O momento foi vivido com esperança, expectativa e sentido de responsabilidade por utentes, colaboradores, representantes locais e governamentais presentes. No final do dia, a primeira dose da vacina da Pfizer-BioNTech tinha sido administrada a 112 utentes (24 da UCC e 88 das ERPI) e 114 profissionais (44 da UCC e 70 das ERPI), com o apoio da equipa de enfermagem da unidade e centro de saúde local.
“Este é um grande dia para a Misericórdia de Mora, para a população e para Portugal. Houve uma batalha diária dos profissionais para manter os utentes protegidos e agora há finalmente a esperança de poder retomar uma vida normal. Só temos de agradecer aos cientistas que conseguiram fabricar tão rapidamente a vacina e dizer que a partir de hoje estamos muito mais confiantes”, congratulou-se o provedor Manuel Caldas de Almeida, no início da manhã.
A esperança de um novo recomeço, simbolizado pela vacinação, não deve, contudo, traduzir-se na flexibilização das medidas de proteção e restrições impostas desde março, conforme alertou a ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, Ana Mendes Godinho. “Este início de vacinação é um momento de enorme esperança, mas é também um momento em que temos de reforçar todos os cuidados e medidas de proteção para continuar a proteger quem mais precisa. Sei que posso contar com todos os que dedicam a sua vida aos outros”.
A opinião foi partilhada por todos e reforçada pelo presidente da União das Misericórdias Portuguesas (UMP), Manuel de Lemos, à margem da cerimónia. “Até ao momento a nossa reação tem sido confinar e estar afastados, mas agora com as vacinas muda tudo, finalmente temos uma arma. Não esquecer, contudo, que temos de manter a guarda muito elevada para evitar que o vírus se propague enquanto não estão todos vacinados”, adiantou ao VM.
Na semana do arranque da vacinação nos lares e unidades de cuidados continuados, localizados nos 25 concelhos de risco extremo, onde se incluía Mora, o país assistia a um crescimento exponencial do número de casos de infeção, que ditaria o a decisão de um novo confinamento generalizado, a partir de 15 de janeiro.
Neste contexto, a ministra da Saúde lembrou o “esforço contínuo de articulação com o setor privado, social e UMP para a transferência de doentes e disponibilização de meios para quem está na linha da frente”.
Os preparativos da vacinação começaram muito antes, ainda em 2020, no decorrer do mês de dezembro. No caso da unidade de cuidados continuados, as orientações partiram da equipa de coordenação regional (ECR) da RNCCI e incluíram a leitura de normas e procedimentos sobre a conservação e administração da vacina e a preparação do carro de emergência (equipamentos, fármacos e outros materiais necessários para a reanimação em caso de reações adversas).
Dias antes, o frigorífico da unidade estava pronto para receber as vacinas e estavam criados os grupos e escalas de horários para vacinar utentes e profissionais, em tempo recorde, sem comprometer a estabilidade e qualidade do fármaco.
A preparação e administração ficou a cargo da enfermeira coordenadora da UCC, Natalina Aniceto, e de duas colegas, que em conjunto administraram perto de 70 doses, no período da manhã. “Fomo-nos revezando entre a preparação e a administração. Logo no início percebemos que íamos conseguir administrar as seis doses por frasco [previstas na última orientação da Agência Europeia do Medicamento, de 8 de janeiro] o que nos permitiu vacinar mais pessoas do que inicialmente previsto”, congratulou-se.
Apesar do nervosismo sentido por alguns, a primeira utente da UCC a levar a vacina da Pfizer-BioNTech encarou a oportunidade com otimismo. “Não custou nada, acho que todos devem fazê-lo sem medo. Há cada vez mais casos a aparecer e estamos mais seguros se nos vacinarmos todos”, comentou a doente com esclerose múltipla, momentos após a vacinação, perante uma plateia de jornalistas, profissionais de saúde e representantes presentes. O que custou mais, confessou sorrindo, foi o “aparato jornalístico”.
O entusiasmo de Rosário Freixa, que está na unidade de Mora há um ano, foi partilhado por toda a equipa, como nos confidenciou mais tarde o diretor clínico da UCC, Martinho Vieira. “Estamos muito expectantes e essa esperança e ânimo são partilhadas por todos. A vacinação vai permitir retomar os afetos e alguma normalidade nos próximos meses”, admitiu.
Enquanto decorria a vacinação na ampla sala de fisioterapia da unidade de cuidados continuados, eram também vacinados os utentes e profissionais das duas estruturas residenciais da Misericórdia de Mora, num total de 158 pessoas. A enfermeira coordenadora da UCC ainda ajudou no processo, depois de concluída a vacinação na unidade.
No final do dia, a conquista de mais uma etapa em direção à “normalidade” superava o cansaço provocado por mais 12 horas de trabalho. “Foi uma aprendizagem para nós. A vacinação da gripe acontece todos os anos, mas nunca tínhamos feito nada a esta escala”, anuiu Natalina Aniceto. Missão cumprida.
Voz das Misericórdias, Ana Cargaleiro de Freitas