"O primeiro grande desafio do processo de vacinação era abranger cerca de 193 mil pessoas que estão nas estruturas residenciais e lares de idosos. O governo tinha antecipado para esta semana a conclusão da primeira toma da vacina e é bom ouvir que o processo decorreu genericamente bem. Das 193 mil pessoas, temos já 168 mil que estão vacinadas", adiantou o primeiro-ministro António Costa, após ter estado reunido em São Bento, a 28 de janeiro, com responsáveis das entidades representativas do setor social, para avaliar a execução do plano de vacinação nos lares.
De acordo com o chefe do executivo, o processo de vacinação traduziu-se num dos “momentos mais importantes de cooperação entre o Serviço Nacional de Saúde, os serviços da Segurança Social e as instituições".
Na reunião em que também esteve presente a ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, Ana Mendes Godinho, o primeiro-ministro deixou ainda uma “palavra de tranquilidade” a todos os que aguardam a segunda toma da vacina, assegurando que está garantida a reserva necessária para concluir brevemente o processo.
O processo de vacinação tem sido acompanhado de perto pela UMP, desde inícios de dezembro, com o levantamento do número de idosos e profissionais a vacinar, a recolha de autorizações junto dos familiares e a articulação com os Secretariados Regionais e provedores das Misericórdias, de modo a garantir o sucesso das operações.
No arranque da vacinação, Manuel de Lemos relatava o clima de esperança e entusiasmo que se vivia na maioria das instituições. “A ausência de reações tem ajudado a que a recetividade dos idosos seja muito grande. E aqui foi importante ter-se começado pelos profissionais de saúde, porque isso impediu que os idosos se sentissem como cobaias”, referiu.
Na auscultação que fizemos junto das Misericórdias, o sentimento partilhado por dirigentes, profissionais e utentes era de expetativa, responsabilidade e emoção. Por um lado, uma “janela de esperança” para a tão ansiada imunidade e retoma da vida suspensa, por outro a responsabilidade de proteger os mais frágeis, na reta final de uma maratona exigente.
“Depois destes meses de cansaço e preocupação, sentimos um misto de ansiedade e esperança. Por ser novidade, havia alguns anseios, que, entretanto, se dissiparam com o feedback positivo de outras instituições, por outro vemos isto com alguma esperança por nos trazer alguma proteção e ser o início de um novo caminho”, partilha a diretora técnica da unidade de cuidados continuados de Vila de Pereira, horas antes da vacinação, a 22 de janeiro.
A colega de Marvão e diretora técnica da estrutura residencial, Filipa Tavares, revela a mesma ansiedade e expetativa, num testemunho intenso, partilhado na sua página de Facebook, após a vacinação de 140 pessoas na ERPI. “Hoje foi um dia bom, um dia de esperança e de oxigénio que me faz acreditar que melhores dias virão, mesmo sabendo que haverá um confinamento geral que não sabemos quando terminará. Foi o dia da primeira fase de vacinação na minha instituição do coração que tanto sofreu nos últimos dois meses. Há uma luz ao fundo do túnel. Vamos acreditar que apesar de não estar tudo bem, um dia ficará, tem de ficar”.
A vacinação decorre a duas velocidades, priorizando as estruturas sem casos de infeção ativos. Misericórdias como Mértola e Alcáçovas, com surtos na terceira semana de vacinação, acusam a frustração sentida por não poderem administrar a primeira dose, depois de meses a fio sem casos. “É morrer na praia. Depois deste tempo todo, tínhamos a esperança de chegar à vacinação sem casos, mas apareceu este surto em dezembro. Espero que a vacinação resolva o problema e não voltemos a ter surtos para respirar de outra forma”, lamenta o provedor de Alcáçovas, João Batista Penetra.
Em Mértola, a presença de casos na ERPI alterou o calendário inicialmente previsto. Enquanto aguardavam a resolução do surto nesta estrutura, iniciaram a administração da primeira dose a um grupo de 23 funcionários e 25 utentes da UCC. “A vacina não será a solução milagrosa, mas estou convencido que vai permitir controlar a pandemia”, considera o provedor.
No caso de Santar, foi necessário adiar a inoculação na UCC depois de detetados cinco casos de infeção entre os utentes. “Desde março não tivemos um único caso, mas, entretanto, recebemos utentes de outros sítios e cinco testaram positivo”, lamentou a provedora.
Mas nem tudo são más notícias. “No meio do caos, parece-nos ver finalmente uma luz ao fundo do túnel, estamos a viver um momento de alguma euforia e esperança, apesar do dia cinzento”, admite Infância Pamplona, enquanto decorre a vacinação na ERPI, a 21 de janeiro. Uma das utentes, Lúcia Viegas, com 86 anos, comprova o ambiente vivido: “Fiquei satisfeita de nos virem cá vacinar porque estamos em confinamento há quase um ano, pode ser que tenhamos alguma liberdade daqui para frente”.
Num contexto de elevada disseminação do vírus, a UMP tem insistido na agilização do processo de vacinação e na necessidade de reforçar as medidas de proteção enquanto não está concluída a administração das duas doses. Com este objetivo, foi enviado um conjunto de recomendações às Misericórdias (Circular 8/2021) onde se reconhece o esforço de todos e lembra que o “risco se mantém até à segunda dose de vacinação”.
“Poucos como as Misericórdias souberam e sabem os reais sacrifícios, muitos deles pessoais, na luta contra a pandemia. Mas este legítimo e justificado cansaço não nos deve fazer baixar a guarda, logo agora que estamos tão perto de poder respirar e seguir reforçados com toda a aprendizagem desta verdadeira luta pela vida de tantos”, lembrou Manuel Caldas de Almeida, vice-presidente da UMP no documento enviado a 20 de janeiro.
Voz das Misericórdias, Ana Cargaleiro de Freitas
Fotografia: José Artur Macedo