Em plena pandemia, o apoio aos familiares que assumem cuidados de pessoas dependentes, por motivo de doença ou envelhecimento natural, torna-se ainda mais relevante. Para acompanhar esta reflexão, recolhemos testemunhos de quatro cuidadores que são apoiados pelos serviços das Misericórdias de Lousada, Almada, Marco de Canaveses e Vagos.

Cármen Oliveira Ferreira
Vagos

Cármen Ferreira, 53 anos, é educadora de infância há 28 anos. Nos últimos dois, pediu uma licença sem vencimento para cuidar da mãe, diagnosticada com Alzheimer. “O meu pai reparou que ela deixava comida ao lume, ficava desorientada e repetia-se”. Desde então, tem sido um “luto diário” assistir à sua degradação. “É desolador, há dias em que me sinto mesmo em baixo porque parece que nada do que faço resulta”. Hoje, já não anda, come ou veste-se sozinha, mas reconhece os rostos familiares graças aos estímulos da filha. “Invento jogos em feltro para poder mexer e estimular a motricidade fina”. No início da pandemia, teve o filho e marido em casa a tempo inteiro. “Foi a melhor parte porque me sentia acompanhada”. Regressaram, entretanto, ao trabalho presencial, o que fez Cármen temer pela segurança da mãe. “Tenho pavor que me aconteça alguma coisa, ela não tem quem cuide dela”. Os gestos de carinho, que a caracterizam, tornaram-se fugazes com o medo do vírus. “Agora não me aproximo deles para grande pena minha”. Quando recebem a visita da equipa “Memorizar”, os olhos da mãe brilham. “Não me deixam ir abaixo, sugerem atividades e fazem tudo para me animar”. O mais duro é assistir à progressão de uma doença que não dá tréguas. Mas todos os sacrifícios são compensados por “pequenas grandes coisas”.

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Voz das Misericórdias, Ana Cargaleiro de Freitas