O cortejo de oferendas da Misericórdia de Vimieiro, no Alentejo, encheu as ruas da vila de solidariedade e espírito de partilha

No interior do Alentejo, na vila do Vimieiro, concelho de Arraiolos, ainda se cumpre a tradição do cortejo de oferendas, que é, aliás, um dos pontos altos das festas anuais da Santa Casa da Misericórdia do Vimieiro.

“A Santa Casa esteve inativa naquele período do 25 de abril e as pessoas que na altura vieram para a primeira comissão administrativa pensaram em algo para conseguirem fundos, de modo a que a Misericórdia começasse a ter alguma atividade”, afirmou o provedor ao VM.

Tradicionalmente, os cortejos de oferendas, continuou Aurelino Ramalho, “eram feitos para arranjar ajudas para aplicar na área da saúde e a comissão administrativa, com os conhecimentos que tinham das Misericórdias, entendeu que o cortejo de oferendas seria um bom ponto de partida”.

E foi assim, já lá vão mais de 30 anos. “Começámos a fazer e nunca mais perdemos esta tradição que, ao longo dos anos, tem sofrido algumas alterações, nomeadamente no espírito de partilha que tem vindo a crescer.”

Esta solidariedade comprova-se a cada ano que passa. “Há sempre mais um carro de oferendas e hoje são cerca de 30 os que vão para a rua. E não são apenas pessoas daqui, temos amigos de outros lados que participam nesta partilha”, contou o provedor.

Partilha essa que teve lugar na tarde quente do dia 20 de julho e foi debaixo de um sol abrasador e já com o cheiro a frango assado no ar que, aos poucos, os participantes no cortejo, trouxeram à vila as suas oferendas em tratores ou em carrinhas com atrelados. O ponto de encontro era o pátio da Misericórdia, decorado a rigor para receber as festividades.

Contudo, enquanto o cortejo não ia para as ruas da vila alentejana e se preparavam os últimos pormenores, os participantes trocavam ideias uns com os outros e aproveitavam ainda as sombras das árvores para se refugiarem do calor que se fazia sentir.

Entre conversas, Luís Gaudêncio, natural do Vimieiro, destacou a tradição. “Espero que se mantenha por muitos anos, este evento é também uma forma de aproximar a comunidade da Misericórdia”.

Já Policarpo Gomes, também natural da vila alentejana, referiu que o seu gesto, a oferta de um borrego, é para ajudar a Misericórdia. “Eu costumo oferecer algo todos os anos, pois acho que é muito importante saber partilhar”.

Segundo o provedor, “as pessoas têm orgulho em partilhar, não interessa o valor monetário, o importante é manter a partilha entre todos”.

Com a Fanfarra da Associação Humanitária dos Bombeiros de Estremoz a abrir caminho, iniciou-se o cortejo. Ao volante dos tratores e das carrinhas, os participantes mostravam as oferendas pelas ruas da vila, que se encontravam bem compostas de gente.

E não eram só os filhos da terra a marcar presença. Maria Oliveira, natural de Évora, já tinha ouvido falar do evento e este ano resolveu assistir. “Vim ver como é que isto se processava, não é muito comum ver este espírito de dádiva e o Vimieiro é um exemplo de entreajuda que deveria ser seguido por mais terras. Espero que esta tradição se mantenha e faço conta de vir mais vezes”.

Muitos não quiseram perder a oportunidade de testemunhar mais um ano de tradição e, ao longo do percurso, houve ainda lugar para algumas pessoas deixarem, junto da ambulância, a sua contribuição monetária.

Fardos de palha, bezerros, borregos, porcos, entre outros animais, foram algumas das ofertas que desfilaram ao som dos tambores e das trompetes. Finalizada a volta, participantes e população em geral foram para o pátio da Santa Casa, onde a festa continuou. Com as mesas postas, os frangos a rodar no espeto, os copos cheios e o conjunto musical em cima do palco, o “baile estava armado”.

Entretanto as ofertas que as pessoas deram à Misericórdia foram leiloadas. “Normalmente são as pessoas que oferecem que depois compram os próprios produtos”, realçou Aurelino Ramalho, referindo que este gesto visa apoiar a instituição.

O balanço feito pelo provedor é muito positivo. “Foi qualquer coisa de espetacular, ultrapassou as expectativas. A compra de uma carrinha para transporte de doentes era o objetivo e alcançámos verba para a entrada inicial”. Para este sucesso, Aurelino Ramalho destaca o esforço dos colaboradores e dos amigos da instituição. “Todos juntos, criamos este espírito que ainda existe nesta terra”.

Além do cortejo, o fim de semana ficou marcado pela entrada de novos irmãos na Santa Casa e pela assinatura do contrato para requalificação do lar de idosos.

Voz das Misericórdias, Ana Machado