ser salvaguardadas para depois pensar nas outras” e “é fundamental uma boa articulação e coordenação entre instituições e autarquias para que se consiga chegar a todas as pessoas”.

A nenhum destes responsáveis faltaram elogios aos profissionais das Santas Casas da Misericórdia, principalmente, nos locais onde o novo coronavirus chegou, e na forma como todos eles enfrentaram a situação.

“Mesmo com dificuldades financeiras, nenhuma Misericórdia deixou de aplicar medidas, não deixaram de ter equipamento individual, todas se empenharam em proteger as pessoas que é o mais importante. Sobre isso não há dúvida nenhuma”, acrescentou José Tomás.

Voz das Misericórdias, Isabel Marques Nogueira