Nos Açores, o plano de vacinação contra a Covid-19 arrancou a 31 de dezembro no lar Misericórdia de Vila Franca do Campo, em São Miguel. A primeira inoculação da vacina foi ministrada a uma profissional de saúde, seguindo-se a vacinação de todos os utentes e funcionários.
Marina Tavares tem 35 anos, é enfermeira, trabalha na Santa Casa de Vila Franca do Campo há 12 anos e foi a primeira pessoa a ser vacinada na ilha de São Miguel. No momento da vacinação, Marina relembra que estava “um bocadinho ansiosa”, mas confiante “no trabalho que foi desenvolvido para que pudéssemos chegar até à vacina”. “Foi um momento bastante marcante para toda a gente” com direito a “palmas”, refere.
Ser a primeira a ser vacinada foi também, nas palavras da enfermeira, um sinal de confiança para os idosos, uma vez que muitos diziam “eu só levo a vacina se a enfermeira levar”.
Esta ideia já havia sido defendida pelo presidente da União das Misericórdias Portuguesas (UMP), Manuel de Lemos, que, quando questionado sobre o facto de o plano de vacinação em Portugal ter começado pelos profissionais de saúde e não pelos idosos, como aconteceu em muitos países europeus, disse que “o facto de terem sido os profissionais da saúde os primeiros a serem vacinados também contribuiu para afastar muitas dúvidas legítimas que muitas pessoas tinham em relação aos efeitos colaterais da vacina”.
Na Misericórdia de Vila Franca do Campo foram vacinados 41 utentes e 34 funcionários. Rui Couto, vice-provedor, contou que houve “uma taxa de adesão de 99% à vacinação” e atribuiu isso ao facto de terem feito uma sessão de esclarecimento junto de funcionários, idosos e representantes dos idosos sobre os prós e contras da vacinação contra a Covid-19.
“Os utentes estão ansiosos por sair, nem que seja por um bocadinho, e a vacina veio dar-lhes a esperança de voltarem à sua rotina e, por isso, todos quiseram ser vacinados. Apenas um utente um não foi vacinado por estar em recuperação de outra doença. “Mas assim que recuperar vai ser”, disse a enfermeira, para quem a vacina é um claro sinal de esperança na luta contra a Covid-19, no entanto, relembra que para conseguirmos a “tão desejada imunidade de grupo ainda há um longo caminho a percorrer”. Por isso, continuou, “não podemos descurar todos os cuidados e diretrizes da Direção-geral de Saúde (DGS), as pessoas têm de tomar consciência que apesar da vacina temos de continuar a usar máscara, desinfetar as mãos, manter o distanciamento”.
O vice-provedor considera que a vacina é “fundamental e um ponto de viragem no combate à Covid-19”, dizendo ainda que esta é “sem dúvida a forma mais eficaz de garantirmos a saúde dos utentes”. No entanto, relembra que falta agora chegar “ao apoio de serviço domiciliário (SAD)”, que no caso de Vila Franca do Campo apoia 60 idosos. Esta opinião é partilhada por Bento Barcelos, presidente da União Regional de Misericórdias dos Açores (URMA), que disse estar já em contacto com o diretor regional de saúde para “referenciar a importância da vacinação dos beneficiários de SAD”.
Para o presidente da URMA a vacinação é “fundamental para travar o vírus”, referindo ainda que “para estes idosos que receberam a vacina, este momento significou a esperança do regresso à vida normal, do fim do confinamento, do abraço caloroso e desejado aos familiares e amigos, do fim das quarentenas e de um pesadelo que nunca algum deles alguma vez imaginou vivenciar.”
Ao fecho desta edição, e segundo informação do presidente da URMA, todas as estruturas residenciais das Misericórdias de São Miguel e da Terceira, que são as ilhas com transmissão comunitária da Covid-19, já tinham recebido a primeira dose da vacina.
Voz das Misericórdias, Sara Pires Alves