Para marcar o Dia do Pai, a Santa Casa da Misericórdia de Vouzela desafiou os filhos dos idosos do lar a enviarem cartas

“Feliz Dia do Pai!” terá sido a expressão mais usada e a que fez parte das cerca de duas dezenas de cartas que chegaram à caixa de correio especial montada na habitual sala de visitas e que, atualmente, não recebe ninguém.

Este marco do correio esteve uns dias ao serviço da correspondência especial que foi enviada pelos filhos dos utentes do Lar da Santa Casa da Misericórdia de Vouzela, que acolhe 58 utentes, 15 dos quais homens e, destes, nove têm filhos.

“Há utentes que não são pais, mas a instituição decidiu fazer um postal com uma mensagem a estes homens que de alguma forma foram pais de alguém ao longo da vida. Certamente, todos eles contribuíram para o crescimento de alguém”, defendeu a diretora técnica, Vera Milheiro.

Apesar da expressão generalizada de “feliz Dia do Pai” e da correspondência ser aberta num momento de convívio dos utentes, as cartas foram todas elas personalizadas e lidas individualmente por cada um dos pais ou com a ajuda de uma colaboradora do lar.

“Quando começámos a ler, individualmente, as cartas, porque alguns já têm algumas dificuldades, ficaram muito emotivos porque perceberam que não se tratava de uma carta para todos os pais, mas sim uma carta personalizada e que vinha dirigida a eles, dos seus filhos”, lembrou Vera Milheiro.

Os homens que não têm filhos e que receberam igualmente um postal personalizado, “perceberam que não foi um filho a entregar, mas entenderam que receberam uma mensagem de carinho e de reconhecimento por, de certa forma, terem sido importantes na vida de alguém” e essas missivas saíram da própria instituição, que personalizou postais com mensagens para lhes serem entregues.

“O importante é proporcionar um bem-estar emocional, é fazer sentir que são amados, que não são esquecidos, porque efetivamente nós, neste momento, somos a sua família, mas têm uma família lá fora que também não os esquece e que deseja abraçá-los assim que possível, porque por mais que falem com eles, também sentem a ausência do toque, do carinho, que é tão importante”, reconheceu Vera Milheiro.

E foram estas emoções, provocadas pelas cartas, que estiveram na origem da ideia para “dar conforto emocional que faz tanta falta nestes tempos de pandemia” e para que “saibam que apesar de não receberem as visitas dos filhos, porque não podem, não estão esquecidos e são muito amados”.

O desafio foi lançado com mais de um mês de antecedência aos filhos, que “abraçaram a ideia de imediato” porque como há alguns que vivem no estrangeiro precisavam de tempo para não escreverem sob pressão e enviarem as suas missivas.

“Foi uma forma de sentirem aqui alguma proximidade, que os familiares, neste caso os filhos, não se esquecem deles e de perceberem que eles sentem tanto a falta do abraço e do mimo como os pais”, considerou a diretora.

“Ficaram extremamente emocionados. Correu muito bem”, destacou Vera Milheiro que disse que este Dia do Pai “terá sido dos mais emotivos no lar”.

Como o primeiro confinamento, em março de 2020, aconteceu praticamente na altura do Dia do Pai, não foi nada organizado para festejar o dia, “receberam umas pequenas lembranças, um mimo para diferenciar o dia” 19 de março dos restantes.

Mas, na altura do Dia da Mãe, o primeiro domingo de maio, já organizaram uma surpresa, tanto às utentes como às colaboradoras do lar que estavam a trabalhar naquele dia e que ficaram “muito sensibilizadas e felizes com os vídeos que os filhos e filhas enviaram”.

Uma iniciativa que não evitou a surpresa neste Dia do Pai e que Vera Milheiro também acredita que não estragará a surpresa que poderá chegar no primeiro domingo de maio deste ano porque, “dependendo da situação pandémica que se estará a viver na altura, alguma coisa ser pensada e organizada” para assinalar o Dia da Mãe.

Voz das Misericórdias, Isabel Marques Nogueira