A Misericórdia de Vila do Conde inaugurou um monumento de homenagem aos benfeitores, entre eles, Arlindo Maia, provedor cessante

“O homem do sim. O sim da solução. O sim do conforto. O sim da partilha. O sim do incentivo.” As palavras são de Rui Maia, provedor da Santa Casa da Misericórdia de Vila do Conde. O homem do sim é Arlindo Maia, provedor cessante da Misericórdia vilacondense, após 37 anos de dedicação e missão a servir o próximo. Desde Marcelo Rebelo de Sousa, Presidente da República Portuguesa, passando por Leonor Beleza, ex-ministra da Saúde, Manuel de Lemos, presidente da União das Misericórdias, padre Lino Maia, presidente da Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade (CNIS) e D. Jorge Ortiga, arcebispo de Braga e Primaz das Espanhas, foram muitos os que estiveram presentes na homenagem que a Misericórdia de Vila do Conde prestou aos beneméritos e benfeitores da Santa Casa.

A ocasião ficou marcada pela inauguração do monumento, da autoria do escultor Eduardo Bompastor, localizado nas imediações da instituição, e que de forma anónima homenageia todos os beneméritos e benfeitores que, ao longo destes mais de cinco séculos de existência têm permitido à Misericórdia crescer e servir quem mais precisa. “Um hino à generosidade dos benfeitores e a todos aqueles que orientam os destinos da Santa Casa”, disse D. Jorge Ortiga, acrescentando, de seguida, que “este é um monumento inacabado, porque interpela à ação. Não podemos cruzar os braços enquanto não formos todos iguais. Enquanto houver necessidades somos desafiados a servir o outro. Temos uma crise social à porta e devemos estar muito atentos”.

Após 13 anos de execução, a peça surge, na opinião do seu autor Eduardo Bompastor, para “fazer memória dos que fizeram muito pela Santa Casa e, ao mesmo tempo, serve para que cada um se veja retratado em cada centímetro da escultura”.

“Se a escolha deste dia foi coincidência, então foi uma feliz coincidência”. Num ano dedicado a S. José, D. Jorge Ortiga reconheceu a importância de benfeitores e beneméritos, que “com gratuitidade” fazem uma caminhada em prol do serviço ao outro, ao mais necessitado. Contudo, sublinha que é necessário “ir mais além, sonhar e não se deixar satisfazer com o alcançado”.

Realçando que “a humanidade é a aventura de caminhar juntos, sem deixar ninguém para trás”, o arcebispo de Braga lembra que, por vezes, “falta-nos coração; falta-nos quem se deixe comover perante as necessidades do outro”. E, numa data em que se homenageava os beneméritos e benfeitores, o patriarca deixou o apelo: “sonhem em ir mais além: há obras por realizar, metas para alcançar, porque o sonho de Deus está sempre incompleto, há sempre mais para fazer. Continuemos a sonhar e coloquemos o coração nos nossos sonhos”.

Também Rui Maia, atual provedor da Santa Casa de Vila do Conde, interpelou os presentes a que se deixem tocar pelo verbo dar. “Que o verbo dar seja o primeiro a habitar em nós, traduzindo-se na nossa motivação diária, de construção de uma sociedade mais justa e generosa”. Porque os acordos com o Estado não permitem dar resposta a todas as necessidades e o apoio de beneméritos e benfeitores é crucial, o provedor reforça que “a nossa vida só é verdadeiramente vida quando nos deixamos tocar pela paixão da prática do bem”.

O homem do sim

Entre todos os beneméritos e benfeitores da Santa Casa da Misericórdia de Vila do Conde, há um nome que se destaca e que foi merecedor de uma bonita homenagem. Falamos de Arlindo Maia, provedor da instituição durante os últimos 37 anos. Um homem que, opinião unânime, “passou grande parte da sua vida a fazer o bem”. Nas palavras da presidente da Câmara Municipal de Vila do Conde, Elisa Ferraz, Arlindo Maia será para sempre “o benfeitor e benemérito número 1”. Recordando os dias em que, pelas 7 da manhã, já encontrava o seu carro estacionado na instituição, a autarca referiu-se ao homenageado como “um sonhador e um exemplo de S. José. Sonhou e realizou, sempre apoiado por uma equipa de quem foi o mentor, colocando a Santa Casa a um nível nacional e internacional notável”.

A par com a enorme capacidade de realizar, Arlindo Maia é elogiado pelo modo como se relaciona com o outro. Para o padre Lino Maia, presidente da CNIS, o “engenheiro é perito na forma como se dirige aos utentes, aos trabalhadores, a todos com quem se cruza. É encantador e encantadora a forma como a todos se dirige”. E porque as palavras ainda não eram suficientes, Lino Maia acrescenta: “digo com verdade e não é ficção, ele é mesmo, de facto, um ícone da solidariedade social cristã”.

De coração aberto, Manuel de Lemos, presidente da UMP, não se coibiu de elogiar a amizade que o une a Arlindo Maia. “Ainda comecei a escrever um discurso onde até brincava com a sua gravata amarela, mas desisti e optei por deixar falar o coração”. Para o presidente da UMP, Arlindo Maia transmite alegria de viver, fazer e sonhar. “Um homem que faz tudo bem, até o mais difícil. Fez o mais difícil que era encontrar um sucessor e até isso fez bem”.

Com voz embargada pela emoção, Arlindo Maia expressou-se mais com os gestos. Com o seu jeito muito próprio, passando as mãos pela cabeça, atirou um “temos de os picar”. Antes disso, não se esqueceu de agradecer à família, e em particular à esposa, que com ele viveu estes 37 anos de forma intensa. Incapaz de encarar um projeto como finalizado, lembrou que “é necessário fazer mais, mas nem sempre é possível”.

A data foi, ainda, assinalada com o lançamento do 2ª volume do livro “Santa Casa da Misericórdia de Vila do Conde: Um Legado – 1975/2015”, da autoria de António Amorim.

Voz das Misericórdias, Paulo Sérgio Gonçalves