A Misericórdia de Torres Vedras celebrou, no passado dia 26 de julho, 500 anos, com a inauguração de um monumento comemorativo que pretende homenagear e perpetuar a memória de todos aqueles que fizeram parte destes cinco séculos de história e de entrega aos outros.
Da autoria do escultor Nuno Vasa, natural do concelho, a peça é constituída por 168 vidros e 91 desenhos que, de forma tridimensional, criam a ilusão de que a coroa da Misericórdia está no seu interior. “É uma coroa de glória guardada como uma joia, num ‘presente’ de 500 anos na história do bem querer e do bem fazer”, explica o autor, numa frase gravada na base do monumento, colocado à entrada da igreja da Misericórdia.
A inauguração da peça foi um dos momentos altos das comemorações dos 500 anos desta irmandade, que tiveram lugar um mês e meio depois do falecimento do provedor Vasco Fernandes, um dos ausentes mais presentes na sessão solene, ao ser recordado por todos os oradores.
De voz embargada, Luís Rodrigues, presidente da Assembleia Geral, lembrou o antigo provedor como “um homem de fé, que sonhou muito” com as comemorações dos 500 anos. “Mesmo partindo, continua a servir”, disse, visivelmente emocionado. Por seu lado, a ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, Ana Mendes Godinho, apontou Vasco Fernandes como “um exemplo” de serviço aos outros, que “se transformou em imortal fruto das obras que desenvolveu ao longo da sua vida” como provedor.
No seu discurso, o presidente da Assembleia Geral evocou também o percurso da instituição. “Falamos de cinco séculos de amor, de serviço e de partilha, de servir sem se servir, de altruísmo franco e sério a pensar nos outros, de devoção e de empenho sem tréguas, ao lado dos que mais necessitam”, disse Luís Rodrigues.
O dirigente sublinhou ainda a diversidade de respostas da instituição (creche, ATL, residência sénior, apoio ao domicílio, centro de dia e refeições sociais), que procuram ir ao encontro das necessidades da comunidade, mas também “devolver dignidade e esperança”.
A importância do setor social foi um dos focos da intervenção da ministra, que o considerou “instrumento determinante no desenvolvimento e coesão” do país. Por isso, defendeu, é “fundamental” criar condições para que o setor possa progredir, “através do reforço da sua capacitação e capacidade financeira”, para que consiga dar respostas aos novos desafios sociais, num processo de “reinvenção com olhos postos no futuro”.
Na ocasião, Ana Mendes Godinho anunciou algumas das medidas que estão a ser preparadas no âmbito da recuperação da crise pandémica, com programas de alargamento e requalificação dos equipamentos e respostas sociais. A título de exemplo, referiu o programa PARES 3.0, que deverá abranger a nova estrutura residencial para idosos da Misericórdia de Torres Vedras, já em construção, e o Adaptar + Social, destinado a apoiar a compra de equipamentos de proteção individual.
“No plano de recuperação que estamos a construir, o setor social terá um peso fundamental”, assegurou a ministra, adiantando que está também previsto um programa de apoio à contratação de pessoas, nomeadamente de recursos qualificados.
Passado ‘comprovado’ de prática do bem
Presente na sessão solene, o presidente da Câmara de Torres Vedras, Carlos Bernardes, destacou o contributo da Misericórdia para a economia social do concelho, servindo mais de 370 utentes e empregando 150 pessoas. O autarca realçou ainda a importância da “cooperação institucional” na constituição de uma sociedade “mais robusta, onde a coesão social seja um referencial”.
Por seu lado, Isabel Miguens, provedora da Misericórdia de Cascais e vogal do Secretariado Nacional da União das Misericórdias Portuguesas, considerou a irmandade de Torres Vedras “um exemplo”, pelas valências que tem, pelas atividades que desenvolve, pelas pessoas que emprega e pela “entrega a fazer o bem e ao sonho de um amanhã melhor”.
“Este é o momento de prestar homenagem às mulheres e aos homens que, desde há 500 anos, foram para os mais pobres e necessitados da nossa terra a figura de um pai e de uma mãe que os socorre na aflição”, afirmou o padre Vítor Melícias, irmão honorário da instituição.
A encerrar as intervenções, o cardeal patriarca de Lisboa, um filho da terra, felicitou a Misericórdia de Torres Vedras “pelo que foi, pelo que é e pelo que promete ser” e recordou Vasco Fernandes como um provedor “incansável” no exercício das suas funções. “A melhor garantia do futuro da instituição é o passado comprovado de prática do bem, da solidariedade e da justiça social”, concluiu D. Manuel Clemente, que presidiu à missa de ação de graças.
Voz das Misericórdias, Maria Anabela Silva