A Santa Casa da Misericórdia da Trofa comemorou duas décadas ao serviço da comunidade. Esta, que é uma das mais jovens Misericórdias do país, apoia, direta e indiretamente, mais de duas mil famílias. Em dia de aniversário, 8 de setembro, guardou-se um minuto de silêncio pelos 20 cofundadores já falecidos.
Começámos do zero. Gatinhámos, demos os primeiros passos, caminhámos e hoje somos uma instituição com diversas valências”, destacou o provedor Amadeu de Castro Pinheiro, lembrando que ajudar esta instituição “é ajudar aqueles que mais precisam, os mais pobres, os mais frágeis, os mais débeis, é ajudar todos aqueles que não têm quem os ajude. Hoje ajudamos, amanhã outros nos ajudarão num ciclo do qual não podemos fugir”, disse.
O facto de sermos uma das Misericórdias mais jovens do país traz desafios diferentes, continuou Amadeu de Castro Pinheiro. “Enquanto as instituições com centenas de anos já têm uma almofada de suporte onde se podem sustentar, nós estamos lentamente a criar bases e alicerces para que possamos aguentar quando surgir algum problema maior”.
Mesmo com as dificuldades sentidas, a ambição da Misericórdia da Trofa é avançar para a requalificação do antigo Lar da Imaculada Conceição para ser possível “albergar mais cerca de 40 utentes”, num investimento que deverá rondar um milhão de euros, revelou o provedor ao VM, contando que “há outros projetos em carteira”, mas esses, só serão exequíveis com o apoio do Estado.
O vigésimo aniversário da Santa Casa da Misericórdia da Trofa foi celebrado com uma eucaristia presidida por D. Pio Alves, bispo auxiliar do Porto e também pela entronização de novos irmãos e entrega de condecorações.
Durante a homilia, o prelado apelou para que continue a ser dada resposta às “necessidades concretas de pessoas concretas” que, “ou comem hoje ou morrem de fome amanhã, não havendo tempo para se esperar que os discursos solenes se concretizem, porque mais não são do que palavras que, muitas vezes, não levam a coisa nenhuma”.
D. Pio Alves sublinhou que as Misericórdias “são a verdadeira âncora de salvação de tantas pessoas, de tantas instituições”, enfatizando que “se nestes últimos anos estas instituições não estivessem no terreno, a situação teria sido diferente para pior, não podendo, por isso, o Estado desvincular-se das suas funções”, ressalvou.
Por isso, o bispo auxiliar do Porto deixou um pedido: “quando, em alguma circunstância, formos acusados de apenas praticarmos a esmola barata, que damos de comer, mas não resolvemos os problemas, não podemos ficar calados e deixar que nos insultem e faltem à verdade”.
Enaltecendo os números que sintetizam a ação social da Misericórdia da Trofa, D. Pio Alves terminou apelando para que “não nos resignemos, não nos escondamos, não fiquemos calados quando estas instituições são acusadas de praticar o assistencialismo. Não podemos aceitar que nos insultem, dizendo que na prática, apenas damos umas esmolas, mas não olhamos para o problema da pobreza”.
Também presente na cerimónia do 20º aniversário da Misericórdia da Trofa, o presidente da Câmara Municipal, Sérgio Humberto, elogiou ainda o trabalho desenvolvido pela instituição, “combatendo o isolamento e a solidão de muita gente”, prometendo continuar a apoiar dentro das possibilidades do município.
A Santa Casa da Misericórdia da Trofa apoia atualmente 110 idosos em lar e outros 125 através do serviço de apoio domiciliário. São ainda apoiadas cerca de uma centena de crianças em creche, 17 pessoas em cantina social e 20 famílias através das hortas sociais da instituição. Apesar de estar entre as mais jovens do país, a Misericórdia da Trofa tem já bastante volume de trabalho e disso dão nota os 600 quilos que diariamente passam pela sua lavandaria.
Voz das Misericórdias, Paulo Sérgio Gonçalves